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CAPÍTULO 2: METODOLOGIA DE PESQUISA

2.7. INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

De acordo com Trivinõs (1987, p. 137), a pesquisa qualitativa:

[...] se desenvolve em interação dinâmica retroalimentando-se, reformulando-se constantemente, de maneira que, por exemplo, a Coleta de Dados num instante deixa de ser tal e é Analise de Dados, e esta, em seguida, é veículo para nova busca de informações.

Esse mesmo autor afirma que os instrumentos, como entrevistas e questionários, são meios “neutros” que adquirem vida após serem relacionados com uma teoria e que, portanto, podem ser utilizados tanto em pesquisas quantitativas como pesquisas qualitativas.

Segundo Yin, (2005), as evidências de um estudo de caso podem ser alcançadas a partir de seis fontes distintas: documentos, registros, entrevistas, observações diretas, observações participantes e artefatos físicos.

Além disso, Yin (2005) afirma a importância de três princípios na coleta de dados: primeiro, é necessária a coleta de várias fontes de evidências que convergem em relação ao mesmo conjunto de fatos; segundo, um banco de dados a partir de um relatório final do estudo de caso; terceiro, um encadeamento de evidências

permitindo uma ligação entre as questões de pesquisa, a coleta de dados e as conclusões.

Para a realização de tal pesquisa foram utilizados os seguintes métodos:

observação não-participante, entrevistas informais, entrevistas semi-estruturadas e análise de documentos.

A pesquisa de campo teve início com as observações, em 29 de junho do ano de 2006. Foram realizadas observações diretas dos trabalhadores realizando as atividades de trabalho, das condições ambientais, das interações e relacionamentos, dos comportamentos, das atividades extra-trabalho (ginástica laboral e horários de intervalo) relevantes que permitiram coletar informações para o estudo de caso.

Segundo Richardson (1985, p.213) a observação “é a base de toda investigação como campo social, podendo ser utilizada em trabalho científico de qualquer nível”.

Ela se torna técnica científica na medida em que serve a um objetivo formulado na pesquisa, é planejada de maneira sistemática, registrada, ligada a proposições mais gerais, sendo submetida a verificações e controle de validade e precisão.

Além das observações, foram realizadas no decorrer da pesquisa, conversas informais com alguns professores, funcionários da área de apoio, com supervisores e gestores. Objetivou-se com esses encontros obter informações sobre a organização, seu modo de gestão em geral e com relação à saúde, sobre as relações interpessoais, as relações hierárquicas e de poder de uma maneira mais descontraída, em que os sujeitos puderam se sentir à vontade para falar de si, dos outros elementos da organização e do ambiente organizacional.

Das observações e conversas informais, partiu-se para a realização das entrevistas com base em roteiros semi-estruturados. Segundo Trivinõs (1987) a entrevista semi-estruturada pode ser definida como:

[...] aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam a pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante (TRIVINÕS, 1987, p. 146).

A escolha desse instrumento deve-se ao fato de valorizar a presença do pesquisador, oferecendo possibilidades para que o entrevistado tenha liberdade e espontaneidade necessárias, o que enriquece a investigação (TRIVINÕS, 1987).

Durante a pesquisa, foram realizadas 30 (trinta) entrevistas no total, todas baseadas em um roteiro semi-estruturado, sendo que destas, 18 (dezoito) foram gravadas.

As 12 (doze) primeiras entrevistas (não gravadas) e as observações fizeram parte de uma aproximação inicial com a realidade empírica, no qual se obteve uma “aproximação precária” (FARIA, 2004a) com o objeto de estudo que forneceu os primeiros elementos da investigação, em sua aparência mais imediata.

