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Instrumentos da pesquisa

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CAPÍTULO 2 – ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

2.3 Instrumentos da pesquisa

“Pesquisa é o caminho para se chegar à ciência, ao conhecimento. É na pesquisa que utilizaremos diferentes instrumentos para se chegar a uma resposta mais precisa” (BRITO JÚNIOR; FERES JÚNIOR, 2011, p. 238).

Portanto, a realização da pesquisa aconteceu por meio de questionário semiestruturado, entrevista semiestruturada e o círculo de cultura.

O questionário (apêndice E) foi utilizado com o objetivo de caracterizar o egresso, descobrirmos seu tempo de formação e atuação na escola. Esse questionário foi utilizado tanto no estudo piloto, quanto na pesquisa com os egressos em início de carreira.

As entrevistas foram realizadas de agosto de 2016 a janeiro de 2017, em dias e locais estabelecidos e/ou negociados com os professores. Os locais de entrevistas foram variados, aconteceram nas casas do professores localizadas em bairros próximos da residência da mestranda (Caxangá) ou mais distantes, os bairros onde aconteceram as entrevistas foram Caxangá, São Lourenço, Ibura, Candeias e Pau Amarelo; parte das entrevistas aconteceu na UFRPE e uma delas foi na estação rodoviária. O horário das entrevistas, assim como os locais, foram combinados com os professores de acordo com sua disponibilidade. Algumas

aconteceram pela manhã, outras à tarde e algumas à noite. As mesmas foram gravadas em áudio pelo aparelho celular, o tempo médio de gravação foi de 31 minutos. Posteriormente fizemos a transcrição dos áudios de forma manual, por meio da escuta dos áudios pelo notebook e digitação das falas no programa Microsoft Word 2007, o tempo de transcrição de cada entrevista variou entre duas a cinco horas.

No momento da entrevista aplicamos o questionário para caracterização, o qual foi preenchido e devolvido para a análise. Realizamos essas etapas no mesmo dia com a finalidade de aproveitar o encontro presencial com os professores, assim não foi preciso um novo encontro. O questionário foi do tipo semiestruturado, pois é o mais utilizado em pesquisas qualitativas, ele “diferencia-se do questionário estruturado por apresentar questões fechadas mescladas com abertas” (BRASILEIRO, 2013, p. 51). O autor afirma ainda que é recomendável aplicar o questionário antes para testá-lo e verificar se é preciso alterá-lo. Fizemos isso, pois inicialmente o aplicamos no estudo piloto. Ele serviu para caracterização dos atores sociais, eles preencheram sua idade, sexo, formação, tipos de escolas que lecionam e o tempo que exercem a docência.

Seguimos as orientações de Minayo (2007). Assim, fizemos uma apresentação rápida da pesquisa, mencionando nosso interesse e objetivos com a mesma e apresentamos aos professores o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (apêndice B), no qual é assegurado aos professores o anonimato e, ao mesmo tempo, é explicitada a importância de sua contribuição para o trabalho em pauta. Logo após, procedemos uma conversa inicial ou “aquecimento” para quebrar o gelo e aos poucos deixamos os professores mais à vontade para o início da entrevista propriamente dita.

Enquanto o questionário foi utilizado para a caracterização, a entrevista foi utilizada para obter respostas mais detalhadas sobre o início da carreira dos egressos docentes. Segundo Oliveira (2010), a entrevista é um dos instrumentos de pesquisa mais utilizados em pesquisa qualitativa. Segundo o autor, “a entrevista possibilita uma visão subjetiva dos participantes da pesquisa, o que pode fornecer material para variadas abordagens metodológicas” (Idem, p. 22).

Para a coleta de dados numa pesquisa, Boni e Quaresma (2005, p. 71) consideram três aspectos: levantamento bibliográfico, a observação e a entrevista. Através da entrevista os pesquisadores buscam obter informações, ou seja, coletar dados objetivos e subjetivos (Idem,

p. 72). As entrevistas foram do tipo semiestruturadas, pois combinaram perguntas abertas e fechadas, nas quais os informantes tiveram a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto.

De acordo com Fraser e Gondim (2004, p. 140),

A entrevista na pesquisa qualitativa, ao privilegiar a fala dos atores sociais, permite atingir um nível de compreensão da realidade humana que se torna acessível por meio de discursos, sendo apropriada para investigações cujo objetivo é conhecer como as pessoas percebem o mundo (p. 140).

