• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 – INVESTIGAÇÃO REALIZADA COM PSICÓLOGOS NO

2. INSTRUMENTOS

O primeiro instrumento utilizado consiste num Questionário Demográfico, concebido para o efeito, de perguntas de âmbito mais geral, relativas ao sexo, à idade e ao estado civil, bem como à formação académica, procurando identificar o grau académico alcançado pelos Psicólogos e a sua área de formação em Psicologia. Fazemos, igualmente, uma pergunta em relação à situação profissional, no sentido de saber que experiência possuem os Psicólogos, no exercício da sua actividade em geral e na função actual.

O segundo instrumento adoptado é um Questionário de Stresse denominado “Questionário de Stresse nos Profissionais de Psicologia” que avalia os Factores de Stresse dos Profissionais de Psicologia, independentemente da área ou domínio de actividade (Q.S.P.P.) desenvolvido por Cruz e Melo (1996). O desenvolvimento desta escala contou com a colaboração de uma “comissão de revisão” constituída por 12 psicólogos: 3 da área de psicologia clínica e da saúde; 3 da psicologia escolar e da educação e da 3 da psicologia social e das organizações. Cada um dos subgrupos de “revisores” incluiu um académico, um psicólogo a exercer no sector público e outro no sector privado. Adicionalmente, a “comissão de revisores” incluiu mais 3 psicólogos especializados e/ou experientes em psicometria e metodologias de avaliação psicológica. O instrumento desenvolvido constituiu uma versão de 67 itens de entre uma listagem inicial de 110 itens, potenciais fontes de stresse no exercício da actividade profissional dos psicólogos. Estes itens iniciais foram seleccionados com base numa revisão da literatura sobre Stresse Ocupacional, assim como na análise de instrumentos similares utilizados para profissionais de psicologia de áreas específicas (Ex.: psicoterapeutas, conselheiros, psicólogos escolares, etc.). Para esta versão foram considerados os itens que, cumulativamente: a) pudessem ser aplicáveis ou constituir potenciais fontes de

stresse nos psicólogos das diferentes áreas/domínios e/ou contextos de intervenção; b) reflectissem os diferentes factores de stresse ocupacional que têm vindo a ser sugeridos pela literatura existente (Gomes & Cruz, 1999). Como um dos objectivos deste estudo consiste em identificar os factores de stresse, num público-alvo tão específico como é o dos Psicólogos, pareceu-nos que este instrumento seria a melhor medida nesta área de estudo. Assim, este questionário possui um total de 67 itens, que se referem a possíveis fontes de stresse associadas ao exercício e prática profissionais de Psicologia. Cada item do Q.S.P.P. é respondido numa escala tipo Likert de 6 pontos (0= nenhum stresse; 5= muito stresse), traduzindo o nível de stresse gerado por cada uma das potenciais fontes.

O terceiro instrumento é o Inventário de Burnout de Maslach (MBI). Trata-se de uma versão traduzida e adaptada do “Maslach Burnout Inventory” (Maslach & Jackson, 1986; Cruz, 1993; Cruz & Melo, 1996). O Maslach Burnout Inventory foi estandardizado por Maslach e Jackson (1986) para amostras de 1500 funcionários do Serviço Social e apresentou consistência interna: com o teste- reteste, medido de 2 a 4 semanas de intervalo, os resultados obtidos são 0.82 para a Exaustão Emocional, 0.60 para a Despersonalização e 0.80 para a Realização Pessoal; com um coeficiente de alfa de Cronbach’s foi de 0.90 para a Exaustão emocional, 0.79 para a Despersonalização e 0.71 para a Realização Pessoal. A Exaustão Emocional aparece como a sub-escala mais consistente internamente seguida da realização Pessoal e Despersonalização. A validade do MBI tem sido demonstrada em numerosos estudos (Maslach & Jackson, 1986; Rafferty, Lemkan, Purdy & Rudisill, 1986, referidos por Ackerly, Burnell, Holder & Kurdek, 1988), garantindo uma boa avaliação conceptual do

Burnout, demonstrada, pela boa consistência interna da escala. A adaptação e

validação portuguesa do MBI confirmou a existência dos três factores ou dimensões originais de Burnout embora tenha ampliado a retirada de 4 itens da versão original. A análise da estrutura factorial que foi efectuada evidenciou três factores originais e principais que, no seu conjunto, explicavam 43.3% da variância total (Gomes & Cruz, 1999). O MBI é um instrumento de auto-registo com 22 itens acerca dos sentimentos relacionados com o trabalho e distribuídos por 3 escalas: A Exaustão emocional pretende analisar

sentimentos de sobrecarga emocional e a incapacidade para dar resposta às exigências interpessoais do trabalho (9 itens: questões 1, 2, 3, 6, 8, 13, 14 16 e 20) refere-se a sentimentos exagerados de exaustão originados por pressões constantes no trabalho. Maslach e Jackson (1982) descreve esta dimensão como “um modelo de sobrecarga emocional as pessoas sentem-se vazias e têm pouca energia para fazer face a um novo dia”. Uma pontuação elevada nesta sub escala indica que o indivíduo está a suportar uma tensão para além dos limites.

