• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 3 Enquadramento legal da produção distribuída

4.1 Perfil do consumo de energia

4.1.1 Instalações elétricas

As instalações elétricas tanto podem ser constituídas através de ligações monofásicas ou trifásicas, de acordo com a carga associada. Os sistemas de energia elétrica atualmente existentes funcionam, praticamente na totalidade, em corrente alternada (AC), cujo sentido varia no tempo. Contudo, existem casos especiais em que se utiliza corrente contínua (DC), nos quais o sentido permanece constante ao longo do tempo. Enquanto a fonte de corrente contínua é constituída pelos polos positivo e negativo, a da corrente alternada é composta por três fases e pelo neutro.

A forma de onda usual em corrente alternada é sinusoidal, por constituir uma transmissão de energia mais eficiente, com uma frequência angular, 𝜔 [rad/s]:

𝜔 = 2𝜋𝑓

(4.1)

Onde a frequência, 𝑓 [Hz], representa a grandeza física que indica o número de ciclos por segundo. Define-se por valor eficaz de uma função, a capacidade de produção de trabalho efetivo de uma grandeza variável no tempo. Uma vez que um sinal sinusoidal de tensão e corrente alternada está sempre a variar no tempo, o valor eficaz traduz-se numa referência matemática que corresponde a uma tensão ou corrente contínua constante que produz o mesmo efeito de dissipação de potência para uma dada resistência.

Fig. 43 - Sistema monofásico (Paiva 2011).

Num sistema monofásico de corrente alternada (Fig. 43), os valores instantâneos da tensão e da corrente, 𝑣 [V] e 𝑖 [A], respetivamente, dependem dos respetivos valores eficazes, 𝑉 [V] e 𝐼 [A], numa forma de onda sinusoidal:

𝑣 = √2 𝑉 sin 𝜔𝑡

(4.2)

𝑖 = √2 𝐼 sin(𝜔𝑡 − 𝜑)

(4.3)

Onde 𝜑 corresponde ao ângulo de desfasagem entre a tensão e a corrente e varia entre −𝜋/2 e +𝜋/2, correspondendo a uma carga capacitiva pura e a uma carga indutiva pura, respetivamente.

A potência instantânea, 𝑝 [W], transferida do gerador para a carga corresponde ao produto entre a tensão e a corrente.

𝑝 = 𝑣𝑖

⇔ 𝑝 = 2𝑉𝐼 sin 𝜔𝑡 sin(𝜔𝑡 − 𝜑)

⇔ 𝑝 = 𝑉𝐼 cos 𝜑 − 𝑉𝐼 cos(2𝜔𝑡 − 𝜑)

(4.4)

Estas grandezas elétricas encontram-se representadas na Fig. 44.

Fig. 44 - Tensão, corrente e potência num sistema monofásico (Paiva 2011).

A potência elétrica divide-se em três componentes: potência ativa, 𝑃 [W], potência reativa, 𝑄 [VAr] e a potência aparente, 𝑆 [VA].

A potência ativa consiste no valor médio da potência instantânea, correspondendo à potência que é efetivamente transferida para a carga.

A potência reativa é o valor máximo da componente da potência que oscila entre o gerador e a carga, cujo valor médio é nulo, resultante da variação da energia magnética ou elétrica armazenada nos elementos indutivos ou capacitivos, respetivamente, da impedância da carga. Se a potência reativa for positiva, a carga é indutiva, ou seja, absorve potência reativa, se for negativa, trata-se de uma carga capacitiva, que gera potência reativa. Se a potência reativa for nula, trata-se de uma carga resistiva (Paiva 2011).

A potência aparente consiste no produto dos módulos da tensão e da corrente, sendo também o módulo da potência complexa, que por sua vez é definida pelo produto do fasor tensão pelo conjugado do fasor corrente. A potência complexa é uma grandeza complexa cuja parte real é a potência ativa e a parte imaginária é a potência reativa.

A impedância da carga, 𝑍 [Ω], também consiste numa grandeza complexa que se relaciona com a tensão e a corrente através da expressão entre fasores:

𝑉̅ = 𝑍̅𝐼̅

(4.5)

Através do auxílio do triângulo de potência (Fig. 45) definem-se então as três componentes da potência elétrica.

Fig. 45 - Triângulo de potências (CATEDU).

O fator de potência, 𝑐𝑜𝑠 𝜑, representa a fração da potência elétrica que é transformada em trabalho. Para um sistema monofásico, as componentes da potência elétrica descrevem-se através das seguintes equações:

𝑃 = 𝑉𝐼 𝑐𝑜𝑠 𝜑

(4.6)

𝑄 = 𝑉𝐼 sin 𝜑

(4.7)

𝑆 = 𝑉𝐼 = √𝑃

2

+ 𝑄

2

(4.8)

A potência instantânea monofásica descrita na equação, pode reescrever-se:

𝑝 = 𝑃(1 − cos 𝜔𝑡) − 𝑄 sin 2𝜔𝑡

(4.9)

Um sistema trifásico, pode ser entendido como um conjunto de três fontes monofásicas, produzindo três forças eletromotrizes, iguais em módulo e desfasadas em ±2𝜋/3 (±120°), sendo as três fases designadas por a, b e c, e o neutro é indicado por N (Fig. 46).