Durante a entrevista dialogamos sobre o momento de transição entre ser estudante e se tornar professor, sobre o sentimento após os primeiros dias como docente, sobre os desafios do início da carreira, sobre a contribuição da formação inicial e da escola que recepcionou esse docente, sobre os desafios da área específica e além disso, os professores tiveram a oportunidade de propor sugestões e/ou estratégias para que os professores de Ciências e Biologia enfrentem menos problemas e/ou dificuldades no início da carreira.

Os objetivos da pesquisa e o estudo piloto nos nortearam na construção do roteiro de entrevista final (apêndice F), que seria aplicada aos egressos, de forma a privilegiar a fala dos professores em início de carreira. O roteiro de entrevista inicial (apêndice A), que foi aplicado no estudo piloto, foi modificado para detalhar melhor as informações: enquanto no primeiro haviam sete perguntas, o último foi composto por dez. As três perguntas adicionais englobaram a forma como os egressos foram recepcionados na escola, as vantagens de ser um professor iniciante e algo mais que eles quisessem acrescentar sobre o início de sua carreira As entrevistas foram audiogravadas, transcritas e analisadas à luz da análise de conteúdo, considerando as etapas propostas por Bardin (2002).

Após o encontro pessoal com os egressos e análise dos resultados do questionário e entrevistas, procedemos com a convocação dos mesmos para o encontro final, via e-mail, telefone e rede social. Marcamos uma data inicial e perguntamos sobre a disponibilidade dos mesmos em participar, como a maioria não poderia no dia 17 de janeiro pela manhã nós remarcamos o encontro para o dia seguinte, 18 de janeiro à tarde porque ao menos sete professores confirmaram a presença, porém no dia apenas quatro puderam comparecer. O círculo de cultura aconteceu no dia 18 de janeiro de 2017, na sala de seminários do Departamento de Educação da UFRPE, teve duração aproximada de duas horas. Estiveram presentes quatro professores iniciantes (Pi1, Pi2, Pi6 e Pi12), a mestranda e a orientadora da dissertação. Esse encontro final foi a promoção do círculo de cultura com os atores sociais, que é considerado uma espécie de roda de diálogo proposta por Paulo Freire, e que foi

utilizado também como forma de reconhecimento e agradecimento, pois sem os atores sociais a pesquisa não seria realizada

O objetivo da convocação, previamente avisada, foi o de proporcionar um encontro coletivo dos atores sociais para juntos vivenciarmos um círculo de cultura acerca dos desafios de professores de Ciências e Biologia, e, para tal, os professores receberam certificado de participação. Para Freire (2003, p. 155) os círculos de cultura são:

[...] espaços em que dialogicamente se ensinava e se aprendia. Em que se conhecia em lugar de se fazer transferência de conhecimento. Em que se produzia conhecimento em lugar da justaposição ou da superposição de conhecimento feitas pelo educador [...] Em que se construíam novas hipóteses de leitura do mundo. Segundo Araújo (2012, p. 145) esse espaço privilegiado favorece o encontro para troca, conhecimento, reconhecimento e superação, configurando-se, portanto, como espaço que potencializa mudanças. Nesta direção, para Freire (2000), círculo de cultura é um ambiente no qual, em lugar do professor, há o coordenador de debates; em lugar de aula discursiva, há o diálogo; em lugar de pessoas com tradições passivas, há o participante de grupo.

De acordo com Xavier e Xavier (2015)

Os Círculos de Cultura constituem um espaço dialogal e participativo que valoriza a comunicação de onde emerge a consciência crítica e o quefazer que potencializam as ações críticas dos sujeitos. [...] Nos Círculos de Cultura os sujeitos trocam informações, e refletem sobre as possibilidades de interpretação e intervenção na realidade social.

Assim como Araújo (2012), seguimos as orientações que são dadas aos coordenadores dos círculos de cultura, realizados durante os Colóquios Internacionais Paulo Freire, promovidos pelo Centro Paulo Freire, situado na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Nesta perspectiva, o círculo de cultura foi organizado de forma que contemplasse os seguintes momentos (4 etapas): acolhimento; problematização (discussão de duas questões problematizadoras: 1. Quais os desafios de professores de Ciências e Biologia em início de carreira? 2. Quais as estratégias os professores iniciantes podem utilizar para minimizarem dificuldades no início da carreira?); dinâmica e momento de síntese.

