• Nenhum resultado encontrado

Instrumentos para avaliar o desempenho dos idosos

3. Instrumentos

3.2 Instrumentos para avaliar o desempenho dos idosos

O perfil cognitivo de cada paciente foi avaliado por meio de testes de rastreio para delinear quais funções cognitivas estavam preservadas e quais, possivelmente, foram afetadas. Esta etapa foi importante para adequar o tratamento de estimulação cognitiva de acordo com o comprometimento cognitivo, além do nível intelectual e cultural dos pacientes.

A eleição dos instrumentos utilizados se deu em função de que os dados iniciais foram coletados quando os idosos foram admitidos no Programa do Idoso da Unidade Saúde-Escola da UFSCar, garantindo uma diferença superior a seis meses entre a aplicação dos instrumentos antes e após a intervenção, respeitando as normas para o uso destes instrumentos, a fim de controlar efeitos de treino entre os respondentes. Assim, para avaliar o desempenho dos idosos foram utilizados o Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) e a Escala de Pfeffer.

Não foram incorporadas outras medidas de eficácia para captar os ganhos cognitivos dos idosos porque instrumentos diferentes dos utilizados na admissão dos pacientes no Programa do Idoso seriam aplicados e reaplicados com diferença inferior a

59 seis meses. Não obstante, o foco da pesquisa não foi comprovar a eficácia da estimulação cognitiva, porque a literatura consultada já responde a esta questão. A preocupação nesta pesquisa foi de acompanhar alguns indicadores que pudessem marcar uma possível evolução no quadro de saúde do idoso, lembrando que a literatura mostra que a sobrecarga dos cuidadores aumenta conforme a dependência do idoso aumenta. Ou seja, por melhor que seja o programa de intervenção, os indicadores dos impactos nos cuidados seriam comprometidos se o grau de independência do idoso diminuísse neste período, mesmo que o motivo da diminuição estivesse relacionado com algum outro problema de saúde (por exemplo, uma queda resultando em uma fratura). Vale destacar que, em paralelo e atrelado ao trabalho com as cuidadoras, os idosos recebiam estimulação cognitiva ao longo do período de intervenção com as cuidadoras. Assim, não se esperava uma piora no desempenho intelectual dos idosos.

3.2.1 Mini-Exame do Estado Mental

O Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) é recomendado pelo consenso do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia para avaliar o nível de comprometimento cognitivo, tratando- se, portanto, de um teste de rastreio. A aplicação deste instrumento contribui para a identificação de pacientes com declínio cognitivo a serem encaminhados para investigação neuropsicológica mais detalhada (Aprahamian et al., 2009; Nitrini et al., 2005).

De acordo com Brucki, Nitrini, Caramelli e colaboradores (2003), além de ser um importante instrumento clínico para detecção de perdas cognitivas, o MEEM também pode ser utilizado no acompanhamento evolutivo de doenças, no monitoramento da resposta a um determinado tratamento e como ferramenta de pesquisa. Os autores citam ainda, que o MEEM tem sido utilizado em estudos epidemiológicos populacionais, integrando diversas baterias neuropsicológicas, como por exemplo, CERAD (Consortium to Establish a Registry for Alzheimer´s Disease), CAMDEX (Cambridge Mental Disorders of the Elderly Examination) e SIDAM (Structured Interview for the Diagnosis of Dementia of Alzheimer´s type, Multiinfarct

Dementia).

