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V —insufflciencia dos órgãos de defeza Uma vez constituída a insuíEciencia dos órgãos

No documento Auto-intoxicações gravidicas (páginas 34-41)

de defeza, é necessário estudar separadamente o que se passa, segundo foi o fígado ou o rim que cedeu, ou os dois, um secundariamente ao outro.

l.° Insufficiencia hepática pura:

a) Fistula d'Ech ou fistula porta cava.—Esta

insuíEciencia completa, realisada experimentalmente, mostrou que a urêa diminue, a relação do azote da urêa para o azote total era de 77,2 °/0 em logar de 89 °/o ; o acido úrico augmenta assim como o ammo- niaco, que era eliminado sob a forma de carbonato d'ammoniaco, que injectado- em cães reproduzia os accidentes.

Isto mostra, diz Hanot, que o fígado destroe e transforma, não só os venenos intestinaes, mas ainda os originados no organismo pela propria vida das cel- lulas. E aqui se nos mostra claramente e fora de toda a duvida o papel antitoxico do fígado sobre os venenos de desassimilação cellular geral.

b) Venenos conhecidos. — Ha o carbonato d'ammo-

xicação dada certamente a complexidade d'esta, tuas o único veneno que se tem podido isolar n'estes casos.

c) Pequenos signaes nervosos. — Vejamos o que ee passa no homem no qual o rim é sufficionte, não ha doença primitiva e portanto só se possa incriminar o fígudo; em que h a j a hepato-toxhemia pura.

Pondo de parte os accidentes nervos <s graves da hepato-toxhemia, geralmente percursores da morte, outros ha que poderemos chamar pequenos accidentés nervosos. São ainda a expressão da toxhemia e com- pletam o parallelo a estabelecer com a uremia nervo- sa, tacs são : o prurido, a cephalalgia, a somnokncia, as perturbações oculares.

Como nos será necessário enumerai os de novo para os compararmos com os que apresentam certas mulheres gravidas, não os mencionaremos aqui.

d) Sua pathogenia.— Parece que a destruicção final

da cellula hepathica se faz subitamente, apenas na apparencia ; é precedida, preparada por um certo grão de alteração.

E facilmente se comprehcndc que accidentes gra- ves levem um certo tempo a apparecer e sejam pre- cedidos d'um periodo d'accidentés muito ligeiros que podem mesmo passar despercebidos. — Estas perturba- ções nervosas podem sobrevir em dois estados différen- tes : a cholemia e a acholia

E como consequência d'estas theorias não devemos esquecer o papel preponderante que pode desempenhar a hereditariedade na producjão d'accidentés nervosos, mesmo d'origem toxica.

Ainda nos trabalhos de Charria Klippel, Stahl, etc. se sustenta o papel importante que as alterações do fígado occupam na etiologia da loucura.

e) Caracteres da urina.—Seria agora occasião d'es-

tudar detalhadamente a toxicidade urinaria e a per- meabilidade do rim que fica perfeita nos casos puros.

Mas o rim pode estar são, como succède na pneu- monia e deixar contudo no soro certos venenos, visto estes não serem dialysaveis. Parece que ha certos ve- nenos alcalóides combinados com albuminas e a prova d'isso está em que o soro aquecido deixa de ser toxi- co, por isso que as albuminas coagulam. O rim nada pode contra cilas ; mas desde que vem a convales- cença, ha desdobramento, deslocação, o alcalóide tor- na-sc dyalisavel e dá á urina uma toxicidade enorme.

Eis um bello exemplo de permeabilidade completa do rim retendo todavia, produetos que causam a morte. Todos estes factos encontraremos durante a pre- nhez.

Supponhamos que uma affecção destruetiva vem abolir as diversas funeções do fígado; d'ahi resultam uma serie de phenomenos tóxicos contra os quaes o

rim tentará luctar. Desde logo se observa então um augmento de toxicidade urinaria ao mesmo tempo que se encontrarão na urina diversas substancias anó- malas, fáceis de descernir pelos processos chimicos.

A funcção uropoietica do fígado estando perturbada baixará a urêa e esta será substituída por corpos me- nos perfeitos sob o ponto de vista excrementicio, ácidos conjugados o amtnoniaco, haverá uma diminuição mais ou menos sensível na relação do azote da urêa para o azote total.

