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3 CONTANDO UM POUCO DA HISTÓRIA DO ESPÍRITO SANTO E DE

4.2 INSTRUMENTAL QUANTITATIVO

A variação laboviana pressupõe formas diferentes de se falar a mesma coisa, ou seja, a alternância de uso entre duas formas linguisticamente, no aspecto estrutural, mas com têm o mesmo sentido, em linhas amplas. Sendo assim, uma variável pode ser binária, se houver duas variantes, ou enária quando houver mais que duas

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Cf. original: “After all, If a language has to be structured in order to function efficiently, how do people continue to talk while the language changes, that is, while it passes through periods of lessened systematicity?” (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 1968, p.100).

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Cf. original. Labov (1991)

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variantes (SCHERRE & NARO, 2007, p.147). Neste estudo, a variável dependente é binária, constituída por duas variantes: o uso do imperativo na forma associada ao indicativo e o uso do imperativo associada à forma subjuntiva.

i. “OLHA, eu acho, que a partir dos 12 de 11 em diante.” ii. “OLHE eu vou dizer uma coisa pra você”.

Partindo do pressuposto de que nenhuma variação é livre, sendo, portanto, condicionada, é preciso que se identifiquem os conjuntos de contextos sociais e linguísticos que tendem a favorecer ou desfavorecer o uso das variantes da variável dependente sob análise (SCHERRE & NARO, 2007). Nesta análise, considera-se que tanto fatores internos como externos à língua exercem pressão sobre a variação. Por isso estabelecemos neste estudo três grupos de fatores sociais e quatro grupos de fatores linguísticos para a codificação dos dados e sua posterior análise.

Como dito anteriormente na introdução deste trabalho, para tratar quantitativamente os dados, utilizamos o pacote Varbrul, aqui em especial a versão Goldvarb X (PINTZUK, 1988; SANKOFF, 1988; SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005; MOLLICA & BRAGA, 2003; TAGLIAMONTE; 2006; GUY & ZILLES, 2007). Esse programa é uma ferramenta estatística que pode ser utilizada para qualquer fenômeno variável, mas é preciso ressaltar que é uma ferramenta de auxílio, pois a maior responsabilidade em todo o processo de levantamento, codificação e interpretação dos resultados cabe ao pesquisador. Do ponto de vista da Teoria Sociolinguística, é o pesquisador que irá fazer a análise dos números apresentados pelo programa.

Para se usar uma ferramenta que extraia cálculos quantitativos, Sankoff (1988, p.01) diz que:

[...] a escolha entre duas (ou mais) alternativas discretas puder ser percebida como tendo sido feita durante o desempenho linguístico, e sempre que esta escolha puder ser influenciada por fatores tais como traços do ambiente fonológico, contexto sintático, função discursiva do enunciado, tópico, estilo, situação interacional ou características sociodemográficas ou pessoais do falante ou de outros participantes, estamos diante de uma situação apropriada para recorrer a noções e métodos estatísticos conhecidos pelos estudiosos de variação linguística como regras variáveis.

O Varbrul (Goldvarb X) é um programa que calcula as frequências e pesos relativos por meio dos vários cruzamentos entre os grupos de fatores, ou variáveis indepentendes, a fim de encontrar as variáveis com significância estatística.

