• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III – PERCURSO DE INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

3. INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS

Aquando da elaboração da revisão da literatura efetuada, foram identificados um conjunto de instrumentos de cariz quantitativo que possibilitavam a avaliação de determinadas caraterísticas dos enfermeiros em relação à PBE (Funk, Champagne, Wiese & Tornquist, 1991; Parahoo, 1998; Bjorkstrom & Hamrin, 2001; Nagy, Lumby, McKinley & Macfarlane, 2001; Hutchinson & Johnston 2004; Upton & Upton, 2006; Guerrish et al., 2007). A opção por escalas e questionários como já referido, decorre naturalmente no contexto dos estudos de cariz descritivo-correlacional ao permitir recolher informação factual sobre atitudes, conhecimentos e opiniões, entre outras dimensões. Já no que se refere às escalas, estas são formas de autoavaliação, sendo ainda mais precisas de que os questionários Fortin (2009).

Em conformidade, utilizaram-se as versões portuguesas dos seguintes instrumentos para a recolha de dados: «Barriers to Research Utilization Scale» (Funk, Champagne, Wiese & Tornquist, 1991); «Attitudes to Evidence-Based

Practice Questionnaire» (Mckenna, Ashton & Keeney, 2004) e o «Evidence-Based Practice Questionnaire» (Upton & Upton, 2006) cujas descrições sumárias se

apresentam em seguida. Dado que, de entre estes instrumentos apenas um havia sido alvo de processo prévio de validação para a realidade portuguesa, foram por nós desenvolvidos dois estudos metodológicos que permitissem obter a validação para a realidade nacional do «Attitudes to Evidence-Based Practice

Questionnaire» e do «Evidence-Based Practice Questionnaire» respetivamente.

Estes estudos que foram publicados em revistas internacionais com revisão por pares serão alvo de reporte no capítulo seguinte. Relativamente à validade e fiabilidade dos instrumentos utilizados recorreu-se à determinação da consistência interna através do valor de alfa de Cronbach, sendo que esta medida é determinada “com base na média das intercorrelações entre todos os itens do teste” (Ribeiro, 2008, p. 93).

Em complementaridade a estes instrumentos, recorreu-se à aplicação de dois blocos de questões designados genericamente por “Acesso e utilização da informação para suporte à prática clínica” e “Caraterização socioprofissional”. Do primeiro bloco constavam as fontes de informação utilizadas para apoiar a prática diária, a caraterização do acesso profissional aos recursos de informação na

internet e ainda a estimativa / autoperceção da prática clínica que os participantes

consideram ser baseada na evidência. No que concerne à caraterização socioprofissional, avaliou-se a idade, o sexo, a formação académica, o título profissional e a área de especialização, o tempo de exercício, o contexto de exercício profissional predominante e ainda a tipologia de instituição de ensino onde foi realizada a formação pré-graduada.

3.1. Escala de Barreiras à Utilização da Investigação

A Escala de Barreiras à Utilização da Investigação (BRUS) é um questionário autoaplicável composto por 29 itens desenvolvida através da realização de pesquisas sobre o comportamento dos enfermeiros relativamente à investigação,

bem como, pela utilização dos resultados da investigação no exercício da enfermagem e ainda pelos dados recolhidos junto dos enfermeiros (Funk et al. 1991). O instrumento utiliza uma escala do tipo Likert de quatro pontos: 1 – Nada significativa, 2 – Pouco significativa, 3 – Moderadamente significativa e 4 – Muito significativa. Adicionalmente incluí uma hipótese de resposta 5 – Sem opinião. Operativamente, a escala BRUS encontra-se dividida em quatro subescalas que sumariamente se descrevem adiante. No estudo de validação para a realidade portuguesa (Vilelas & Basto, 2011) obtiveram-se os seguintes valores de alfa de

Cronbach por subescala: “Comunicação do estudo” α = 0.65; “Caraterísticas do

enfermeiro” α = 0.8; “Caraterísticas da investigação” α = 0.72 e “Caraterísticas da organização” α = 0.8. No nosso estudo foram obtidos os seguintes valores de alfa por subescala: “Caraterísticas da organização” α = 0.74; “Comunicação do estudo” α = 0.62; “Caraterísticas do enfermeiro” α = 0.8 e “Caraterísticas da investigação” α = 0.74. O resultado global para a escala foi de 0.90.

A subescala «características da organização» contempla oito itens sobre as barreiras e limitações da investigação associadas ao ambiente de trabalho, numa perspetiva abrangente. Integra e procura refletir o suporte de recursos estruturais e humanos das organizações de saúde que globalmente irão contribuir para uma dinâmica de mudança resultante da implementação dos resultados da investigação.

