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Capítulo II – O Conselho Penitenciário da Bahia

1. Início do Conselho Penitenciário da Bahia

2.3 O primeiro ano da “fase” Carlos Ribeiro no Conselho Penitenciário da Bahia

2.3.2 O Instituto de Criminologia da Bahia

O Decreto que regulamentou o Instituto de Criminologia da Bahia, o 9.591 de 13 de junho de 1935, foi enviado ao Secretário de Polícia (Capitão João Feijó), para as providencias de aprovação, com o parecer do conselheiro Alfredo Amorim. O art. 1 descreve o Instituto como:

um serviço de Clínica Criminal, destinado aos estudos das questões de etiologia, heredologia, estatística, pathologia, somatologia, endocrinologia, psicologia, geographia, therapeutica e prophylaxia criminal, orientação profissional e higiene carcerária

Essa estrutura era pleiteada havia muitos anos pelos teóricos das áreas médica e jurídica que trabalhavam com o tema. A mídia local considerou esse novo instituto como um avanço para a contenção da criminalidade, na medida em que auxiliaria a perceber as causas do crime e formas de “tratamento” dos criminosos. O alto número de matérias nos jornais da época demonstram o apoio da mídia. O jornal A Tarde, de 27 de março de 1935, descreveu:

É a noticia mais alviçareira que eu poderia vos fornecer. Está resgada á visada desse Conselho um novo horizonte de Desdobramento da Penitenciária do Estado, o “Instituto”, órgão autônomo, nas relações techinicas e, preponderantemente, medico-pedagógico e analytico, elle será o melhor bebedouro scientifico do Conselho, na avaliação, na psychometria dos “penitentes”, não só nos casos do livramento condicional, como nos de commutação e perdão de penas

O Instituto era um órgão autônomo, por pleito do Conselho Penitenciário, para que tivesse independência técnica e autonomia burocrática e administrativa. Dessa forma, entendiam os conselheiros, os trabalhos seriam desenvolvidos com mais isenção e confiabilidade.

O primeiro órgão com essa finalidade e composição foi o Instituto de Criminologia da Bahia, motivo de orgulho por parte dos conselheiros e outros teóricos da época. O jornal A Tarde de 27 de março de 1935 publicou:

Fructo da competência especialisada e das iniciativas do jovem professor João Mendonça, medico presional já abalisado, aquelle Insittituto assegura á Bahia posição de venguarda nas forças espirituaes da cultura, no prisma transcedente da sociologia criminal

O Presidente Carlos Ribeiro sempre procurou uma certa originalidade nas atividades criminológicas do Conselho. Incentivava a inovação e buscas de alternativas para melhorar o sistema penitenciário. Acreditava que as soluções não poderiam sempre vir de outros sistemas, mas serem pensadas no Brasil e, para satisfação dele, na Bahia. Dizia RIBEIRO (1936, p. 63): “Sejamos o padrão de nos mesmos. Como necessidade palpitante educativa, devemos seguir o rumo corajoso de pensar por conta própria. A timidês é das gentes servis. Intrepitos, no espírito, são os povos creadores”.

Para a direção do Instituto, os conselheiros indicaram o nome do professor João Mendonça, médico, considerado “brilhante figura da criminologia brasileira” (O Estado da Bahia, 30/08/35). O novo órgão para estudo da criminologia seria responsável, além de “classificar” os criminosos e fornecer informações ao Conselho Penitenciário, de publicar as Revistas de criminologia, psiquiatria e medicina social, constituindo-se num centro de discussões e elaborações teóricas.

Apesar de toda a expectativa com relação ao Instituto, este foi criado sem as condições mínimas para cumprir o objetivo que se lhe atribuíra: contiruir um laboratório onde os condenados fossem “estudados” e classificados e os conselheiros tivessem informações “científicas” sobre os requerentes. Carlos Ribeiro afirmava que dever-se-ia mudar a mentalidade penitenciária administrativa que não estava condizente aos fins do Instituto e, por isso, atrapalhava suas funções. Sugeriu a criação de uma Escola de Criminologia para que os funcionários da administração fossem instruídos sobre a matéria e pudessem colaborar com os trabalhos do Instituto.

