• Nenhum resultado encontrado

Instalações ampliadas da Escola Grito do Povo que cedeu lugar

Povo que cedeu lugar à creche Cantinho da Amizade

Foto 10 ─ Instalações atuais da EMEF Francisco Lacerda de Aguiar

De acordo com Andreatta, a partir de janeiro de 1984, quando a escola passa a ser incorporada à Rede Municipal de Ensino de Vitória, perdeu-se a administração pela comunidade além das características constitutivas da escola: “Naquele dia nós enterrávamos a filosofia da escola, o sonho de ter uma escola administrada pela comunidade, a partir de nossa realidade universal... Daí em diante, foram rasgados todos os papéis que contavam a história do GRITO DESTE POVO” (ANDREATTA, 1987, p. 94). Assim como a escola, a creche recebe outro nome, de Cantinho da Amizade passa a ser conhecida como CMEI da Amizade, no ano 1993.50

Apesar das agruras vivenciadas na construção das escolas e no enfraquecimento do Movimento Comunitário, na visão de Andreatta (1987), Dias (2001) contabiliza, na região, seis movimentos comunitários e 26 associações de classe, como a Mulheres Unidas de São Pedro (MUSP), os Idosos de Resistência, os Idosos de São Pedro I e do Centro de Treinamento. Esses novos espaços organizados taticamente referem-se a lugares praticados que operam um movimento que procura fugir às operações de poder que tentam controlar o espaço social (CERTEAU, 1994; JOSGRILBERG, 2005).

Na instituição partilhada, a presença das famílias e da comunidade é sempre indispensável na tomada das decisões e na constituição dos projetos educativos.51 O Plano de Ação de 2007 nos revela que “[...] sempre que solicitada a comunidade tem boa participação buscando alternativas para a melhoria da escola num todo”.

Esses aspectos da cultura ordinária da região, que possui um histórico de reivindicações, conquistas e solidariedade, influenciam tanto os alunos quanto a proposta pedagógica das instituições educativas locais. Em entrevista realizada no dia 25 de junho de 2007, com a diretora do CMEI da Amizade, podemos confirmar essas informações:

[...] o pai quando chegar tem prioridade no atendimento, porque é a na hora que ele está podendo vir [...]. Porque eu preciso desse pai sabendo o que acontece no espaço da escola, porque, na hora que eu pedir a colaboração dele, ele precisa saber por que ele está colaborando [...]. Nas nossas reuniões de pais, a gente tem que ter alguns cuidados até para fazer as reuniões por causa do espaço, porque eles participam, estão sempre juntos

50 Optamos por não revelar o nome da instituição pesquisada e manter como identificação parte do

nome original, valorizando a iniciativa dos moradores. A educadora que empresta seu nome ao CMEI nasceu em 21 de junho de 1911 e faleceu no dia 26 de agosto de 1985. Formou-se na Escola Normal D. Pedro II e foi professora alfabetizadora na cidade e no interior.

51 Os documentos do CMEI fazem menção a algumas pessoas que se destacaram pelo engajamento

na constituição dessa instituição. Algumas ainda trabalhavam no CMEI como professoras, merendeiras e ASGs no período desta pesquisa.

[...]. Então essa relação eu acho que pra família ela tem se mostrado fantástica [...]. Eu falo enquanto diretora porque é um retorno que você tem. E, querendo ou não, hoje, a nível de rede, a nível de sistema, esse CMEI tem uma boa visualização externa do trabalho que é desenvolvido aqui. Fazem parte da proposta pedagógica coordenada pela Secretaria Municipal de Esportes para a atual Grande São Pedro o trabalho com oficinas de dança, música e teatro, bem como com atividades esportivas, tanto em horário escolar como por meio de escolinhas. No momento, a Grande São Pedro conta com sete Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEFs) e cinco Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs).52

Com esta apresentação, compreendemos a necessidade de conhecer e valorizar a construção histórica, as experiências e os bens culturais de uma região tão peculiar, a fim de superar a inferioridade que lhe foi historicamente conferida. Apresenta-se como uma tática relevante para ampliar novas possibilidades de trabalho, visto que “[...] não se pode falar da região São Pedro, de sua ocupação e das melhorias que vem conquistando, sem relembrar a maneira como a população tem participado de todo o processo” (GURGEL; PESSALI, 2004, p. 103).

2.2 CARACTERIZAÇÃO DO CENTRO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL Para desvelar características da instituição no momento do projetopesquisa, em 2007, recorremos às questões da paisagem da pesquisa, de um contexto que existe há muito antes de nossa aproximação (CERTEAU, 1994). A análise da estrutura física da instituição é permeada pela compreensão de espaço delineado por Certeau (1994), formado por dinamicidade e mobilidade.