O acolhimento foi a etapa inicial, onde conversamos com os professores e os deixamos a vontade para dialogar com os outros, conhecemos em que tipo de escola lecionam e um pouco de suas experiências. Na problematização lançamos as duas questões e ouvimos o que

os professores tinham a dizer. Para o terceiro momento nós preparamos previamente recortes com os desafios e estratégias propostos pelos professores no momento da entrevista e apresentamos as categorias elaboradas por nós. Assim os professores puderam distribuir os pequenos recortes e encaixá-los nas categorias, além disso, sugeriram mudanças ou junções de categorias.

Os dados foram analisados à luz da análise de conteúdo, definida por Bardin (2002, p. 38) como: “um conjunto de técnicas de análise de comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens [...]”.

Segundo Moraes (1999),

a análise de conteúdo constitui uma metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos. Essa análise, conduzindo a descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas, ajuda a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num nível que vai além de uma leitura comum. (p. 2)

Para analisarmos os dados coletados nos instrumentos de pesquisa (questionário, entrevista e círculo de cultura) seguimos as etapas propostas por Bardin (2002), que consistem em: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados (codificação e categorização), inferência e interpretação. Assim, na pré-análise fizemos a organização dos materiais, esse momento consistiu num período de intuições e sistematização de ideias iniciais, afinal, foi nosso primeiro contato com os documentos a analisar. Nesse sentido fizemos uma leitura flutuante, onde deixamos nos invadir por impressões e orientações a fim de conhecermos as respostas dos entrevistados. “Geralmente, esta primeira fase possui três missões: a escolha dos documentos a serem submetidos à análise, a formulação das hipóteses e dos objetivos e a elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final” (Idem, p. 121).

Utilizamos a palavra ou frase principal falada pelo professor que serviu como uma palavra ou termo chave, que respondeu à pergunta da entrevista. Essa palavra chave é denominada unidade de registro, pois foi ela quem definiu o sentido da resposta. Para comprovar e situar a unidade de registro escolhemos trechos das falas que confirmavam aquela palavra, esses trechos são chamados de unidades de contexto.

Depois entramos no período de exploração do material, que foi uma fase longa e fastidiosa, que consistiu, essencialmente, em operações de codificação, decomposição ou enumeração, em função de regras previamente formuladas para que pudéssemos manusear e

entender os materiais que tínhamos em mãos (Ibidem, p.127). Codificar significa transformar os dados brutos em agregados de unidades que possam descrever características do conteúdo, para assim representá-lo. Após codificar o conteúdo, listamos categorias que constituíam conjuntos por diferenciação, com base em critérios pré-estabelecidos. Por fim, seguimos com a interpretação dos resultados obtidos de forma a responder nosso problema de pesquisa.

Analisamos tanto os questionários e entrevistas do estudo piloto, quanto os questionários e entrevistas com os 14 egressos sujeitos da pesquisa e o encontro do círculo de cultura.

Transcrevemos as entrevistas e imprimimos para que a leitura flutuante acontecesse de forma mais eficaz, observamos os detalhes das respostas e após essa etapa criamos uma planilha no Programa Microsoft Office Excel para preenchermos com as respostas (unidades de registro), trechos das falas dos professores iniciantes (unidades de contexto) e codificação. A fala principal que respondeu às perguntas da entrevista é chamada de unidade de registro, que segundo Bardin (2002) é a unidade de significação, sendo a unidade de base e pode ser a palavra, o tema ou acontecimento, ou seja, a ideia principal da mensagem. Os trechos que caracterizam a ideia exposta por eles é chamado de unidade de contexto, que serve para a compreensão para codificar a unidade de registro, corresponde ao segmento da mensagem que proporciona o entendimento da informação. Após isso seguimos com a categorização, na qual agrupamos falas diferentes e criamos códigos para identificá-las. Os códigos foram criados utilizando a inicial do termo significativo, por exemplo, ‘desafio’ seguida pelas iniciais do termo seguinte, a primeira maiúscula e as próximas minúsculas. Assim, para o desafio do currículo, denominamos DC (D de desafio e C de currículo). Para o desafio da relação com os estudantes denominamos DRe (D de desafio e Re de Relações com os estudantes). Se o desafio do currículo foi mencionado pelo ‘Professor iniciante 1’, aquele termo recebe o código DCPi1. Após essa etapa, conseguimos finalmente inferir sobre os resultados, ou seja, as “significações que a mensagem fornece” (BARDIN, 2002, p. 165).

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