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CAPÍTULO 2 – TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

2.3. Instrumentos

Para alcançar os objetivos do estudo, foram realizadas entrevistas semidirigidas de questões abertas e observações sistemáticas em cada instituição durante as reuniões de equipe.

A entrevista é uma das técnicas mais utilizadas no âmbito das pesquisas qualitativas. Ela é muito usada justamente pela sua flexibilidade aos mais diversos campos do conhecimento. A entrevista caracteriza-se pelo contato direto entre o pesquisador e o pesquisado (Turato,2003; Chizzotti, 1998). A partir dela, o pesquisador expressa perguntas com o intuito de obter os dados que lhe interessam e “a entrevista é, portanto, uma forma de interação social” (Gil, 1999, p.117).

Em função da pesquisa ter como sujeitos profissionais inseridos no âmbito da saúde mental, entendeu-se que o uso de tal técnica foi adequado, pois, por meio das entrevistas individuais, os profissionais puderam se manifestar espontaneamente, estabelecendo uma discussão sobre a temática, apontando criticamente suas opiniões e tendo uma participação ativa. Bauer & Gaskell (2005) ressaltam que toda pesquisa realizada com entrevistas se baseia na interação social, na qual as palavras são a principal fonte de trocas. Nesse sentido, a informação não é apenas um proceso de via única passando de um para o outro, pelo contrário, é uma interação de ideias e significados compartilhados por diversas realidades e diferentes percepções. Em decorrência disso, tanto os entrevistados como o entrevistador estão intimamente ligados na produção do conhecimento, mesmo que de modos diferentes.

Para os autores, é papel do entrevistador prestar atenção e estar interessado naquilo que o entrevistado fala, assim como introduzir o tema de uma conversação “pinçando um ponto e perguntando por mais alguns detalhes” (p. 83). Conforme a entrevista avança, o entrevistador precisa ter as perguntas na memória, conferindo casualmente os eixos que norteiam sua pesquisa, sem perder a atenção na escuta e no entendimento do que está sendo falado. É significativo viabilizar ao entrevistado um certo tempo para refletir, “e por isso as pausas não devem ser preenchidas com outras perguntas” (p. 83).

Nas entrevistas, manteve-se a orientação dos eixos norteadores: a) a prática do psicólogo no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS); b) atribuições do psicólogo e o “lugar” ocupado pelos psicólogos no contexto da saúde mental e, por fim, c) o trabalho multiprofissional e interdisciplinar. Gil (1999) refere que, ao formular as perguntas de sua entrevista, o pesquisador deve, em primeiro lugar, ter clarificado o que deseja fazer. A forma como essas questões serão colocadas e o seu conteúdo depende dos objetivos a que a pesquisa se propõe. Sendo assim, o pesquisador precisa formular as questões de um modo pelo qual responda a seus anseios e seus objetivos.

As entrevistas tiveram duração aproximada de uma hora. As mesmas foram realizadas em cada instituição onde se encontravam os profissionais com horário previamente agendado. Antes de iniciar a entrevista com cada profissional, foi realizado um rapport, no qual foram abordados os objetivos e os procedimentos do estudo e o TCLE foi assinado. Para o início da entrevista, o gravador de voz foi ligado. Essa forma de registro foi utilizada pela pesquisadora tendo em vista a liberdade que proporciona, evitando, contudo, afetar a espontaneidade do entrevistado (Turato, 2003). Todas as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas para a análise de dados.

A técnica de observação foi realizada em duas reuniões de equipe de cada Centro de Atenção Psicossocial onde a pesquisa foi desenvolvida, totalizando quatro observações. Cabe

ressaltar que as observações foram iniciadas após o termino das entrevistas. A observação enquanto instrumento de pesquisa não é entendida aqui como mera contemplação “beata e passiva”, nem tampouco como “... um simples olhar atento” (Laville & Dionne, 1999, p. 176), mas, principalmente, como um olhar ativo amparado por um tema, sendo a partir desta perspectiva que estaremos nos servindo desta técnica.

Corroborando com as ideias dos autores citados acima, para os quais a observação não é uma técnica exclusiva, combinando-se com outras técnicas e instrumentos, utilizamos estes sentidos para este estudo com a perspectiva de que ele nos auxilie na compreensão do fenômeno, ampliando o nosso olhar sobre o mesmo. Assim, entendeu-se que a entrevista semidirigida associada à observação contemplou os objetivos propostos.

Durante a observação, foram focados os aspectos referentes à participação do psicólogo e à integração com os demais profissionais, assim como as ações desenvolvidas por ele e as trocas estabelecidas com os outros integrantes da equipe. Procurou-se prestar atenção na realização de ações interdisciplinares, centrando-se o olhar na participação do psicólogo.

Quanto às reuniões de equipe na Instituição I, pode-se perceber que a mesma está estruturada da seguinte forma: das 8h até 10h, a reunião tem como foco os aspectos administrativos; das 10h até 11h30min-12h, ocorre a segunda parte da reunião na qual se discutem os casos atendidos no serviço. Nas observações, pode-se perceber uma participação ativa das psicólogas. Destaca-se que o momento da observação se deu no segundo tempo da reunião. Na Instituição II, as reuniões tiveram início às 8h15min e foram até as 12h. Não há uma organização em separado quanto aos aspectos a serem abordados, sendo que tanto aspectos administrativos quanto aqueles relacionados aos usuários são tratados neste espaço de tempo. A observação foi realizada durante toda a reunião e o registros das mesmas realizaram-se após o termino, através de um relato da pesquisadora guiados pelos eixos

citados anteriormente. O quadro a seguir permite visualizar os profissionais presentes nas observações.

INSITUICAO I INSTITUICAO II

Psicólogas Psicólogas

Assistente Social Assistente Social

Enfermeira Pedagoga

Estagiários de Psicologia Arterapeuta

Residente de Terapia Ocupacional Educadora Física

Residente da Enfermagem Enfermeira

Residente da Psicologia Técnica de Enfermagem

Fisioterapeuta Residente de Psicologia Estagiários de Psicologia Residente de Serviço Social

Tabela 2. Quadro de participantes durante as reuniões de equipe

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