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3 O CONHECIMENTO INTERDISCIPLINAR

3.2 Integração entre disciplinas no caso do ensino de design

Para efeito desta pesquisa que trata da interdisciplinaridade presente no âmbito de cursos de design cujo currículo tem por unidade estrutural disciplinas, considera-se oportuno destacar dois dos principais aspectos que delimitam esta discussão. O primeiro diz respeito à disposição das disciplinas do curso expostas na matriz curricular e o outro se refere aos principais atores envolvidos no processo de inter-relação entre estas disciplinas, alunos e professores, que influenciam e sofrem influências decorrentes da dinâmica presente resultado da integração característica dos cursos.

A discussão que suscita este processo gira em torno destes dois aspectos, envolvendo a utilização de termos que tratam da relação entre disciplinas no âmbito do currículo. Segundo Santomé (1998) as denominações giram em torno de termos como correlação, integração, interação, chegando aos currículos globalizado e interdisciplinar. Os autores que fundamentam este debate utilizam três principais ao se referirem aos diferentes níveis de envolvimento possíveis. Desta forma achou-se por bem verificar, com o auxílio do dicionário, os significados para as palavras utilizadas: inter-relação, integração e interação.

Constatou-se, a partir do sentido dos respectivos termos, que as palavras guardam distinções quanto aos níveis de envolvimento entre as disciplinas considerando fatores relacionados aos atores envolvidos que vão crescendo progressivamente, do mais fraco ao mais forte grau de envolvimento, ou seja, partindo da simples inter-relação, passando pela integração até chegar à interação, que segundo Fazenda (1992) seria o nível próprio à interdisciplinaridade propriamente dita. Estes fatores dizem respeito ao maior ou menor grau de aproximação dos atores entre si e em relação às disciplinas participantes do processo.

Buscando compreender os significados a partir da língua materna, expostos no Dicionário Aurélio (1975), foi possível identificar a inter-relação como uma simples “relação mútua”. A palavra integração, por sua vez, pode ser utilizada com o sentido de “ato ou efeito de integrar (-se)”, que significa “tornar inteiro”; “completar”; “juntar-se, tornando-se parte integrante”; “reunir-se”; “inteirar-se”; “incorporar-se no sentido de dar unidade”. Constatou-

71 se que “inteirar-se” diz respeito à “informar-se bem”, “cientificar-se” que por sua vez significa “tornar ciente”, “tomar conhecimento de”; e por fim “ciente”, relacionado àquele “que tem ciência” ou “conhecimento de alguma coisa”, “sábio”, “douto”.

Considerando a integração no âmbito do currículo, observa-se que todos os significados enumerados dizem muito quanto à necessária aproximação entre disciplinas indispensável à interdisciplinaridade. As palavras relacionadas no primeiro momento, “reunir”, “tornar inteiro”, etc. podem referir-se ao fato de juntar coisas separadas ou distintas ou mesmo completar aquilo que ainda não está completo, no caso, o conhecimento fragmentado, as disciplinas que se encontram isoladas dentro do currículo com limites e fronteiras que necessitam ser superadas; “inteirar-se”, por exemplo, pode referir-se ao professor que necessita “informar-se”, tornar-se “ciente” agindo com sabedoria, tornando-se “sábio” ao empreender esforços no sentido de aproximar-se e buscar tomar conhecimento do outro, da outra porção do saber que agora lhe é indiferente.

A palavra interação, neste sentido, quer dizer “ação que se exerce mutuamente entre duas coisas ou entre duas pessoas”; “ação recíproca”. Aprofundando-se no significado da palavra “ação”, segundo o dicionário Aurélio (1975), foi possível identificar os seguintes: “manifestação de uma força”, “capacidade de mover-se”, “de agir”, “movimento”, “funcionamento”, “exercício da força, do poder de fazer alguma coisa”. Na ética diz respeito à “realização de uma vontade que se presume livre e consciente”, em filosofia significa o “processo que decorre da natureza ou da vontade de um ser, o agente, e que resulta na criação ou modificação da realidade”.

Buscando refletir sobre as palavras relacionadas ao tema, é possível presumir que, no caso da interação, se a força se apresentar unilateral pode-se dizer que não existe interação; o movimento, a ação deve existir de ambos os lados interessados de forma consciente e livre, culminando na criação ou modificação da realidade. Evidentemente que, ao se considerar o conhecimento do outro além daquilo que é familiar, inevitavelmente ocorre a transformação, torna-se impossível pensar apenas a partir de si mesmo e daquilo que era conhecido, novas impressões somar-se-ão ao conhecimento anterior além das que existiam antes da aproximação, conhecimentos que se somam criam novas possibilidades de atuação que culminam na mudança, na inovação.

Em se tratando da utilização do termo interdisciplinaridade, como já foi mencionado anteriormente, os significados atribuídos relacionam-se à concepção própria de cada autor. Por exemplo, para Pring (1977 apud Santomé, 1998), interdisciplinaridade

72 constitui a inter-relação de diferentes campos do conhecimento com finalidades de pesquisa ou de resolução de problemas, não se originando desta relação novos conhecimentos. A integração, a seu ver, é um vocábulo mais adequado quando se trata de relação entre distintos conteúdos em instituições escolares, pois para ele significa a unidade das partes, que seriam transformadas de alguma maneira.

