• Nenhum resultado encontrado

4.4.9 – Integração de monitoramentos trimestrais e decadais – análises do presente, passado e futuro

As escalas de tempo decadal e trimestral são importantes no monitoramento de dinâmica costeira (erosão/acresção sedimentar). A escala decadal é importante no conhecimento do comportamento histórico e da tendência de variação da LC, o que permite realizar o prognóstico de evolução da LC. A escala trimestral, por sua vez, é importante para o entendimento dos efeitos da atuação dos agentes dinâmicos costeiros (ventos, ondas, correntes de maré e de deriva litorânea) sobre a LC, em alta resolução espaço-temporal e na escala de detalhe. Nesse caso, as LC devem ser geradas em épocas cujos parâmetros dos agentes dinâmicos sejam conhecidos e tais épocas devem levar em consideração a sazonalidade das alterações dos parâmetros, que é responsável pela dinâmica sedimentar costeira na escala de tempo trimestral, ou seja, pelo ciclo natural de construção e destruição das praias. Os resultados do monitoramento trimestral podem ser extrapolados no tempo para serem utilizados como base para explicar as alterações ocorridas no domínio decadal, o que contribui para o estudo integrado das causas e consequências da erosão costeira ocorrida ao longo das décadas.

Souto (2009) estudou a variação histórica da LC na área de estudo com imagens de satélites de 10 datas distintas em um período de 15 anos (1988 a 2003). Como exemplo dos resultados, a Ilha Ponta do Tubarão, localizada na porção central da área de estudo, migrou 692 m no sentido WSW e sofreu intensa erosão com uma redução de área de 51%. Já Nascimento (2009), com uso de imagens de satélites e fotografia aéreas entre os anos de 1954 a 2007, detectou as épocas das aberturas dos canais de maré com as conseqüentes formações da Ilha do Fernandez e da Ilha Ponta do Tubarão, entre o final da década de 70 e o início da década de 80. De modo geral, na visão temporal em escala decadal, toda a área costeira em estudo sofreu com modificações na LC (erosão e transporte sedimentar) e o balanço sedimentar areal indicou intenso processo erosivo, com o deslocamento das ilhas barreiras e abertura e fechamento de canais de maré e ilhas.

Na escala trimestral os resultados do presente trabalho mostraram a alternância em erosão e acresção entre os intervalos trimestrais de monitoramento devido ao ciclo anual de construção e destruição das praias, com predominância em erosão nas praias expostas na maior parte do ano e balanço sedimentar negativo para esses trechos. A intensa erosão

costeira ocorrida nas praias expostas ao longo do ciclo anual sem o suprimento sedimentar adequado gerou um déficit anual e o aumento da sensibilidade das praias. Isso indicou que ao longo dos ciclos anuais os estoques sedimentares estão sendo reduzidos e que está ocorrendo o aumento da fragilidade das praias no final dos períodos destrutivos. Essas variações nos ciclos anuais foram responsáveis pelos grandes déficits sedimentares ocorridos nas últimas décadas na área de estudo e pelas intensas alterações na paisagem das praias e ilhas, como mensuradas nos trabalhos anteriores (Nascimento, 2009; Souto, 2009). Ainda, atuação dos agentes dinâmicos costeiros (ondas, ventos e correntes) provocou o crescimento das praias e ilhas no sentido Oeste (no setor Oeste) e no sentido Sul (setor Leste) ao longo do ciclo anual. Portanto, os sucessivos ciclos anuais de construção e destruição das praias, com o aumento da sensibilidade das praias, foram responsáveis pelo deslocamento das ilhas e dos canais de maré no sentido WSW ao longo das décadas.

Ainda na ótica trimestral, o segundo e o terceiro intervalos (agosto/2010 a novembro/2010 e novembro/2010 a fevereiro/2011) foram os de mais intensa erosão costeira (Figuras 4.5 a 4.8) ao longo do ciclo anual. Nas ilhas barreiras, o intenso recuo da LC no segundo intervalo na porção Leste provocou o processo de lavagem da ilha no qual o espraiamento das ondas da maré de sizígia ultrapassaram a ilha da margem Norte à margem Sul, sem o rompimento da mesma. A continuação do processo de recuo da LC e o efeito de sobrelavagem (washover) na ilha provocaram seu deslocamento no terceiro intervalo, com a remoção e transporte de sedimentos da margem Norte e acresção na margem Sul, processo esse favorecido pelo fluxo hidrodinâmico de maior calmaria na margem Sul (estuário). Dessa forma, o segundo e o terceiro intervalos de monitoramento se caracterizam como os períodos do ano mais críticos para a abertura de novos canais de maré e a consequente formação de novas ilhas. Isso explica porque as aberturas dos canais de maré que geraram as ilhas barreiras da Ponta do Tubarão e do Fernandez ocorreram nos meses de verão, de acordo com o monitoramento decadal realizado por Nascimento (2009).

A escala de tempo decadal também pode ser utilizada com eficiência no prognóstico de variação da LC. A partir da regressão linear de LC obtidas por imagens de satélites multitemporais decadais, Franco (2010) realizou o prognóstico da erosão costeira na área de estudo para os anos de 2020, 2030 e 2040. De acordo com os resultados, a Ilha Ponta do Tubarão desaparecerá em 2020, expondo os campos petrolíferos de Serra e Macau (na Praia de Soledade) às ondas de mar aberto, além da destruição dos estuários de Barreiras e Diogo Lopes; a Ilha do Fernandez recuará 250 m no sentido N-S e se fragmentará em vários segmentos. Em 2040 o cenário é mais agressivo, no qual as ilhas desaparecerão por completo.

Vale destacar que os resultados obtidos no prognóstico feito pelo autor não levaram em consideração o aumento no nível médio dos mares. No entanto, Souto (2009), a partir de imagens de radar, gerou modelos estáticos de elevação do nível do mar para cenários futuros de elevação de 1 a 6 m, nos quais foi possível estimar áreas susceptíveis á inundação devido à elevação do nível do mar para esses cenários. Estes modelos foram desenvolvidos de acordo com a metodologia e os resultados propostos por Roeley et al. (2007 apud Souto, 2009) que, a partir do monitoramento das massas das calotas de gelo estimaram que o nível do mar pode variar de 1 a 6 m nos próximos 100 anos. De acordo com os resultados, para a elevação de 1 m no nível dos mares, por exemplo, os municípios de Macau e Guamaré estão entre os mais afetados pela inundação e as Ilhas Ponta do Tubarão e Fernandez desapareceriam.

4.4.10 – Importância das ilhas barreiras e dos canais de maré no controle da