A pontuação do MEEM tem um espectro de 0 a 30 pontos, com várias notas de corte para escores abaixo de 24, dependendo do grau de escolaridade do respondente, e o instrumento tem sete categorias para avaliar diferentes parâmetros cognitivos:

60 orientação temporal (5 pontos), orientação espacial (5 pontos), memória de curto prazo (3 pontos), atenção e cálculo (5 pontos), evocação (3 pontos), linguagem (8 pontos) e capacidade construtiva visual (1 ponto) (Cassis, Karnakis, Moraes et al., 2007, Nitrini, Caramelli, Bottino et al., 2005). No Brasil, ao se traduzir o instrumento, observou-se que o nível educacional dos 530 indivíduos submetidos à triagem médica de um Hospital Escola de São Paulo interferia na interpretação dos resultados (Bertolucci, Brucki, Campacci et al., 1994). Assim, a equipe de Bertolucci propôs que os pontos de corte variassem de acordo com a escolaridade, para estabelecer um diagnóstico genérico de “declínio cognitivo”. Desta forma, os pontos de corte sugeridos por Bertolucci e colaboradores (1994) foram: 13 para analfabetos, 18 para escolaridade baixa ou média e 26 para alta escolaridade. Há outros critérios para se estabelecer as notas de corte e estas diferenças variam um pouco de um autor para outro, de acordo com as finalidades mais específicas envolvidas em cada caso (por exemplo, dispensa de medicação, participação em entrevistas que não requerem habilidades de leitura, escrita ou cálculo).

As principais vantagens de usar o MEEM são que é um instrumento de rápida aplicação (em torno de 10 minutos), pode ser aplicado por profissionais não médicos, é bem aceito pelos pacientes e é fácil pontuar o desempenho do idoso (Almeida, 1998). Porém, as principais desvantagens são que o MEEM, de fato, não pode ser empregado como exame diagnóstico, e sim, apenas como um teste de rastreio, o instrumento não avalia todas as funções cognitivas e ele pode apresentar falsos resultados em função de dificuldades em estabelecer a escolaridade efetiva de alguns respondentes, porque o número de anos de estudo é apenas um indicador geral da capacidade que um indivíduo deveria ter adquirido, no passado, para realizar tarefas envolvendo leitura, escrita e aritmética (Bertolucci et al., 1994).

Para o caso específico da doença de Alzheimer, os pacientes apresentam uma queda média do escore no MEEM de quase três pontos por ano (Morris, 1994; Salmon, Thal, Butters et al., 1990, ambos citados por Ávila, 2003). Assim, a versão do MEEM traduzida para uso no Brasil por Bertolucci e colaboradores (1994) foi utilizada como teste de rastreio cognitivo para os idosos participantes do estudo e para monitorar possíveis alterações na capacidade cognitiva dos idosos, até o final do período de intervenção.

61

3.2.2 Escala de Pfeffer

A Escala de Pfeffer avalia a funcionalidade de uma pessoa de acordo com seu grau de independência para realizar atividades instrumentais da vida diária (AIVDs). A pontuação da Escala de Pfeffer varia de 0 a 30 e, quanto maior o número de pontos, maior é a dependência do paciente, com um escore maior que 5 pontos estabelecido como sendo uma nota de corte que indica a dependência do indivíduo (Cassis et al., 2007).

A escala possui 10 itens relacionados à capacidade do indivíduo em realizar AIVDs, as quais indicam se a pessoa consegue levar uma vida independente. As AIVDs incluem a capacidade para fazer compras, preparar a alimentação, utilizar transporte, manter-se em dia com atualidades, prestar atenção em programas de rádio e TV e depois discutir sobre eles, cuidar da casa, usar o telefone, administrar as próprias finanças, tomar seus remédios (Duarte, Andrade & Lebrão, 2007).

O protocolo para aplicação deste instrumento determina que o cuidador é quem deve responder as perguntas contidas nos itens da escala. Cada um dos 10 itens tem a seguinte pontuação: “0 = capacidade normal para realização”, “1 = atividades feitas com dificuldade”, “2 = atividades realizadas com ajuda” e “3 = incapacidade de realizar a atividade” (Faleiros, 2009).

A Escala de Pfeffer foi utilizada para avaliar, assim, os idosos participantes do estudo a fim de avaliar o desempenho deles nas AIVDs antes e ao final do período de intervenção.

4. Procedimento de coleta de dados