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1. DESENVOLVIMENTO INFANTIL: IMPORTÂNCIA DAS FUNÇÕES PARENTAIS

2.5 Instrumentos e Procedimentos para a Coleta de Dados

Após as assinaturas dos termos, as mães dos bebês foram entrevistadas em uma sala reservada para essa finalidade, no próprio HUSM, no Ambulatório de Audiologia, local onde é realizada a TAN dos recém-nascidos de Santa Maria e região. Tendo a duração máxima de 40 minutos, toda a coleta.

Para facilitar a compreensão das etapas deste estudo, apresenta-se a seguir o organograma do Programa de TAN do HUSM (Quadro 1).

Legenda:

TAN – Triagem Auditiva Neonatal RN – Recém nascido

IRDA – Indicador de Risco para a Deficiência Auditiva EOAT – Emissões Otoacústicas Transiente

PEATE – Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico

PEATEa – Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico Automático

Os bebês e as suas respectivas mães do grupo controle foram avaliados logo após a conclusão da TAN. Já o grupo estudo foi avaliado antes do atendimento fonoaudiológico para o reteste da TAN, uma vez que tais bebês haviam falhado na primeira triagem. Este atendimento aconteceu em média 15 dias após a falha na TAN.

TAN HUSM

RN sem IRDA TAN EOAT

Passa Orientação + Alta (TA

antes do ingresso na escola) Falha agendar retorno para semana seguinte No reteste PEATEa Passa Orientação + alta: sem IRDA ou acompanhamento: com IRDA

Falha PEATE diagnóstico Normal Acompanhamento RN com IRDA TAN PEATEa Passa Orientação + Aconmpanhamento a cada 6 meses Falha Agendar retorno para

semana seguinte

Alterado Encaminhamento

para Alta Complexidade

Em relação aos procedimentos selecionados para esta pesquisa, optou-se por aplicar os seguintes instrumentos: entrevista baseada no roteiro sobre a Experiência da Maternidade - (NUDIF, 2003) (ANEXO B), instrumento utilizado em projetos de pesquisa do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Inventario de Depressão - BDI (BECK e STEER, 1993) (ANEXO C), Inventário de Ansiedade de Beck - BAI (BECK e STEER, 1993) (ANEXO D) e Índices de Risco ao Desenvolvimento Infantil (IRDIS) (Kupfer, 2008) (ANEXO E). Tais procedimentos foram realizados em apenas uma sessão, desde que o bebê estivesse acordado e em situação confortável.

Para a realização da entrevista, foi utilizado o roteiro com o objetivo de investigar as informações socioeconômicas (renda familiar, escolaridade, ocupação), demográficas (idade, estado civil, número de filhos), obstétricas (número de gestações, número de partos, história de aborto, partos prematuros, número de consultas pré-natais, planejamento da gestação, peso do bebê, intercorrências com o recém nascido, idade gestacional, tipo de aleitamento) e psicossociais (suporte social, histórico de doença mental na família e experiência da maternidade). Este roteiro foi baseado na Entrevista sobre a Experiência da Maternidade (ANEXO F), instrumento utilizado em projetos de pesquisa do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Após a entrevista estruturada, as mães responderam ao Inventário de Depressão de Beck – BDI tem a finalidade de investigar risco para a depressão materna no período pós-parto, portanto, não possui pretensão diagnóstica, sendo que refere-se a um instrumento de rastreamento. Consiste de 21 itens com diferentes alternativas de respostas a respeito de como o sujeito tem se sentido na semana anterior a aplicação e no dia atual, e que correspondem a diferentes tipos de gravidade de depressão. A soma dos escores fornece níveis: mínimos (0 a 11 pontos), leve (12 a 19 pontos), moderado (20 a 35 pontos), grave (36 a 63 pontos). Quanto ao tempo de aplicação, estima-se de 5 a 10 minutos. A forma de execução deste inventário instituída para esta pesquisa, foi a auto-aplicação do inventário e quando a mãe apresentou alguma dúvida a pesquisadora a auxiliou.

A seguir foi aplicado o Inventário de Ansiedade de Beck – BAI. Esta escala é apropriada para idades entre 17 e 80 anos e pode ser usada em sujeitos não-

psiquiátricos. O instrumento mede a intensidade dos sintomas de ansiedade. É constituído de 21 itens que são afirmações descritivas de sintomas de ansiedade e que permite a classificação em níveis de intensidade de ansiedade: mínimo de 0 a 10, leve de 11 a 19, moderado de 20 a 30 e grave de 31 a 63. Sendo considerada ansiedade clinicamente importante a partir do estágio leve. Quanto ao tempo de aplicação, estima-se de 5 a 10 minutos.

Ressalta-se que as mães que apresentaram dificuldade na constituição da experiência da maternidade, depressão pela avaliação do BDI e ansiedade pela avaliação BAI, ou seja, consideradas acometidas de alterações emocionais para exercer a função materna, assim como as que apresentaram bebês com índices de risco ao desenvolvimento, foram convidadas a participar de grupos terapêuticos e também de acompanhamento psicológico individual.

