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CAPÍTULO IV PERCURSO EPISTEMOLÓGICO E METODOLÓGICO

4.1 A EPISTEMOLOGIA QUALITATIVA – O CAMINHO DE CONSTRUÇÃO

4.1.2 Instrumentos da Pesquisa

Ao longo da pesquisa diversos instrumentos foram utilizados para favorecer a expressão das colaboradoras desse estudo. Eles são auxiliares para o desenvolvimento de hipóteses de trabalho que apoiadas em indicadores vão atribuindo inteligibilidade à construção de uma lógica configuracional. O que se pretende é romper com a lógica indutiva e dedutiva. É um conjunto de elementos constitutivos da mente do pesquisador que, articulados, dão uma qualidade singular para a pesquisa. Diz respeito a como ele interpreta e organiza as informações e suas percepções sobre o estudado.

Assim, os instrumentos não são meios para chegar a conclusões e sim, indutores da expressão dos participantes. (GONZÁLEZ REY, 2011, p.51)

González (2011) esclarece que os instrumentos não são meios para chegar a conclusões, e sim, indutores da expressão dos participantes. (GONZÁLEZ REY, 2011, p.51).São recursos de informação que, mantendo uma estreita relação entre si, permite o desenvolvimento de hipóteses. Além dos sistemas conversacionais gravados em áudio, as professoras receberam um caderno de memórias e impressões no qual puderam registrar com diversas técnicas (colagens, desenhos, ilustrações e textos) as suas impressões frente às dinâmicas realizadas durante a pesquisa. Após as observações dos professores no atendimento com as crianças, nos espaços de coordenação pedagógica, nas atividades coletivas, nos eventos e palestras foram realizados alguns encontros com esses professores com vistas a

obter novas informações, confirmar as hipóteses de trabalho e manter o caráter dialógico da metodologia escolhida.

Na concepção epistemológica assumida nesse trabalho, os instrumentos são vistos como um meio de provocação da expressão e da emocionalidade do outro e não como um fim em si mesmo. Assim, os instrumentos privilegiaram a expressão dos participantes como processo na pesquisa. Eles foram utilizados com vistas a valorizar as situações diferenciadas de expressões simbólicas das pessoas contemplando as vias preferenciais dos sujeitos concretos. Dessa forma, o pesquisador precisa estar atento para o fato de que o uso de instrumentos representa um momento dinâmico que se converte em um espaço portador de sentidos subjetivos nos quais estão implicados os aspectos profissional, cientifico e pessoal nesses contextos.

O instrumento como meio de expressão sai da perspectiva da objetividade e da neutralidade presente na concepção positivista de ciência, sendo compreendido como fonte de informação. Os diversos instrumentos formam um sistema de informação que pretende a constituição de um espaço portador de sentido subjetivo. Eles não são uma representação geradora de respostas, mas são uma ferramenta que pretende, por meio de situações dialógicas, a expressão no contexto empírico. Eles são indutores que tem o objetivo de provocar manifestações no sujeito estudado e não estão definidos a priori podem ao longo da pesquisa tomar rumos diversos em função das necessidades do pesquisador.

Assim sendo, foram utilizados os instrumentos seguintes:  Instrumentos apoiados em indutores escritos:

Complemento de frases – este instrumento está caracterizado pelo complemento de frases curtas que foram preenchidas pelos sujeitos da pesquisa. Os indutores nas frases referiram-se a aspectos gerais da pesquisa e em outros momentos a questões pontuais, experiências ou pessoas. O ponto forte desse instrumento é que por meio do complemento de frases curtas os sujeitos podem inferir conteúdos muito diferenciados, já que os indutores não apresentam um conteúdo explícito. O objetivo do uso desse instrumento nesse trabalho foi promover a expressão dos participantes e fomentar a elaboração de hipóteses sobre os sentidos subjetivos produzidos no trabalho com a inclusão escolar e como isso implica a configuração subjetiva dos professores da escola inclusiva.

Caderno de memórias e impressões – o caderno de memórias foi proposto aos participantes e teve como objetivo o registro das memórias, concepções, crenças, valores, experiências vividas, sentimentos, emoções, autoconceito e outros aspectos que puderam surgir frente ao trabalho desenvolvido na inclusão escolar. Nele foram registrados, da forma que melhor

aprouve aos sujeitos, tudo o que foi significativo ao longo de sua participação na pesquisa. Desde o início do trabalho no campo, a pesquisadora entregou a cada participante um caderno, que de comum acordo, foi utilizado como um dos indutores para a identificação das configurações subjetivas que podem ser produzidas no trabalho com a inclusão escolar.

Instrumentos apoiados em indutores não-escritos:

Sistemas conversacionais – (entrevista aberta, diálogos informais, oficinas). Este instrumento pressupõe a assunção de uma corresponsabilidade entre o pesquisador e o pesquisado frente ao processo da pesquisa, pois, os participantes devem agir de forma reflexiva em relação ao diálogo estabelecido. Esse instrumento rompe com a lógica de pergunta-resposta, muitas vezes, eivada pelo que é conveniente e “politicamente correto” como resposta. É como se o participante da pesquisa pensasse “qual seria a resposta ideal frente a essa pergunta? O que seria mais conveniente de ser respondido?”. Isso descaracterizaria completamente a autenticidade e a legitimidade das respostas. Um fator de destaque nessa metodologia é a intencionalidade que o pesquisador deve ter frente à emergência da emocionalidade e dos sentidos subjetivos que devem surgir no cenário de pesquisa. Dessa forma, a dinâmica conversacional é um processo ativo que deve contemplar o tema com vistas a privilegiar o envolvimento e o interesse dos participantes além dos conteúdos que surgirem no momento empírico. No que tange a esse estudo, este instrumento representou uma possibilidade rica em significados e sentidos subjetivos presentes na configuração do espaço de inclusão escolar. Foram desenvolvidas dinâmicas conversacionais individuais e grupais e em duplas. Foram realizados em diversos espaços escolares – sala de coordenação pedagógica, recreio, intervalos, salas de aula comum, salas de recursos, pátio e classe especial.

Observação Participante ou ativa – de acordo com Antônio Carlos Gil (2009) a observação participante “é a técnica pela qual se chega ao conhecimento da vida de um grupo a partir do interior dele mesmo. (o observador)”. (GIL, 2009, p. 103). Na conceituação desse autor, o observador assume “até certo ponto” o papel de membro do grupo. No caso da metodologia assumida nessa pesquisa, o termo entre aspas não é adequado, pois, a autenticidade da participação do pesquisador na Epistemologia Qualitativa está mais do que prevista pela teoria, ela é incentivada e orientada para sua inserção em todo o cenário de pesquisa e no uso dos instrumentos. Isto posto, não seria diferente em relação à observação.

Dinâmica conversacional apoiada em recursos imagéticos – A partir de dois curta- metragens: o Filme Cordas e o Manual Diagnóstico e Estatístico: A farsa mais mortífera da psiquiatria produzido pela Comissão dos Cidadãos para os Direitos Humanos; e da

escolha de uma imagem que ilustrasse o que a inclusão escolar significava para as colaboradoras desse trabalho, foi realizada uma dinâmica conversacional que contribuiu para a construção das informações da pesquisa.