As perturbações da acção do fígado sobre os albu- minóides e os seus derivados, traduzir-se-hão por albu- minuria e peptonuria ; as perturbações da funcção bili- genica, por icterícia ou pela apparição na urina de pigmentos biliares nonnaes ou modificados (bilipheina, hemapheina, urobilina).

As modificações da funcção glycogenica, produzem a glycosuria, de que podemos admittir duas varieda- des principaes; umas vezes ha super-actividade func- cional do fígado, excitação da glândula; d'ahi resulta uma glycosuria intermittente ligada a uma insufficien- cia do fígado que se torna incapaz de reter o assucar que em dados momentos a veia porta contem em ex- cesso. Bastará dizer que esta glycosuria apparecerá seguidamente á ingestão de substancias assucaradas ou feculentas ; será por assim dizer uma glycosuria

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alimentar. E finalmente a impossibilidade do fígado em reter as substancias toxicas terá como consequên- cia : quer uma retensão no organismo e uma morte rápida, quer uma eliminação pela via renal e por con- sequência uma hypertoxicidade urinaria.

É portanto estudando a urina que nós podemos obter noções sobre o estado das cellulas hepáticas ; e cujos principaes meios d'estudo são como já temos visto a dozagem da urêa e do azote total, a investi- gação dos ácidos conjugados e dos pigmentos normaes e modificados da bilis e da glycosuria alimentar e o estudo da toxicidade urinaria.

De novo referiremos cada um d'estes phenomenos ao estudar o diagnostico da insufficiencia hepática du- rante a gravidez.

d) As lesões que podemos encontrar no fígado

a seguir a estes accidentes, são sempre as lesões da doença primitiva, ou quando a insufficiencia é a con- sequência d'uma intoxicação, lesões de modificação absolutamente características.

Podemos referil-as a três typos : phlogose, steato- se e necrobiose.

2.° Imufficiencia renal pura — Occupar-nos-hemos

unicamente do caso d'uma insufficiencia renal primi- tiva e pui*a em virtude de lesão renal anterior.

comparáveis aos do liepatismo, pequeno brightismo de Dieulafoy, dedo morto, cephalea, perturbações da vista, etc., mesmo sem albuminuria.

Depois vêem secundariameute os phenomenos da uremia e do grande brightismo.

Mas devemos esquecer o quanto ó infiel n'este caso o signal fornecido pela analyse de urina sob o ponto de vista da albumina.

Hoje sabe-se perfeitamente que a albuminuria falta n'uni certo numero de casos, algumas vezes os mais graves.

b) N'estes casos a toxicidade urinaria diminue ao

mesmo tempo que a do sangue augmenta por reten- são.

8.° Insufficiencia associada do figado e do rim. — Não perderemos tempo a discutir se ha differenças clinicas no caso de ser. um ou outro dos órgãos o pri- mitivamente attingido. É facto que pôde haver in- sufficiencia renal, mas o contrario parece existir mais commummente e que na maior parte dos casos é o rim que exprimenta a influencia do figado.

b) Nos casos em que os dois são insufficientes, o

prognostico ó necessariamente grave e sob o ponto de vista clinico, chimico e anatomo-pathologico, encon- traremos um misto de tudo aquillo que acabamos de passar em revista.

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Poder-nos-hiam perguntar : como é que em caso de insuficiências hepathicas o surmenage resultante para o rim, basta para occasionar n'elle lesões, quando na nephrectomia um só rim se vê de repente arcando com o trabalho duplo, sem que geralmente soffra com isso.

Parece-nos que responderíamos bem, considerando que a doença do rim extrahido já tinha decerto habi- tuado o segundo a esse surmenage e que ella pode sem duvida fornecer mais trabalho em face dos venenos normaes do sangue do que em face dos venenos espe- ciaes, habitualmente retidos pelo fígado e que elle en- tão deixaria passar á circulação.

Huchard reconhece que as urinas se carregam d'albumina pelo facto da cellula hepática não desem- penhar o seu papel.

Rendu, por exemplo, admitte uma nephrite conges- tiva em virtude da passagem de substancias irritantes despresadas pelo fígado. Outros como Molière adniit- tem que a nephrite aguda é uma complicação das doenças do fígado e tendo também por causa a pas- sagem de substancias irritantes ou retidas pelo fígado e que assim ó possivel explicar certas doenças de Bright isentas de qualquer outro dado etiológico.

VI — Pathologia das auto-intoxicações

No documento Auto-intoxicações gravidicas (páginas 34-41)

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