Por fim, avaliou-se a interação da díade por meio da aplicação dos IRDIS. Este instrumento foi escolhido porque os índices da fase correspondente de 0 a 4 meses captam de modo importante o funcionamento da posição materna e envolvem diretamente a protoconversação inicial da díade. No primeiro momento, a partir da observação, sem filmagem, a pesquisadora atribuiu a presença ou a ausência para cada um dos índices. Como todos os bebês estavam na faixa etária de 0 a 4 meses, apenas os cinco primeiros IRDIS foram avaliados, conforme segue:

1. Quando a criança chora ou grita, a mãe sabe o que ela quer: Este

índice foi observado a partir de situações em que a mãe supunha que o bebê queria algo e se ela conseguia atribuir uma interpretação possível a esta demanda, como por exemplo, dormir, mudar de posição no colo, fome, etc.

2. A mãe fala com a criança em um estilo particularmente dirigido a ela (manhês): Aqui foi analisada a interação entre a mãe e a criança em termos de

sintonia, não só se a mãe falava em manhês, mas se sua fala era sintonizada ás produções do bebê.

3. A criança reage ao manhês: Neste item, foi observado se a criança era

engajada na protoconversação, e , sobretudo, se buscava ativamente tal participação. Como algumas mães em função do estado emocional depressivo ou ansioso, não conseguiam conversar com seus filhos de modo sintonizado, a

pesquisadora buscou fazer isso com os bebês e analisar tal resposta quando isso ocorria. Como algumas mães não realizavam manhês com os filhos, a pesquisadora testou a reação das crianças dirigindo-lhes fala com a prosódia manhês e sintonizada ás reações das mesmas. O resultado computado foi a resposta dada à pesquisadora, nesses casos.

4. A mãe propõe algo à criança e aguarda sua reação: Aqui foi observada

a capacidade de a mãe esperar a resposta do bebê, ou seja, de conferir-lhe turno durante a protoconversação.

5. Há troca de olhares entre a criança e a mãe: Este item foi observado a

comunicação visual entre o bebê e a mãe.

A seguir, foi feita uma filmagem, com duração aproximada de 10 minutos, no intuito de outro pesquisador experiente em desenvolvimento e linguagem infantil julgar os valores atribuídos, pela examinadora, aos IRDIS. Sendo assim, buscou-se analisar a concordância as atribuições destes dois juízes. Para tanto, foi utilizado o teste de concordância de Kappa. O Coeficiente Kappa pode ser definido como uma medida de associação usada para descrever e testar o grau de concordância (confiabilidade e precisão) na classificação (KOTZ & JOHNSON, 1983). Frente a isso, Moreira (2001) sugere a seguinte interpretação (quadro 2):

Valor do Kappa Interpretação 0≤k< 0.20 Ruim 0.20≤k<0.39 Razoável 0.40≤k<0.59 Bom 0.60≤k<0.79 Muito bom 0.80≤k<1.00 Excelente K=1 Perfeita

Abaixo, a análise do Coeficiente KAPPA, para verificar a concordância entre a pesquisadora (P) e o avaliador (A) (quadro 3).

Questões P A Valor Kappa*

P1 X A1 98,2% 98,2% 0,96

P3 X A3 100,0% 98,2% 0,72

P4 X A4 100,0% 98,3% 0,97

P5 X A5 93,5% 97,1% 0,88

Analisando a tabela acima podemos verificar que a concordância entre os avaliadores foi classificada, observando os valores de Kappa, como "muito bom" a "excelente" para todos os itens avaliados. Desta forma, conclui-se que os juízes concordaram em relação as respostas dadas para os IRDIS. No entanto, nota-se que os IRDIS 3 e 5 foram os que mais apresentaram desacordos entre a pesquisadora e a avaliadora. Quando este fato ocorreu, no momento da análise o resultado computado foi o da avaliadora, devido a sua maior experiência em desenvolvimento e linguagem infantil.

Quanto a realização da filmagem, as mães foram orientadas em relação ao procedimento necessário para a mesma. Sendo assim, foram convidadas a falar/interagir com seu bebê como usualmente fazem em casa, de forma natural. Para realizar este procedimento, seria importante que o bebê estivesse acordado, em situação confortável e a mãe deveria segurar o bebê no colo numa posição que pudesse ficar face-a-face com o mesmo, assim seria possível observar o processo comunicativo da díade.

O processo interativo foi filmado em torno de 10 minutos e todos os itens foram observados em situação natural durante a chegada da mãe com o bebê para a entrevista, e depois foi filmada a interação de ambos. A coleta sem filmagem foi considerada fundamental, pois, se previu que as mães pudessem mudar de comportamento frente a câmera. Ressalta-se que as mães apresentaram o mesmo comportamento da observação sem filmagem durante a filmagem. Este fato se deu por que foram tomadas medidas que minimizassem a interferência da filmagem na interação com seu bebê. Nesse sentido, foi realizada a filmagem, a certa distância com o zoom da câmera. Buscou-se deixar a mãe bem à vontade, dando um tom de registro de filmagem familiar e não de avaliação, ou seja, como uma lembrança desta fase de vida do bebê.

Do total de bebês avaliados, 13 do GC e sete no GE estavam dormindo. Nestes casos, foi marcado o reteste dos IRDIS e a díade foi convidada a regressar ao Programa de TAN, no entanto, não compareceram na nova avaliação. Frente a isso, estes bebês foram excluídos da amostra desta pesquisa.