Na codificação dos dados, cada fator de cada variável independente recebe um único código a fim de que o programa possa gerar as frequências absolutas e as frequências relativas em relação às variantes da variável dependente. Após a codificação, é feita a primeira análise dos dados, observando as frequências absolutas e as relativas. Nessa etapa, os resultados podem indicar os contextos invariantes, de fatores de efeito categóricos, se houver. Como esse instrumental apenas produz pesos relativos para fenômenos linguísticos variáveis, os fatores de contextos invariáveis devem ser eliminados ou amalgamados antes da etapa da análise quantitativa que calcula os pesos relativos dos fatores. Segundo Scherre & Naro (2007, p.152), “os dados que evidenciam real efeito categórico são, todavia, de fundamental importância para se ter uma visão de conjunto do fenômeno linguístico sob análise. Portanto, eles não são retirados da análise linguística”, são apenas retirados da análise quantitativa para que o programa possa gerar os pesos relativos. Assim, segundo os mesmos autores e todos os demais que escrevem sobre o Varbrul, a decisão de amalgamar ou eliminar os fatores de efeito categórico deve ser tomada com base em critérios linguísticos e estatísticos. De acordo com Guy & Zilles (2007, p.159), para eliminar ou amalgamar fatores de efeitos categóricos é preciso considerar a quantidade de dados, pois podem ser supostos contextos de efeito categórico, como nos casos representados por apenas um dado. O pesquisador deve ter em mente que, na análise quantitativa, “queremos combinar fatores que são linguisticamente ou socialmente semelhantes, ou que podem ser tratados como subtipos de uma supercategoria, e que ao mesmo tempo são semelhantes em termos quantitativos” (GUY & ZILLES, 2007, p.160). Na segunda etapa, os grupos de fatores são submetidos ao cálculo de pesos relativos.

O programa oferece um nível de significância (threshold), que no pacote de programas Varbrul é de 0,05, ou seja, há aproximadamente cinco chances em 100 de a hipótese nula ser inadequadamente rejeitada. A hipótese nula “é a de que nenhum dos fatores examinados exerce qualquer efeito sistemático no processo de escolha” (SANKOFF,1988, p.8). Ou seja, há de fato efeitos reais no processo de

escolha entre as variantes, então a hipótese nula deve ser refutada. Diversos cruzamentos são feitos automaticamente pelo Varbrul a fim de refutar ou não a hipótese nula.

O likelihood é a medida de ajuste entre o modelo e os dados, denominada logaritmo da função de verossimilhança, que é computada para cada rodada. (GUY, 2007, p.44). O programa trabalha com o método step up em que um grupo de fatores mais importante é escolhido e o compara com os demais grupos, um a um, e seleciona um segundo grupo, se houver significância estatística e faz novamente a comparação entre os dois grupos selecionados e os grupos restantes. Efetua este procedimento até que não reste nenhum grupo de fatores estatisticamente significativo. Para tirar todas as dúvidas, o programa trabalha com o processo inverso, ou seja, atribui “pesos relativos a todos os fatores de todas as variáveis independentes num só nível de análise” (SCHERRE & NARO, 2007, p.165), e retira um a um todos os grupos para o teste inverso ou complementar. Esse processo é denominado step down, cujo objetivo é verificar se as variáveis efetivamente selecionadas não foram eliminadas, se todas as variáveis não selecionadas foram eliminadas e se há variáveis que não são nem selecionadas nem eliminadas (SANKOFF, 1988, p.991). O conjunto dos pesos relativos mais significativo estaticamente, aquele nível em que se encontram todas e apenas as variáveis consideradas significativas, é o que vai prioritariamente compor a apresentação visual dos resultados, por meio de gráficos e/ou tabelas.

Esse instrumental estatístico, o pacote de programas GoldvarbX, é uma poderosa ferramenta que possibilita ao pesquisador sintetizar, quantificar, manipular, recodificar grupos de fatores. Contudo, é importante frisar que “devemos ter sempre em mente que a estatística é apenas uma ferramenta que nos auxilia se formos bons cientistas; de outra forma, ela nos fornecerá números sem qualquer significado” (SCHERRE & NARO, 2007, p.153).

Assim, pontuamos, novamente, que os números são apenas números, como diz Guy (2007), é o olhar do pesquisador que irá direcionar a pesquisa, desde a escolha da variável dependente, os grupos de fatores que serão controlados e a análise dos resultados, mesmo aqueles que o instrumental quantitativo não seleciona como

significativo, pois apenas o pesquisador é capaz de observar e entender o efeito de um determinado fator na vida real.

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