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Instrumentos de tratamento de dados

Capítulo IV – Tratamento dos Dados

1. Instrumentos de tratamento de dados

Como já foi referido no capítulo anterior, o nosso estudo pretende alcançar três objetivos, (1) perceber quais as imagens das línguas dos alunos do 6.º ano de escolaridade; (2) averiguar se os alunos do 6.º ano se matriculam numa língua para aprendizagem, baseados em imagens estereotipadas das línguas (e em quais) e (3) averiguar se a imagem que os alunos do 6.º ano têm sobre línguas influencia a sua escolha para aprendizagem posterior.

Assim, como forma de analisar os dados obtidos de forma organizada e objetiva, baseamo-nos nas categorias de análise utilizadas por Pinto (2005), num estudo que pretendia “descrever as imagens das LE por parte dos alunos do 3.º ano do curso universitário de Línguas e Relações Empresariais da Universidade de Aveiro” (p.100). Contudo, foram realizadas adaptações nas categorias e respetivos descritores, de acordo com os dados que obtivemos.

Como afirma Pinto (2005), “a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações que, adequada ao domínio e aos objetivos pretendidos, tem que ser reinventada a cada momento” (p.101). Posto isto, apresentamos de seguida um quadro (quadro 3), que sintetiza as categorias e respetivos descritores, utilizados no presente tratamento de dados, baseadas em categorias já utilizadas noutros estudos (Pinto, 2005 e Simões, 2006)

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QUADRO 3–CATEGORIAS DE ANÁLISE PARA O TRATAMENTO DE DADOS

Categorias Descritores

CT1 - Língua como objeto afetivo C1.1. Relação afetiva aluno/língua/cultura CT2 - Língua como objeto de

ensino-aprendizagem

C2.1. Facilidade/dificuldade de aprendizagem e uso CT3 - Língua como instrumento

de construção e afirmação de identidades individuais e coletivas

C3.1. Relação língua/história de um povo/cultura CT4 - Língua como objeto de

poder

C4.1. Poder sociocultural

C4.2. Poder económico-profissional CT5 - Língua como instrumento

de construção das relações interpessoais/intergrupais

C5.1. Comunicação e socialização com o Outro

Na categoria “Língua como objeto afetivo” incluímos todos os elementos que demonstram que o aluno sente afeto, ou não, pelas línguas, tendo consciência de que é algo subjetivo, uma vez que depende da relação que o sujeito tem com a língua, seja esta a sua língua materna ou uma língua estrangeira (Simões, 2006).

Segundo Pinto (2005), “os sujeitos estabelecem com as línguas fortes relações de afetividade, que se traduzem em sentimentos não passíveis de definir de acordo com critérios objetivos” (p.106). Assim, consideramos que os dados do nosso estudo que se inserem nesta categoria, ilustram a relação afetiva existente entre o aluno, a língua e a cultura. Por exemplo, quando um aluno atribui à língua portuguesa palavras tais como “família”, “bonita” ou “paixão”, este demonstra o afeto que as línguas lhe provocam.

Sendo as línguas consideradas, formal ou informalmente, objetos de estudo é natural que as mesmas sejam apreciadas como objetos exteriores aos sujeitos, objetos de que estes se apropriam em situações mais ou menos organizadas e sistemáticas, mais concretamente, em situações de ensino-aprendizagem. Como afirma Pinto (2005) “na aprendizagem de qualquer objeto, os alunos constroem imagens acerca deste processo e reconstroem-nas ao longo do seu percurso escolar” (p.103), desta forma estamos perante a segunda categoria “Língua como objeto de ensino-aprendizagem”.

Nesta categoria e de acordo com os dados obtidos no nosso estudo, consideramos pertinente o descritor relativo à facilidade/dificuldade de aprendizagem de uma língua, uma vez que dele fazem parte unidades de registo nas quais os alunos atribuem às várias línguas (portuguesa, francesa, inglesa e espanhola) palavras como “fácil”, “difícil”, “complexa”, ”complicada”. Ainda, incluímos neste descritor a comparação entre línguas: “O francês é mais difícil do que o espanhol”.

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Surgem, ainda, outras unidades de registo que não integram necessariamente o descritor da facilidade/dificuldade de aprendizagem de uma língua, no entanto demonstram que os alunos têm uma imagem de determinada língua enquanto objeto de ensino-aprendizagem. Alunos que apontam palavras como “escola”, “colégio”, “estudada” ou que afirmam que necessitam “aprofundar” determinada língua, demonstram ter consciência de que para adquirir determinada língua é necessário passar por um processo de ensino-aprendizagem.

Por vezes, os sujeitos só tomam consciência da sua própria identidade e da identidade linguística e cultural dos outros, quando confrontam com o Outro e a sua cultura (Pinto, 2005). Desta forma, “as línguas assumem um papel primordial na construção e afirmação identitária dos indivíduos e dos grupos” (Pinto, 2005, p. 110), que por sua vez é encarada, pelas Ciências Humanas, como um processo dinâmico de interdependência entre a língua, a cultura e a identidade.

Posto isto e dadas as nossas unidades de registo, houve a necessidade de adaptar do estudo de Pinto (2005) a categoria “Língua como instrumento de construção e afirmação de identidades individuais e coletivas”. No descritor relação língua/história de um povo/cultura inserem-se dados que demonstram que os alunos inquiridos têm conhecimento acerca do país e dos locutores que falam determinada língua, são apontados elementos da história do país, tais como monumentos, figuras míticas, bandeiras, entre outros, assim como elementos relacionados com a cultura do povo, como é exemplo a gastronomia, música, festividades, entre outros.

Ter conhecimento relativamente ao Outro e à sua língua é algo importante, que nos permite criar consciência da nossa própria identidade linguística e cultural. No entanto é igualmente importante reconhecer o poder das línguas, apreciando as possibilidades de ascensão social e económica que as mesmas oferecem aos que as aprendem (Pinto, 2005). Desta forma, surge a necessidade de integrar no nosso estudo a categoria “Língua como objeto de poder”, para que palavras como “importante”, “trabalho”, “resistente”, “universal”, “comercial”, entre outras possam ser inseridas numa categoria que demonstra que alguns alunos têm uma imagem das línguas enquanto objetos de poder.

Contudo, quando mencionamos a palavra poder podemos referir-nos a um poder sociocultural ou ao poder económico-profissional. No primeiro as línguas são encaradas como um objeto de prestígio, sendo por isso úteis aos seus locutores na promoção de uma ascensão cultural e social. Por outro lado, os sujeitos conferem às línguas um determinado

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“valor/utilidade internacional nas trocas económicas” (Pinto, 2005, p. 109), tomando consciência de que estas lhe poderão proporcionar ascensão profissional.

Por último, surge a categoria “Língua como instrumento de construção das relações interpessoais/intergrupais”, associada ao descritor a comunicação e socialização com o Outro. Uma vez que, uma das maiores utilidades das línguas é a comunicação e a socialização com o outro, ou seja, os sujeitos têm uma imagem das línguas associada à relação com o Outro, que se proporciona mais facilmente se conseguirem comunicar e socializar na mesma língua. Neste sentido, os alunos demonstraram conhecer formas de comunicação como por exemplo “Hello”, “my name is…”, “gracias”, “merci”, “obrigada”, sendo estas algumas das nossas unidades de registo. Outros alunos demonstraram vontade em aprender uma nova língua referindo que facilitava a “comunicação com o outro”.

Após apresentarmos as categorias de análise utilizadas na análise de dados, seguimos para a análise dos inquéritos por questionário e dos desenhos.

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