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Instituições Federais de Ensino Superior (IFES)

2.2 GESTÃO DE PESSOAS NAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE

2.2.1 Instituições Federais de Ensino Superior (IFES)

Chauí (2003) traz um conjunto de ideias que definem a universidade como uma instituição social com autonomia do saber em relação à religião e ao Estado. Critica a transformação das universidades em organizações sociais, ocorrida durante a reforma do Estado brasileiro, alegando que a educação, ao invés de um direito, transformou-se em um serviço, e que serviços podem ser privatizados ou prestados pela iniciativa privada. Explica que a instituição teria a sociedade como sua referência, já a organização tem a si mesma, em um processo de competição com as demais, no mundo onde só sobreviverão as que tiverem maior capacidade de se adaptarem às contínuas e ao mesmo tempo inesperadas mudanças no ambiente externo. Como uma das consequências dessa universidade tratada como organização social, Chauí (2003) traz a rotatividade dos servidores, guiados, hoje mais fortemente, pela dinâmica imposta pelo mercado: competição, concorrência e maior acúmulo de capital.

Assim, antes de explorar o universo conceitual e legal relativo às instituições federais de ensino superior, vale recordar que a presente pesquisa considera a perspectiva instrumental de universidade, ou seja, referente a uma organização que está baseada na concepção de trabalho

“como instrumento de competição social e numa concepção da natureza como uma ordem mecânica, sujeita a leis manipuláveis pelo homem” (RAMOS, 2009, p. 117). Apesar disso, não perde de vista a ideia de que a universidade precisa atuar na sociedade como uma instituição social, na medida em que existe para a sociedade e pela a sociedade, fator que vem ao encontro da exposição feita no capítulo 1 - Introdução, quando foi exposta a ânsia da sociedade pela eficácia das instituições públicas, considerando que o objeto de estudo é uma IFES.

As primeiras instituições universitárias foram criadas no país por Dom João VI, a partir de 1808, com a vinda da família real para o Brasil: “a Escola de Cirurgia da Bahia (atual UFBA) e a Escola de Anatomia, Cirurgia e Medicina (atual UFRJ)”. (COLOMBO, 2013, p. 19). Nesse contexto,

as universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano, que se caracterizam por: I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e nacional; II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado; III - um terço do corpo docente em regime de tempo integral (BRASIL, 1996, art. 52).

Ao considerar as atividades básicas das instituições de ensino superior (IES), Grillo (2001) menciona enfaticamente as de ensino e pesquisa. Além delas, encontra-se a de extensão, que também precisa ser considerada como área fim, em decorrência da Lei Federal nº 9.394 de 20/12/1996 (BRASIL, 1996), que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, a qual expõe como uma das finalidades da educação superior “promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.” (BRASIL, 1996, art. 43).

Ao longo de sua história, as instituições universitárias tiveram influência da Igreja, do Estado e hoje é a própria sociedade quem mais determina o modo como as universidades relacionam-se com ela, o que explica o fato de que “[...] a educação superior e suas instituições de ensino se caracterizam, sobretudo, por serem complexas e

diversificadas, vivendo em uma espécie de ‘crise permanente’, refletindo um mundo de oportunidades sempre presentes.” (COLOMBO, 2013, p. 11).

Por meio da ilustração de Pickler (2014), Figura 1 - Educação religiosa, militar, regular, profissional e corporativa no Brasil -, a seguir, pode-se observar como está estruturada a educação superior do país.

Figura 1 - Educação religiosa, militar, regular, profissional e corporativa no Brasil

Fonte: Pickler e Rocha (2011 apud PICKLER, 2014).

Pode ser percebido na Figura 1 - Educação religiosa, militar, regular, profissional e corporativa no Brasil -, e como é definido pelo Governo Federal, que “as instituições de ensino superior (IES) brasileiras podem ser públicas ou privadas. As instituições públicas de

ensino são aquelas mantidas pelo poder público, na forma (1) federal, (2) estadual ou (3) municipal. Essas instituições são financiadas pelo Estado, e não cobram matrícula ou mensalidade.” (MRE, 2015, [s.p]). “No que diz respeito à classificação acadêmico-administrativa, as IES podem receber diferentes denominações”: universidade, centro universitário, faculdade, instituto federal (MRE, 2015, [s.p]).

Santos (SANTOS; ALMEIDA FILHO, 2008) traz uma abordagem sobre as crises da universidade pública (de hegemonia, de legitimidade e institucional) e um panorama do que seria a chamada nova universidade. Explica que a crise de hegemonia refere-se ao fato de que, se antes a universidade pública era a única ofertante de educação superior, agora compartilha com outros tipos de instituições essa missão. A crise de legitimidade, segundo ele, trata da dualidade entre ofertar à sociedade o ensino a uma minoria privilegiada ou democratizar o saber. Já, a crise institucional está pautada na contradição da universidade pública ver-se como uma instituição social, onde a educação é um direito dos cidadãos, mas se comportar como uma organização social, onde a educação é um serviço prestado à sociedade.

As universidades brasileiras são bastante jovens em termos mundiais e carregam a enorme responsabilidade de contribuir para a formação de cidadãos que ajudarão a construir um país mais desenvolvido, justo e democrático, mas, para que isso possa acontecer, é necessário que a formação verdadeiramente de qualidade seja democratizada (COLOMBO, 2013, p. 41).

Dentro de todo esse contexto descrito, a organização estudada nesta pesquisa caracteriza-se como uma Instituição Federal de Ensino Superior (IFES), do tipo instituto federal, que

[...] são instituições de educação superior, básica e profissional, pluricurriculares e multicampi, especializados na oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino, com base na conjugação de conhecimentos técnicos e tecnológicos com as suas práticas pedagógicas, nos termos desta Lei. § 1º Para efeito da incidência das disposições que regem a regulação, avaliação e supervisão das instituições e dos cursos de educação superior, os

Institutos Federais são equiparados às universidades federais. § 2º No âmbito de sua atuação, os Institutos Federais exercerão o papel de instituições acreditadoras e certificadoras de competências profissionais. § 3º Os Institutos Federais terão autonomia para criar e extinguir cursos, nos limites de sua área de atuação territorial, bem como para registrar diplomas dos cursos por eles oferecidos, mediante autorização do seu Conselho Superior, aplicando-se, no caso da oferta de cursos a distância, a legislação específica (BRASIL, 2008, art. 2º).

O Estado de Santa Catarina possui dois Institutos Federais, o Catarinense (IFC) e o de Santa Catarina (IFSC). O presente estudo refere-se ao IFSC, sobre o qual é explanado mais detalhadamente no item 4.1 – Contextualização da Unidade de Estudo desta pesquisa.

O tópico, a seguir, trata de especificidades da gestão de pessoas nas IFES e perseguindo o alinhamento do tema ao contexto dos institutos federais.