Por sua vez, a denominação currículo integrado, segundo Santomé (1998), resolve a dicotomia entre os currículos que se justificam a partir da globalização e daqueles resultados de debates a favor de maiores parcelas de interdisciplinaridade no conhecimento e da mundialização das inter-relações sociais, econômicas e políticas.

Fazenda (1992), por outro lado, ressalta que não se deve confundir a integração com a interação, imprescindível na interdisciplinaridade. A autora explica que a integração constitui uma etapa para a interação; a simples integração estaria presente apenas como justaposição de conteúdos de disciplinas heterogêneas, ou como integração de conteúdos numa mesma disciplina, exigiria apenas uma acomodação ao passo que além desta, na interação, é necessária certa sintonia e adesão recíproca, mudança de atitude, uma transformação frente a um fato.

Como é possível verificar, os diversos autores, ao tratar da interdisciplinaridade, utilizam os diferentes termos de acordo com suas respectivas concepções sobre o assunto, desta forma, em se tratando de citações ou de utilização do pensamento do autor, serão empregados os termos presentes na bibliografia consultada. No presente estudo utilizar-se-á o termo “integrar” com relação às disciplinas e ao “projeto integrado” em que professores de diversas disciplinas importantes para o desenvolvimento de projeto cooperam e participam do planejamento e da execução.

Entretanto, evidencie-se que, independentemente dos significados atribuídos aos termos, o mais importante a considerar quanto à interdisciplinaridade, refere-se à percepção da matriz curricular como o espaço em que distintas porções do conhecimento, manipuladas por sujeitos também diferentes entre si, tanto como indivíduos quanto como profissionais, necessitam se articular para a efetivação da integração. O desenvolvimento de metodologias de aprendizagem deve somar-se ao empreendimento no sentido da convergência indispensável, contribuindo para a consolidação de uma conduta de caráter permanente e autônoma por parte do aluno. Aprender a aprender, conceito instituído por Jarques Delors8

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“O aprender a aprender” ou “aprender a conhecer” constitui um dos quatro pilares da educação, segundo o relatório da UNESCO da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI, também conhecido como

73 constitui uma das recomendações mencionadas nas atuais DCN importantes para efetivação da interdisciplinaridade no âmbito do currículo.

É imprescindível a consciência de que somente o desenho curricular não é suficiente para a efetivação da interdisciplinaridade; além de um planejamento, torna-se indispensável o empenho por parte dos integrantes do processo, principalmente professores e alunos. O desenvolvimento da capacidade estudantil para a busca do conhecimento constitui um aspecto importante, considerando a impossibilidade da presença física constante do professor junto aos alunos.

Atualmente a educação tem sido destacada pela legislação como um processo permanente a acompanhar o indivíduo por toda a sua vida. Este pensamento vem orientar os níveis de ensino com relação ao planejamento dos PPP considerando, no caso, a graduação, apenas como uma das fases de aquisição do conhecimento. Assim, o profissional formado precisará sempre estar se atualizando e descobrindo novas formas de atuar a fim de acompanhar as transformações características da atualidade. É nestes termos que as DCN estabelecem que a graduação não deva ter a pretensão de formar um profissional acabado. À fase de graduação caberia dar o embasamento, estimulando o aprendizado autônomo e buscando potencializar certas habilidades imprescindíveis às adaptações necessárias ao mercado de trabalho mais imediato.

É possível então, a partir da visualização dos significados, utilizar os termos mencionados sem prejuízo do entendimento, apenas atentando para o nível de envolvimento presente em cada situação. No caso da inter-relação o envolvimento se restringirá à relação mútua sem implicar em aproximações definitivas que determinem modificações nas disciplinas envolvidas; a integração, por outro lado, já pressupõe um envolvimento maior no sentido de aproximar, reunir o que se apresenta distante, levando em consideração o interesse consciente de ambas as partes (informar-se, tomar conhecimento) no sentido de promover a aproximação culminando na sabedoria a partir do que foi possível conhecer através do outro; a interação, por sua vez, pressupõe o movimento, a ação mútua que ao mesmo tempo em que influencia acaba por modificar.

Transportando estas reflexões para o âmbito da organização curricular, é possível deduzir que mesmo que as disposições das disciplinas dentro do espaço e tempo tenham sido Relatório Jarques Delors. As teses defendidas nesse relatório – que envolvem a educação básica e universitária – voltam-se, segundo os seus autores, para o desenvolvimento humano, com especial destaque para o papel dos professores como agentes de mudança. Esse Relatório foi publicado sob o título: “Educação – um tesouro a descobrir”

74 planejadas de forma a promover a convergência necessária no sentido da interdisciplinaridade, o mais importante, o imprescindível é que os envolvidos, principalmente professores e alunos, busquem reunir, completar, inteirar-se, incorporar-se, informar-se, tomar conhecimento, tornar-se cientes, sábios, movimentar-se, ter vontade a fim de ir aos poucos, progressivamente, galgando níveis de envolvimento buscando atingir a interação.