Dessa aproximação precária partiu para a construção do objeto elaborado, nas quais essas primeiras informações foram pensadas, ordenadas e classificadas, permitindo a elaboração de um roteiro de entrevista semi-estruturado (APÊNDICE A). Faria (2004) afirma que quando há uma ação e uma reflexão, ocorre uma percepção secundária de um objeto agora elaborado, resultante da atividade do pesquisador. Nesse segundo momento foram realizadas 10 (dez) entrevistas com base no roteiro supracitado, todas gravadas.

Em seguida a essas entrevistas, retornou-se à teoria, com o fim de relacionar os dados coletados com os fundamentos teóricos. Também foi necessário analisar e repensar o roteiro de perguntas para as próximas entrevistas. Optou-se por deixar o roteiro mais sucinto, permanecendo apenas as perguntas que tiveram maior relevância nas etapas anteriores e que forneceriam dados importantes às questões do presente estudo. Nessa terceira etapa foram realizadas as últimas 8 (oito) entrevistas, todas gravadas.

O fato de a entrevistadora já ter sido funcionária da organização mostra-se relevante, pois facilitou a circulação pelo ambiente organizacional, a abordagem dos entrevistados e a obtenção de informações por parte da diretoria. As entrevistas, em sua maioria, tiveram um caráter de ‘desabafo’ pois os sujeitos comentaram o quanto gostaram de ser entrevistados, como era importante falar, pois falando podiam refletir melhor sobre o assunto e que seria interessante se a organização tivesse um espaço para o funcionário se expressar e falar das dificuldades. Por outro lado, pela vivência como funcionária da organização, a pesquisadora precisou tomar cuidado e fazer uma ‘auto análise’ para que suas próprias percepções e seus pré-conceitos com relação à organização não interferissem nas respostas dos sujeitos entrevistados.

A escolha dos entrevistados foi baseada em uma amostra não probabilística. De acordo com Vergara (1998, p. 48), universo é

[...] um conjunto de elementos (empresas, produtos, pessoas, por exemplo), que possuem as características que serão objeto de estudo.

População amostral ou amostra é uma parte do universo (população), escolhida segundo algum critério de representatividade.

Uma amostra pode ser probabilística (baseada em procedimentos estatísticos) ou não probabilística (selecionadas por acessibilidade e tipicidade). Na amostra não probabilística utilizada nesta pesquisa, os sujeitos foram selecionados por sua acessibilidade e tipicidade, ou seja, pela representatividade dos mesmos na população-alvo. Esse tipo de amostra permite a escolha de sujeitos essenciais para o esclarecimento do assunto em foco, facilita o encontro com sujeitos disponíveis, proporciona decisão do tamanho da amostra em função do tempo gasto e na coleta dados em profundidade (TRIVINÕS, 1987).

A população ou universo desta pesquisa é constituído por funcionários operacionais, técnicos, administrativos (funcionários de apoio), gestores administrativos e acadêmicos em regime de dedicação exclusiva6 .

Além das observações e da realização das entrevistas, foi realizada uma análise documental no qual foram analisados circulares internas, relatórios, regimentos, documentos administrativos, jornais internos e encartes fornecidos pela organização. O objetivo da utilização desse instrumento foi corroborar com as evidências adquiridas em outras fontes. Yin (2005) afirma que a análise documental pode fornecer indícios para que se possa investigar mais a fundo determinado fenômeno.

Para que o objeto construído transforme-se em objeto teórico, segundo as regras da ciência, é necessário submeter sua ação a um percurso, mas isso não significa reduzir a teoria a uma simples reprodução. “O método guia o sujeito em sua relação com o objeto, mas não lhe pode limitar os movimentos” (FARIA, 2004a, p.31). Tanto o pesquisador, quanto o objeto estão em movimento, no qual há uma interação dinâmica e contraditória, ou seja, numa condição em que ambos se constroem durante a trajetória de investigação.

6 Ou seja, professores que trabalham na organização com uma carga horária de 40 horas semanais, sem outro vínculo empregatício.

2.8. DEFINIÇÕES CONSTITUTIVAS E OPERACIONAIS DAS VARIÁVEIS

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