A Despersonalização pretende medir respostas frias, impessoais ou mesmo negativas dirigidas para aqueles a quem prestam serviços (5 itens: questões 5, 10, 11, 15 e 22). A despersonalização refere-se ao desenvolvimento de atitudes negativas e respostas impessoais face às pessoas com quem trabalham ou prestam serviços. Uma pontuação elevada, indica que o sujeito tende a distanciar-se dos outros e a pensar neles como objectos.

A Realização Pessoal é usada para avaliar sentimentos de incompetência e falta de realização pessoal (8 itens: questões 4, 7, 9, 12, 17, 18, 19, 21). Maslach e Jackson (1981) descrevem esta dimensão do Burnout como uma tendência para avaliar negativamente, principalmente em relação ao trabalho com clientes. Uma pontuação elevada nesta sub-escala, indica que o indivíduo considera que vale a pena executar o seu trabalho e que está realizá-lo de uma forma digna. A frequência com que cada sentimento ocorre é avaliada numa escala tipo Likert de 7 pontos variando entre o mínimo de 0 (nunca) e o máximo de 6 (todos os dias). De acordo com Maslach e Jackson (1986) o critério para um “resultado elevado” de Burnout inclui não só uma pontuação no terço superior da distribuição de escores nas escalas de exaustão emocional e de despersonalização, mas também uma “pontuação” no terço inferior da distribuição dos resultados na escala de realização pessoal. Maslach e Jackson (1981) identificaram os valores mínimos e máximos do terço médio da distribuição normativa dos escores de Burnout para os profissionais de serviços humanos. Assim, na adaptação portuguesa do MBI, valores acima de 2.6 na dimensão de exaustão emocional e de 1.8 na despersonalização são indicadores de elevados níveis de Burnout. O mesmo acontece com valores

inferiores a 3.5 na dimensão da realização pessoal (nesta dimensão valores mais elevados são indicadores de menor Burnout) (Gomes & Cruz, 1999). O quarto instrumento é a adaptação feita por Jesus e Pereira (1994) da Escala C.J.S. de Latack (1986). Constatando a falta de instrumentos para avaliação das estratégias de Coping, Latack (1986) concebeu uma escala baseada em estudos empíricos anteriores e entrevistas com diversos profissionais. Esta primeira abordagem permitiu-lhe elaborar um primeiro conjunto de 64 itens para avaliar o Coping ligado ao stresse profissional. No mesmo item não poderiam estar combinados, simultaneamente, acção e reavaliação cognitiva, de forma a permitir avaliar a conceptualização estabelecida. A versão por que optámos é a adaptação portuguesa, realizada por Jesus e Pereira (1994). Com base, na avaliação da clareza dos itens, por parte de 4 juízes, foram escolhidos 52 itens (Jesus & Pereira, 1994). A análise da homogeneidade dos resultados obtidos nos diversos itens permitiu confirmar a existência de duas formas distintas de Coping, controlo ou estratégias proactivas e escape ou estratégia de evitamento em três situações específicas em relação ás quais as diversas estratégias foram analisadas, ambiguidade, conflito e sobrecarga de papéis. Por outro lado, os itens que avaliam a gestão de sintomas forma analisados relativamente à situação geral de tensão profissional, apresentando todos eles elevadas correlações item-total (Jesus & Pereira, 1994). Pareceu-nos ser uma boa medida de avaliação conceptual, no seguimento da revisão da literatura que temos vindo a realizar. Esta escala é constituída por 52 itens, sendo 17 de controlo (1 a 17), 11 de escape (18 a 28) e 24 de gestão de sintomas (29 a 52). Consistindo as estratégias de controlo em acções e reavaliações cognitivas que são proactivas; escape consistindo em acções e cognições que sugerem evitamento e Gestão dos Sintomas que consiste em estratégias para gerir os sintomas ligados ao stresse profissional e em geral. Nesse sentido os indivíduos devem responder segundo uma escala de 5 pontos de “quase nunca faço isso” (1) a “quase sempre faço isso” (5).

Documentos relacionados