Num relatório sobre a vida penitenciária bahiana em 1938, o diretor do Instituto, MENDONÇA (1938) afirmou:

o problema das vocações profissionais estão afeto ao Instituto de Criminologia que infelizmente não o pode encarar como os resultados almejados dada a inexistência de aparelhagem, não possuindo ainda nem sombra de um pequeno laboratório psicotécnico, ou, mesmo, o material mais simples e reduzido de um modesto gabinete bio-tipológico

O diretor reivindicava mais atenção para a parte médica do Instituto que era a que recebia menor verba. Segundo MENDONÇA (1938), “isto se constitui um flagrante atentado a evolução da ciência penalogica que caminha a fazer das Penitenciárias verdadeiros hospitais43, requerendo ao lado da pregação moral, a terapêutica, associando evangelho e hormônio”.

No ano de 1938, a criminologia era ainda fortemente amparada na medicina. Os juristas, inclusive, concordavam na necessidade do apoio médico para um adequado “tratamento” dos condenados. E era do Instituto de Criminologia que se esperava o amparo técnico necessário para que os juristas pudessem direcionar as ações em busca da “recuperação” dos criminosos.

Propor atividades para melhorar o funcionamento da penitenciária era objetivo também do Conselho, com o amparo do Instituto de Criminologia. Segundo RIBEIRO (1936, p. 50), “as prisões devem ser casas de vida e não habitações de invalidação e morte”.

Esse Instituto representou uma “esperança” no sentido de tornar a execução penal mais “científica” e, portanto, dotar os conselheiros de elementos suficientes para as decisões sobre os benefícios legais e funcionamento das penitenciárias.

Uma dessas funções específicas seria a de “classificar” os criminosos durante o cárcere para a aplicação da pena indeterminada. Segundo Carlos Ribeiro, não havia como analisar um condenado antes do seu período no cárcere, dessa forma, as penas determinadas eram um equívoco porque representavam, em muitos casos, penas exacerbadas ou insuficientes. Defendia uma pena condicional e uma possibilidade de “sobre pena” para os casos em que a pena determinada tivesse se mostrado insuficiente. Essa defesa de Carlos

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Um médico baiano que “sonhava” com a transformação das penitenciárias em manicômios e defendeu essa idéia na Faculdade de Medicina da Bahia, no final do século XIX, foi Domingos Guedes Cabral.

Ribeiro chegou a ser apresentada no projeto do Código Penal de 1940, mas não foi aprovada ao final.

Estácio de Lima era outro grande defensor da pena indeterminada. No entanto, ressaltava a ausência de instrumentos científicos para aplicá-la. Segundo LIMA (1935):

Pena indeterminada é, realmente, uma bela cousa. Bela, útil e necessária. Porém, dispondo-se de recursos outros que não os atuais nossos...Na Bahia mesmo, não estamos suficientemente aparelhados. O Instituto de Criminologia é apenas uma formosa esperança (...) Para entrar em vigor a pena indeterminada urge melhorarmos, incontinente, as possibilidades cientificas das nossas causas de punição

A expectativa com relação ao Instituto era francamente maior que a sua capacidade de execução, o que gerou uma ineficácia na execução de muitas das atividades previstas, mormente a de classificação e análise dos criminosos. O Instituto de Criminologia teria a capacidade técnica necessária para que o judiciário pudesse tomar as providências de sobre pena ou benefício legal de forma “científica”, o que era fundamental para os conselheiros que reconheciam a incapacidade dos juízes de avaliarem a periculosidade do condenado e o que chamavam de “grau de reabilitação”.

Apesar de não atender às expectativas iniciais, o Instituto permaneceu sendo uma importante referência e uma possibilidade de dotar os pareceres da tão almejada base cientifica.