Na subescala «características da comunicação do estudo», observam-se sete itens que visam avaliar a acessibilidade da investigação. Este fator liga-se em concreto às qualidades da investigação e às potencialidades dos resultados associados à realização da investigação, refletindo dúvidas dos enfermeiros sobre a confiabilidade e validade dos resultados e conclusões dos estudos elaborados. Na subescala «características do enfermeiro» composta por um total de oito itens, avaliam-se os valores, capacidades e conhecimento dos enfermeiros face à investigação, centrando-se nas características dos profissionais, estando ainda associada às crenças sobre a própria investigação produzida e às limitações que os enfermeiros detêm face à pesquisa.

A subescala «características da investigação» contempla um total de seis itens referentes às características, formas de comunicação e acesso aos resultados

decorrentes da investigação e à compreensão das respetivas implicações na prática. As questões integradas nesta subescala procuram avaliar as barreiras organizacionais face ao acesso à informação e às barreiras decorrentes da própria pesquisa.

A opção pela escala BRUS decorreu de duas ordens de fatores, ser o instrumento mais utilizado internacionalmente em termos do estudo de barreiras à utilização de resultados da investigação por parte dos enfermeiros, permitindo aferir com grande fiabilidade da sua validade e reprodutibilidade (Kajermo, Boström, Thompson, Hutchinson, Estabrooks & Wallin, 2010). Por outro lado, a existência prévia de uma versão portuguesa (Vilelas & Basto, 2011) o que permitiu um acesso facilitado à sua utilização para a realização deste estudo.

3.2. Questionário de Atitudes e Barreiras em relação à Prática Baseada na Evidência

O Questionário de Atitudes e Barreiras à Prática Baseada na Evidência (QABPBE- 26) é um questionário de autoaplicação, unidimensional que contempla um total de 26 itens. Estes são avaliados com recurso a uma escala do tipo Likert que compreende o valor 1 – Discordo totalmente, 2 – Discordo, 3 – Não tenho a certeza, 4 – Concordo e 5 – Concordo Totalmente. No seu conjunto apresenta diversas atitudes e barreiras face à PBE tendo a sua construção inicial sido originada a partir do contexto de exercício dos profissionais em cuidados de saúde primários. O questionário é ainda complementado por dois grupos distintos de dados, o acesso à informação e uma caraterização sociodemográfica. Na presente investigação, adotou-se parte da componente relativa ao acesso e utilização da informação para apoiar a prática profissional. A opção pela utilização deste instrumento decorreu do facto de o mesmo ter sido por nós previamente utilizado em sede do trabalho de investigação exploratório, tendo nesse contexto revelado uma fácil aplicação em termos da realidade estudada.

No caso do QABPBE-26, obteve-se um valor de α = 0.66. Para a determinação deste resultado, foi necessário excluir da análise o item de resposta “3 – Não tenho a certeza” (considerados e interpretados nesta escala como uma manifestação de desconhecimento) pois o mesmo, como se demonstrará no âmbito da

apresentação de resultados, denota em 22 itens (num total de 26 que constituem a escala) valores de resposta ≥ 10%.

3.3. Questionário de Eficácia Clínica e Prática Baseada em Evidências O Questionário de Eficácia Clínica e Prática Baseada em Evidências (QECPBE- 20) é um instrumento de autopreenchimento, cuja versão portuguesa contempla 20 itens avaliados através de uma escala de diferencial semântico, organizada em três dimensões. O primeiro componente avalia as “Práticas” e recorre a uma escala do tipo Likert, que oscila entre 1 (nunca) e 7 (frequentemente), integrando seis itens. Nesta primeira dimensão pretende-se avaliar, considerando a prática clínica e os cuidados prestados aos doentes (clientes) no último ano, com que frequência e em consequência de uma lacuna identificada no conhecimento se procedeu às etapas genericamente associadas a uma PBE, desde a formulação de uma pergunta clinicamente relevante, passando pela localização e apreciação crítica das evidências até à mudança das práticas, respetiva avaliação e partilha de informação junto dos pares.

No segundo componente avaliam-se as “Atitudes”, através do posicionamento de proximidade adotado para cada par de questões, num total de três itens. Nestes, procura-se avaliar a atitude face à PBE bem como a abertura ao escrutínio e questionamento associado às práticas profissionais em uso.

Finalmente o terceiro componente pretende avaliar “Conhecimentos / habilidades e competências” através de uma escala do tipo Likert, que oscila entre 1 (pior) e 7 (melhor) num somatório de 11 itens. Esta subescala compreende questões entendidas como pré-requisitos em termos de competências e capacidades individuais que possibilitam uma efetiva PBE.

O QECPBE-20 revelou por subescala os seguintes valores: “Práticas” α = 0.92; “Atitudes” α = 0.73 e “Conhecimentos / habilidades e competências” α = 0.93. Globalmente, o QECPBE-20 registou um valor de α = 0.91.