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2.1 FINANCIAMENTO PÚBLICO

2.1.2 Instrumentos Financeiros Indiretos

Como opção de financiamento indireto, o governo dispõe de instrumentos mercadológicos5, de recursos administrativos e legais6 (MARCOVITCH et al., 1991, p. 45), e de instrumentos fiscais, que se tornaram muito populares a partir da década de 80 no apoio à inovação (NILL, 2005, p. 3).

Embora haja outras modalidades de benefícios fiscais (depreciação acelerada, subsídios especiais, patent box, etc.), a dedução do Imposto de Renda (IR) e o crédito fiscal são os mais conhecidos. O crédito fiscal corresponde à redução da alíquota do imposto a ser pago. Já a opção de diminuir o recolhimento do imposto de renda, incide sobre os lucros das empresas que inovam; ou seja, o aumento (valor total ou incremental) das despesas em P&D pode ser deduzido do montante do lucro no qual incidirá o imposto (AVELLAR, 2008, p. 323-324).

Em qualquer um desses formatos fiscais, a aquisição de máquinas e equipamentos, comumente, sofre aceleração nas taxas de depreciação7 (AVELLAR, 2008, p. 323-324). Na modalidade de incentivo fiscal, a taxa de depreciação se apresenta como um redutor sobre o retorno de um investimento, implicando em menor base de cálculo do tributo e, por conseguinte, na redução do imposto a pagar e na elevação da rentabilidade (BRITTO, 2005, p. 4-8). Por esta razão, muitos países costumam elaborar uma série de normas e até expandem tais disposições de amortização aos edifícios que são utilizados para atividades de P&D, a fim de elevar a rentabilidade e atrair investidores (OECD, 2003, p. 13-14).

5 Uso do poder de compra do governo, projetos especiais contratados pelo governo, reserva de

mercado, etc.

6

Agilização dos processos de desburocratização, participação dos órgãos governamentais ligados a C&T no processo decisório, controle da propriedade industrial constituído por proteção a patentes, etc.

7 Consiste de rápida diminuição dos valores dos ativos, como resultado do desgaste pelo uso em

Os instrumentos fiscais possuem uma série de vantagens. Por sua implementação através do sistema de tributação das empresas, os benefícios resultam em custos administrativos adicionais baixos, tanto para as autoridades governamentais quanto para as empresas. Além de não sobrecarregarem o orçamento de ministérios de pesquisa, podem ser facilmente alterados em tamanho e em alcance, sem mudanças drásticas na administração (em comparação com programas de empréstimos, por exemplo). Quando executados em uma base legal de longo prazo, se tornam mais confiáveis para o planejamento financeiro e para as decisões de P&D (KÖHLER; LAREDO; RAMMER, 2012, p. 3). Outro aspecto positivo corresponde ao seu custo de administração, que é inferior ao do financiamento direto (GUIMARÃES, 2008, p. 152-153).

Usualmente, por meios destes instrumentos, a empresa inovadora tem a oportunidade de identificar as melhores oportunidades e de definir o modo de alocação de investimento em P&D – segundo setores e projetos – em áreas ou atividades inovativas. Sem prejuízo de que a decisão do mercado reflita as preocupações das políticas de governo, mediante tratamento diferenciado ou de algum segmento produtivo ou de alguma atividade (pequenas empresas ou pesquisa básica, por exemplo) (GUIMARÃES, 2008, p. 155).

Ademais, os incentivos fiscais possuem a vantagem de abranger, teoricamente, todos os tipos de empresa que pagam impostos. Com este tipo de instrumento, os custos com equidade são reduzidos, independentemente do tipo de P&D que esteja sendo empreendido, do tamanho da empresa, da origem do capital, e do setor do qual participa (AVELLAR, 2008, p. 323-324).

Contudo, Peneder (2008, p.524) previne que por estarem relacionados com impostos de pessoas jurídicas, a oferta e o aumento de incentivos fiscais são direcionados apenas para as empresas rentáveis. Portanto, empresas de alta tecnologia, como start-ups, que têm pouco ou nenhum lucro, não costumam ser beneficiadas por este tipo de recurso fiscal, em decorrência da falta de garantia real (depósito em moeda corrente, carta de fiança bancária, títulos públicos e privados) e/ou por falta de registro histórico.

Como visa reduzir o custo relativo e/ou o risco associado às empresas inovadoras, a principal desvantagem dos incentivos fiscais é a dimensão de renúncia sobre as finanças públicas (GUIMARÃES, 2008, p. 152-153). Outro percalço se apresenta à medida que o processo de inovação se desdobra, uma vez que o

governo enfrenta um ambiente cada vez mais incerto. Não há um controle total da provisão de recursos abdicados devido à extensão de custos, por isso o governo tem de encarar consequências orçamentárias (KÖHLER; LAREDO; RAMMER, 2012, p. 3-31).

Além de críticas a respeito da falta de direcionamento dos recursos para áreas e setores de maior rentabilidade social, ao favorecer investimentos de curto prazo, em detrimento de projetos de retorno mais lento (GUIMARÃES, 2008, p. 152-153), os incentivos fiscais também acompanham diversas restrições que variam de local para local e de governo para governo (CORDER; SALLES-FILHO, 2006, p. 35-36).

O apoio governamental e o uso de instrumentos fiscais são permitidos pela Organização Mundial de Comércio (OMC). Consequentemente, os governos, de modo geral, têm se esforçado em criar mais opções de financiamento. Visando garantir recursos de curto e de longo prazo, com o propósito de atender às diferentes necessidades das empresas e instituições de pesquisa em distintos estágios inovativos (CORDER; SALLES-FILHO, 2006, p. 65-67).

Como se constituem em exceções na legislação tributária, os incentivos fiscais tendem a complicar o sistema de tributação. Para que sua designação seja feita corretamente, a concessão de benefícios deve estar condicionada não apenas a diferenciação das atividades elegíveis, mas também ao monitoramento elevado das despesas realizadas em P&D. O que nos remete a segunda limitação, uma vez que os incentivos são disponibilizados às empresas, por meio de dedução de imposto, possivelmente, há atividades de P&D que poderiam ter sido estimuladas por meio de outros instrumentos não fiscais (KÖHLER; LAREDO; RAMMER, 2012).

Há quem diga que os instrumentos fiscais têm o poder de influenciar as decisões privadas de investir em inovação (adicionalidade). Todavia, a influência real irá depender da elasticidade-preço do investimento, ou seja, da medida em que a redução de custos, através de incentivos, induz as empresas a despender mais recursos nos objetivos propostos (PENEDER, 2008, p. 524). A eficácia dos instrumentos fiscais está relacionada a fatores inerentes aos ambientes e às condições enfrentadas pelas empresas, assim como o próprio desenho dos instrumentos, de forma que não são facilmente replicáveis em outros países (RAPINI, 2010, p. 38).