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CAPÍTULO III O caminho percorrido

3.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

Considerando que a pesquisa pretende investigar opiniões e atitudes dos(as) professores e professoras, optamos pelo questionário anônimo (APÊNDICE 1) como instrumento de coleta de dados pelo fato de trabalharmos com um tema polêmico que possivelmente poderia gerar constrangimentos aos pesquisados no momento da exposição de valores muitas vezes fundamentados em preconceitos. Esse fato poderia ser minimizado pelo anonimato propiciado pelo questionário, pois conforme indica Richardson (1999 p. 205) “no caso do questionário anônimo (que não inclui o nome do entrevistado) as pessoas podem sentir-se com maior liberdade para expressar suas opiniões.” Como forma de garantir o anonimato os questionários receberam uma numeração, que será utilizada na análise destes.

A literatura mostra que vários trabalhos se valem do questionário como instrumento de coleta de dados, como por exemplo os de Berger e Hutz (1998), Forastieri (2004), Madureira (2007) e Lima (2006). Para elaboração do nosso instrumento de coleta, tomamos como base o questionário utilizado por Forastieri (2004) na sua pesquisa sobre as “Concepções de

Professores de Biologia do Ensino médio público estadual de Salvador sobre a variedade das orientações sexuais”.

Após a análise e adaptação do questionário a nossa realidade, o mesmo foi submetido a avaliação de dois grupos de professores – um de professores de Ciências que não participam do Programa “Horas de Estudo”, e outro de professores de Português, que participam do referido programa - com o propósito de verificar coerência e clareza das perguntas bem como as dificuldades que poderiam apresentar as respostas. Como indica Gil (2007) essa fase tem por finalidade “evidenciar possíveis falhas na redação do questionário, tais como: complexidade das questões, imprecisão na redação, desnecessidade das questões, constrangimento ao informante, exaustão etc” (p.137).

Como resultado da validação, foi possível verificar que:

a. Os professores de Ciências demoraram aproximadamente 20 minutos para responder o questionário e fizeram observações e sugestões de mudanças no texto, como por exemplo, que fosse deixado um espaço onde os professores pudessem fazer comentários e indicando a necessidade de mudar respostas objetivas que estavam pouco claras.

b. Os professores de Português demoraram aproximadamente 40 minutos, pois discutiram entre eles diversos pontos relativos à clareza das questões. Deram sugestões de mudanças de como poderiam ficar alguns enunciados de questões objetivas, para que fossem melhor compreendidos e propuseram mudanças na ordem de duas questões.

As sugestões foram acatadas, e o questionário modificado, ficou em sua versão final organizada em duas partes: uma inicial que levantava os dados gerais e profissionais dos professores visando a caracterização do grupo estudado, e uma segunda parte, na qual se encontram as questões que enfocam os objetivos do trabalho. (Apêndice 1).

A segunda parte está dividida em quatro etapas:

A Etapa 1 é composta por quatro questões fechadas que junto a parte 1, buscou caracterizar a comunidade pesquisada. Dessa forma, teve como preocupação averiguar se os professores e professoras receberam alguma formação sobre o tema homossexualidade, se têm

dificuldades em lidar com o tema em sala de aula, bem como pretende identificar os veículos pelos quais esses professores e professoras recebem mais informação sobre o assunto.

A Etapa 2, composta por três questões abertas, descreve situações que têm relação com a sala de aula e visa verificar como professores e professoras concebem a homossexualidade e se estes identificam no âmbito escolar, atitudes discriminatórias contra alunos e alunas que são tachados como homossexuais. Também procura identificar a atitude que eles teriam frente à agressão contra um(a) aluno(a) que é rotulado como homossexual.

A Etapa 3 é formada por duas questões de escolha com 24 descritores cada uma, na qual os educadores devem assinalar os itens que melhor respondem à questão proposta. Descritores são palavras utilizadas para representar um conceito. Nessa etapa, os professores devem fazer uma livre associação de idéias entre os descritores e a homossexualidade. Dessa forma, os professores poderiam associar rapidamente as palavras que consideraram pertinentes para cada questão. Esse tipo de pergunta, como indica Richardson (1999), é adequada para identificar opiniões, porém não para aprofundá-las. Nessa etapa, procuramos identificar as concepções dos educadores e educadoras sobre a homossexualidade, como forma de identificar como professores e professoras vêem o tema.

A Etapa 4 é composta por três questões. A primeira visa verificar a compreensão que têm a respeito da homossexualidade. Para tanto, foi elaborada sob o formato de escala. Essa forma de perguntar proporciona aos respondentes refletir para decidir qual o nível da escala melhor se ajusta ao seu pensamento sobre a questão proposta.

A segunda e terceira questões são subjetivas e têm por objetivo verificar se professores e professoras de Ciências acreditam ser possível identificar tendências homossexuais em alunos, bem como identificar se estes acreditam que a forma como o aluno homossexual é tratado na escola, pelo(a) professor (a), pode influenciar na saída desse aluno da escola (exclusão).

Esse questionário foi respondido pelos professores de Ciências presentes nas “Horas de Estudo”, no dia 10 de setembro de 2008. Estavam presentes um professor e nove professoras. Apenas uma professora se recusou a responder.

A análise dos questionários foi realizada de duas formas: a primeira longitudinal, questionário a questionário, como forma de perceber as coerências e contradições nas

respostas dos professores e a segunda transversal com o objetivo de identificar alternativas que fossem as mais assinaladas, para assim poder ter uma idéia de como esse grupo entende a homossexualidade.

Após identificação dos dados, estes foram organizados em categorias De acordo com Franco (2003 p. 51), a “categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação seguida de um reagrupamento baseado em analogias, a partir de critérios definidos”.

Essa autora indica dois caminhos possíveis para a elaboração das categorias de análise: as criadas a priori, nas quais as categorias e seus indicadores são predeterminados em função da procura de uma resposta específica do pesquisador; ou as categorias que não são definidas a priori, nas quais as categorias surgem das falas, do conteúdo das respostas.

Nesse trabalho optamos pelas categorias pré-definidas para encontrar respostas aos questionamentos específicos. Assim, foram organizadas em três categorias, a saber: I – Como vêem; II – O que pensam; III – Como agem.

Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara. (Ensaio sobre a cegueira, José Saramago, 2003)