Existem dois métodos comuns de interligar as fases num sistema trifásico, as ligações em estrela e as ligações em triângulo. Na ligação em estrela a tensão aplicada a cada impedância da carga é a tensão fase-neutro. Na ligação e triângulo, a impedância da carga está sujeita à tensão entre fases.

Cada uma das impedâncias é designada por fase da carga, que se forem iguais trata-se de um sistema equilibrado, caso contrário o sistema é desequilibrado. Referem-se neste segmento os sistemas trifásicos equilibrados.

Fig. 46 - Forças eletromotrizes de um sistema trifásico: (a) variação no tempo (b) diagrama de fasores (Paiva 2011).

As tensões alternadas sinusoidais descrevem-se:

𝑣

𝑎

= √2 𝑉 sin 𝜔𝑡

(4.10)

𝑣

𝑏

= √2 𝑉 sin(𝜔𝑡 − 2𝜋/3 )

(4.11)

𝑣

𝑐

= √2 𝑉 sin(𝜔𝑡 + 2𝜋/3 )

(4.12)

As correntes nas três fases são:

𝑖

𝑎

= √2 𝑉 sin(𝜔𝑡 − 𝜑)

(4.13)

𝑖

𝑏

= √2 𝑉 sin(𝜔𝑡 − 2𝜋/3 − 𝜑 )

(4.14)

𝑖

𝑐

= √2 𝑉 sin(𝜔𝑡 + 2𝜋/3 − 𝜑 )

(4.15)

Na ligação em estrela, cada fase da carga é ligada a cada fase da fonte, conforme representado na Fig. 47.

Fig. 47 - Sistema trifásico ligado em estrela (Resende & Labrique).

Neste tipo de ligação, a tensão em cada fase da carga encontra-se ligada à tensão em cada fase do gerador, designando-se por tensões simples ou fase-neutro. As tensões entre os terminais do gerador, são denominadas por tensões entre fases ou tensões compostas, cujos fasores se representam na Fig. 48

Fig. 48 - Fasores de tensão simples e composta num sistema trifásico simétrico (Paiva 2011).

𝑉̅

𝑎𝑏

= 𝑉̅

𝑎

− 𝑉̅

𝑏

(4.16)

𝑉̅

𝑏𝑐

= 𝑉̅

𝑏

− 𝑉̅

𝑐

(4.17)

𝑉̅

𝑐𝑎

= 𝑉̅

𝑐

− 𝑉̅

𝑎

(4.18)

O valor eficaz das tensões compostas representa a tensão na linha:

𝑉

𝐿

= 𝑉

𝑎𝑏

= 𝑉

𝑏𝑐

= 𝑉

𝑐𝑎

= √3𝑉

(4.19)

Num sistema equilibrado, a corrente no condutor neutro que corresponde à soma das correntes

nas três fases é nulo.

A corrente na linha de transmissão é igual à corrente nas fases da carga.

Na ligação em triângulo, as três cargas monofásicas ligam-se entre si. Para alimentar esta carga, liga-se cada um dos condutores da fonte de tensão trifásica aos vértices do triângulo formado pela carga, conforme representado na Fig. 49. Neste tipo de ligação o condutor neutro permanece desligado.

Fig. 49 - Sistema trifásico ligado em triângulo (Resende & Labrique).

Neste tipo de ligação, 𝑉𝑎𝑏, 𝑉𝑏𝑐 e 𝑉𝑐𝑎 correspondem às tensões de fase da carga, pelo que o valor eficaz

da tensão de linha:

𝑈

𝐿

= 𝑈

(4.21)

Por sua vez, as correntes de fase na carga são diferentes das correntes de linha e podem ser calculadas por:

𝐼̅

𝑎𝑏

= 𝐼̅

𝑎

− 𝐼̅

𝑏

(4.22)

𝐼̅

𝑏𝑐

= 𝐼̅

𝑏

− 𝐼̅

𝑐

(4.23)

𝐼̅

𝑐𝑎

= 𝐼̅

𝑐

− 𝐼̅

𝑎

(4.24)

A relação entre os módulos da linha e da fase pode ser determinada da mesma forma que as tensões de linha e de fase na ligação estrela, obtendo-se:

𝐼

𝐿

= √3𝐼

(4.25)

Num sistema trifásico, a potência instantânea transferida do gerador para a carga é igual ao triplo da potência ativa por fase:

𝑝 = 𝑣

𝑎

𝑖

𝑎

+ 𝑣

𝑏

𝑖

𝑏

+ 𝑣

𝑐

𝑖

𝑐

⇔ 𝑝 = 3𝑉𝐼 𝑐𝑜𝑠 𝜑

(4.27) (4.26)

A componentes da potência elétrica regem-se pelas seguintes equações:

𝑄 = √3 𝑉

𝐿

𝐼

𝐿

sin 𝜑

(4.29)

𝑆 = √3 𝑉

𝐿

𝐼

𝐿

= √𝑃

2

+ 𝑄

2

(4.30)