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Ao assumir a interventoria, uma das principais preocupações do novo interventor foi a instrução pública. Na Paraíba, a instrução pública, herdeira de uma tradição clientelista, era orçada de acordo com os interesses das elites políticas e organizada de modo a prestigiar o poder local.

Sendo dividida em instrução elementar e instrução complementar135, compreendia

uma limitada rede de ensino que, apesar de gratuito, era taxado em suas seções burocráticas. Historicamente, a instrução foi colocada no plano mais elementar das realizações do executivo estadual, visto que poucos foram os incentivos e as dotações a ela destinada, e poucos foram também os efetivos esforços, no sentido de sua completa reestruturação. Somente a partir de 1916, a instrução pública da Paraíba experimentou as

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De acordo com o Decreto nº 873, de 21 de dezembro de 1917, o ensino primário na Paraíba deveria ser leigo e gratuito, dividindo-se em: a) ensino elementar, composto por escolas isoladas rudimentares, fundadas em localidades rurais, e escolas isoladas elementares, criadas nos centros urbanos e povoados; b) escolas reunidas, fundadas nas cidades onde houvesse duas escolas isoladas; c) grupos escolares, criados em cidades onde houvesse três escolas isoladas; mistas ou divididas por sexo; e ensino complementar, criado para complementar a instrução dos alunos já aprovados no exame primário cuja finalidade era a de qualificá-los para as necessidades da vida prática. Nas escolas complementares eram ensinadas noções de agricultura, apicultura e sericultura, língua materna, aritimétrica comercial, datilografia, zootecnia, artes manuais e industriais usuais e economia doméstica. Cf: PARAHYBA (Estado). Actos dos poderes legislativo e executivo: collecção de leis e decretos de 1917. Cidade da Parahyba: Imprensa Official, 1917. pp. 179-201. Ver também: PARAHYBA (Estado). Actos dos poderes executivo e legislativo: leis e decretos de 1927. Cidade da Parahyba: Imprensa Official, 1928. pp. 138-150.

modificações do sistema educacional brasileiro, que saiu do modelo escolar de “cadeiras isoladas” para o modelo de “grupos escolares”.136

Ou seja, até então, o modelo escolar de ensino era fragmentado e livresco, reprodutor do pensamento elitista e ensinado em condições mínimas, garantindo a fundamentação da ignorância em favor do oligarquismo dos primeiros anos da República brasileira. A pouca disseminação da instrução secundária e superior formou uma massa de “desanalfabetizados” instruídos apenas para ler, escrever e contar.

Em meados da década de dez e início da década de vinte, o debate em torno da escola primária conduziu as reformas para uma integração ativa da escola com a sociedade, e o ensino primário foi pensado como etapa da formação sócio-cultural do indivíduo e não mais como instrução. A escola assumiu a postura de motor da história e condutora de novos padrões de ensino e cultura. Nos diferentes níveis de ensino, pela intervenção da União, foram criadas condições para que a escola fosse integrada ao meio social, político e cultural de modo a convergir para uma pedagogia de formação continuada.137

Essas modificações institucionais, no entanto, não significaram uma mudança na qualidade do ensino e, tampouco, uma reestruturação no modus operandi da educação pública do estado, uma vez que, desde o império,

A expansão da oferta de cadeiras isoladas foi fortemente influenciada pela organização, marcadamente oligárquica, da sociedade política paraibana, que se materializou mediante uma complexa teia de relações estabelecidas entre os poderes local, provincial/estadual e nacional e caracterizada pelo clientelismo que influenciou, sobremaneira, a instrução pública paraibana. 138

Em outras palavras, na República, ao longo da década de vinte, a passagem do modelo de organização escolar das cadeiras isoladas para o modelo dos grupos escolares, com a construção dos grandes prédios destinados ao funcionamento das escolas públicas, foi utilizada pela elite política paraibana com a finalidade de referenciar suas realizações e demonstrar seu prestígio e poder no contexto de urbanização e modernização das cidades.

Entende-se, portanto, que as escolas públicas passaram a ser utilizadas como veículo de propaganda política, também servindo para marcar o poder das oligarquias, cujos nomes seriam sempre lembrados, uma vez que os sutuosos prédios escolares, principalmente os dos grupos escolares, marcaram a nova feição urbana em pleno processo de mudança.139

136 Para um estudo mais aprofundado sobre essa transição na Paraíba ver: PINHEIRO, Antonio Carlos. Da era

das cadeiras isoladas à era dos grupos escolares na Paraíba. São Paulo: Autores Associados, 2002.

137 Cf. NAGLE, Jorge. Educação e sociedade na Primeira República. 2 ed. Rio de Janeiro: DP&A. 2001, pp. 131-183.

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Cf. PINHEIRO, 2002. Op. Cit., p. 28. 139 Ibidem, pp. 147-148.

Seguindo essa lógica comprometida, a instrução, no nosso Estado, foi tendenciosa. Os discursos de modernidade e progresso, associados ao desenvolvimento do sistema educacional da Paraíba, tenderam a perpetuar a ação política dos grupos do poder. Nesse sentido, a construção e a expansão do aparato educacional paraibano, antes de 1930, foram estruturadas na base de um “civismo oligárquico”. A construção de prédios escolares, a ampliação da rede de ensino, a contratação de professores e os incentivos educacionais, por mais que estivessem regulamentados na legislação brasileira, foram tendenciosamente implementados de acordo com os interesses das classes dirigentes do nosso Estado. Forjou- se uma instrução elitista e concentrada, quase que totalmente, nas grandes cidades (quadro III), e a expansão do sistema educacional da Paraíba ficou, pois, atrelado ao jogo político da Primeira República, ficando o funcionamento das escolas ligado à benevolência do chefe local, que contratava professores, e colocava-as em funcionamento.

QUADRO III – ESTABELECIMENTOS DE ENSINO NA PARAÍBA (1928-1930)