• Nenhum resultado encontrado

A observação proporcionou uma visão mais abrangente dos acontecimentos de cada momento durante a pesquisa. De acordo com Lessard-Hébert (1996), a observação pode ter duas formas principais: a observação sistemática ou a observação participante. E para o alcance dos objetivos da pesquisa, elegemos a observação participante que segundo a mesma autora

“(…) é uma técnica de recolha de dados que tem a sua origem em investigações feitas no campo da antropologia cultural e da etnologia. O observador torna-se participante para melhor penetrar num meio social estranho (uma cultura, uma subcultura, uma instituição, um grupo social), compreende-lo e observa-lo (Lessard-Hébert,1996:103)”. Nesta técnica, foram privilegiadas as notas de campo ou o diário de bordo como instrumento para a coleta de dados relativos ao desenvolvimento da intervenção como por exemplo a reação dos participantes durantes as interações entre eles. Conforme Bogdan e Biklen (1994), as notas de campo se processam de dois modos: o primeiro consiste em descrever a imagem do local em palavras,

45

as pessoas, as ações e as conversas. O segundo modelo considera a opinião do observador, bem como as suas preocupações. Portanto, o registo dos dados compreendeu o modelo descritivo na medida em que se processava os acontecimentos.

As notas de campo foram produzidas durante as aulas de ATL, as aulas da 7ª classe e nos encontros com o subgrupo de ATL. Para melhor identificação dos detalhes do contexto em estudo, elaborou-se mapas6 que mostram a disposição do mobiliário da sala, os objectos e a posição dos alunos, do professor e da pesquisadora. Este exercício foi elaborado em quase todas as sessões. Posto isto, redigiu-se a lista dos participantes, e com auxílio do gravador anotou-se todas as informações relevantes para o estudo. Em algum momento, havia necessidade de perguntar ao professor sobre determinados aspectos que não estavam claros.

Importa salientar que, as observações do convívio entre as crianças e jovens nos espaços selecionados para este efeito, possibilitou a (i) Identificar como ocorrem os processos de inclusão das crianças e jovens cegas e com baixa visão, tendo em conta as influências do contexto onde estão inseridas e suas experiências, uma vez que maior parte destas crianças e jovens vem de contextos familiares protetores que não os permitiam maior contato com o meio externo, e daí a importância os observar num contexto diferente; (ii) descrever o entendimento sobre a inclusão, os direitos da pessoa portadora de deficiência na opinião das crianças e jovens cegos, com baixa visão, assentindo a edificação de novas concepções em torno da inclusão e suas peculiaridades; (iii) Narrar as trajetórias dos processos de inclusão de crianças e jovens cegas e com baixa visão do Instituto de Deficientes Visuais através da observação e das conversas organizadas em grupo (nos três grupos, o grupo da 7ª classe, o subgrupo de ATL e o grupo de atividades de tempos livres); (iv) Propor a elaboração de atividades como meio de intervenção comunitária na difusão e promoção de processo de inclusão social, através da construção de um projeto de intervenção comunitária que criará oportunidades para o exercício da cidadania, educação e

6

46

consciencialização tanto para crianças e jovens do instituto como também para pessoas da comunidade em geral.

2.2.1 Entrevista

O primeiro encontro com as crianças e jovens do instituto foi realizado em Maio de 2017. Com a permissão dos responsáveis do instituto, foram elaboradas elaboramos algumas questões que tinham como objectivo conversar com as crianças institucionalizadas e deficientes visuais com objetivo de compreender as suas percepções em relação a participação da criança na tomada de decisões dentro e fora da instituição. No entanto, a realidade encontrada no campo levou- nos a mudar de estratégia na recolha de dados. Ao em vez de entrevistar os participantes individualmente como previa o guião de entrevista elaborada com este propósito, o cenário que nos foi apresentado induziu a optar por uma entrevista de grupo.

Nos encontros subsequentes, elegemos a entrevista semi-estruturada numa primeira fase, mas encontramos muitas limitações, e como consequência os dados obtidos não respondiam aos objectivos do projecto. Nesta perspetiva, tendo em conta as caraterísticas do grupo alvo, escolhemos a entrevista aberta ou não estruturada, que no dizer de Bogdan e Biklen (1994) “…o entrevistador encoraja o sujeito a falar sobre a área de interesse e, em seguida, explora-a mais aprofundadamente, retomando os tópicos e os temas que o respondente iniciou” (p.135). Sendo assim, este instrumento possibilitou a exploração de forma aprofundada das experiências no processo de inclusão das crianças e jovens ao Instituto de Deficientes Visuais da Beira.

Um aspecto que foi tomado em consideração na escolha da entrevista aberta como um dos instrumentos de recolha de dados foi o fato de não existirem normas rígidas e obrigatórias que se possam aplicar a todas as situações de entrevista (Bogdan e Biklen, 1994). Este cenário permitiu a realização de adaptações de modo a alcançar os propósitos da pesquisa, levando em consideração que “…o sujeito desempenha um papel crucial na definição do

47

conteúdo da entrevista e na condução do estudo” (p.135). Para além de se eleger a entrevista aberta, em que as questões vão surgindo à medida que se conduziam as conversas, percebeu-se logo no início do processo de recolha de dados, que os participantes não desenvolviam as respostas ou então tendiam a desviar o tópico da conversa. Esta situação levou a opção da entrevista de grupo que segundo Morgan (1988) apud Bogdan e Biklen (1994:138) “… várias pessoas juntas são encorajadas a falarem sobre um tema de interesse”.

Assim sendo, as entrevistas foram organizadas em forma de debates em que os grupos das crianças e jovens da 7ª classe e do subgrupo de ATL, foram convidados a conversar sobre os tópicos definidos de acordo com os objetivos da pesquisa. De salientar que esta metodologia de trabalho suscitou nos participantes uma explosão de ideias relativas aos assuntos em debate, bem como proporcionou a todos um clima de satisfação que culminou com a interação entre os participantes. Este cenário veio a confirmar a explicação de Bogdan e Biklen (1994) ao referir que nas entrevistas de grupo, “… os sujeitos podem estimular-se uns aos outros, avançando ideias que se podem explorar mais tarde” (p.138).

Apesar das suas limitações, a entrevista de grupo foi utilizada em combinação com a observação participante em que a pesquisadora mediou os debates dos grupos da 7ª classe e do subgrupo de ATL e conduziu-os para o alcance dos objectivos da pesquisa.