Certeau (1994) propõe uma distinção entre espaços e lugares, diferença que não implica uma oposição (JOSGRILBERG, 2005). Para o autor, o lugar é organizado por uma série de estratégias, manipulados por relações de poder. Remete à idéia de definição, de estaticidade, de ordenação e de estabilidade.

52 Referimo-nos às seguintes instituições: EMEF José Lemos de Miranda, EMEF Maria José Costa

Moraes, EMEF Tancredo de Almeida Neves, EMEF Eliane Rodrigues dos Santos, EMEF Francisco Lacerda de Aguiar, EMEF Neusa Nunes Gonçalves, EMEF Rita de Cássia de Oliveira; bem como aos CMEIs Anísio Spínola Teixeira, CMEI Georgina da Trindade Farias, CMEI Gilda de Athayde Ramos, CMEI Padre Giovanni Bartesaghi, CMEI Magnólia Dias Miranda, CMEI Zilmar Alves de Mello.

Com relação ao espaço, refere-se à idéia de mobilidade, um lugar praticado, “[...] animado pelo conjunto dos movimentos que aí se desdobram. Espaço é o efeito produzido pelas operações que o orientam” (CERTEAU, 1994, p. 202). Faz relação com os conceitos de Merleau-Ponty de espaço geométrico e espaço antropológico, onde o autor propõe uma relação da experiência com a existência no mundo, uma relação com o meio. “Deste ponto de vista existem tantos espaços quantas experiências espaciais distintas” (CERTEAU, 1994, p. 202).

À luz da análise do autor, os espaços foram identificados sinalizando o seu respectivo uso, as artes praticadas pelos sujeitos escolares da instituição. No entanto o próprio conceito de espaço permite uma mobilidade das ações dos praticantes escolares que escapa às regularidades que serão apresentadas de maneira geral nesta descrição, mas que se mostram necessárias para conhecermos os diferentes ambientes que compõem esta investigação.

Se analisarmos as ações cotidianas dessa instituição e, provavelmente, todas as outras, conseguiremos perceber, que apesar de as práticas serem organizadas em rotinas, elas nunca se repetem na sua forma, uma vez que são plurais, provisórias e dinâmicas, permeadas por redes de saberes e fazeres que não podem ser explicadas por relações lineares de causalidade (ALVES; OLIVEIRA, 2005).

A fim de perseguir um rigor flexível e sistemático, focalizando as diferentes esferas que compõem a rede de relações que permeiam as práticas da professora de Educação Física, também identificamos os sujeitos que partilharam essa investigação, delineando algumas características que se mostraram relevantes para a análise do objeto que estamos investigando.

2.2.1 A estrutura atual da instituição

O registro das mudanças, com relação à estrutura física e pessoal conquistadas pelos sujeitos dessa instituição, consiste num dado importante. De uma sala do movimento comunitário, ao antigo prédio da EMEF Francisco Lacerda de Aguiar, o CMEI da Amizade, atualmente, conta com uma estrutura previamente planejada para o trabalho com crianças pequenas. A mudança para as instalações atuais ocorreu em março de 2006 e teve sua inauguração festejada em outubro do mesmo ano, como revelam as Fotos 12 e 13.

Assim como Mayol (1996), recorremos à sociologia urbana do CMEI, ou seja, aos dados relativos ao espaço, bem como à análise socioetnográfica da vida cotidiana, que se refere às práticas dos sujeitos nos lugares delimitados pela pesquisa. Esse exercício consiste na tentativa de relacionar os espaços e a vida cotidiana do CMEI a fim de desvelar as maneiras de fazer, a atividade criadora dos praticantes da instituição.

Trata-se de uma estrutura privilegiada que, de acordo com a Planta Baixa do seu Projeto Arquitetônico, compreende aproximadamente 2.000m² sendo 1.378m² de área construída. Isso significa que a instituição reserva um amplo espaço livre de aproximadamente 600m² para as crianças e as profissionais, especialmente nos pátios.

Uma análise dessa construção permite perceber como foram planejados. Foi construído um bloco quadrangular de 108m² para a recepção e administração. Também três grandes blocos retangulares, cada um com aproximadamente 390m², para as salas, cozinhas, banheiros entre outras dependências. Esses blocos são interligados por corredores espaçosos de 2m e meio de largura e 6m de comprimento. Além disso, nos pátios da instituição, que são todos pavimentados e sem cobertura, localizam-se, em pontos extremos, dois blocos circulares que dividem os banheiros externos. O Quadro 1 expõe com detalhes a estrutura física da instituição.

Foto 13 ─ Festa de inauguração do CMEI com a