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Integração social no trabalho

4.4 UNIDADE DE ANÁLISE: EXPATRIADOS

4.4.9 Integração social no trabalho

Integração social no trabalho refere-se às oportunidades de o trabalhador se expressar, desenvolver habilidades individuais e se relacionar, o que, conforme Walton (1979), é um elemento importante

para a qualidade de vida no trabalho. Na maioria das vezes, os profissionais são escolhidos para a missão da expatriação por algumas razões que não a habilidade de se relacionar, que é uma habilidade essencial para o sucesso da expatriação (Sagiadellis & D´Netto, 1997). Mas, como acontecem os processos de aprendizagem e as interações sociais em países com costumes, valores e idiomas diferentes?

A ausência de preconceitos é um pré-requisito importante, que compõe a habilidade de se relacionar, e é comum que em relações entre indivíduos de diferentes culturas existam preconceitos que precisam ser trabalhados para que sejam dissolvidos. Então, como esses profissionais conseguem driblar o paroquialismo? Percebe-se que, dentre os expatriados entrevistados, existe uma pequena, porém importante constatação de paroquialismo, que pode ser vista no relato de um dos profissionais: “é desmotivante trabalhar com pessoas incompetentes e equipes mal geridas, que não atingem bons resultados” (Chidu). O discurso de Chidu representa um exemplo do paroquialismo citado por Homem e Tolfo (2004). Para os autores, os estrangeiros geralmente consideram o seu jeito de agir como o mais adequado e dispensam qualquer outra forma de agir, já que a sua forma é a melhor. Chidu parece enfrentar esse tipo de sentimento, já que, por diversas vezes durante sua entrevista, relata situações de trabalho e critica sempre a forma de trabalhar do indiano. Lentidão nos processos e falta de conhecimento para executar os projetos planejados, de fato, são problemas, porém, o expatriado não evidencia, em seu discurso, que reconhece alguns aspectos positivos no “jeito indiano de trabalhar”. A diferença cultural e de idioma já por si são elementos que dificultam a comunicação e a convivência do expatriado com os profissionais locais. Portanto, a habilidade de se relacionar e as iniciativas da empresa para promover a socialização e a integração social contribuem para o aumento da integração social (Hung-Wen, 2006).

Dentre os entrevistados na Índia, todos eles concordam que a diferença cultural afeta as relações e influencia a qualidade de vida no trabalho: “Quando eles falam na língua deles, e não no inglês, isso incomoda, dá a sensação que estão falando da gente” (Rakesh). A dificuldade do idioma e a diferença na forma de resolução de problemas acabam criando uma barreira para a aproximação social e dificultam os procedimentos internos da organização: “O assunto, que era pra ser resolvido no Brasil em três dias, você leva um mês pra resolver, por barreiras que têm burocracias e um monte de outras questões e você

acaba não resolvendo” (Ravi). A relação social também parece ser importante para a construção de vínculos de confiança, como relata Ken:

As pessoas vão perceber que você não é melhor nem pior quando percebem que você é igual a eles. Mas pra você se colocar no mesmo nível e na mesma situação que eles, é preciso conviver fora da empresa com eles, é você ir visitar, passear junto, pra aumentar essa cumplicidade que reflete no trabalho. (Ken)

Dentre as diferenças culturais percebidas pelos expatriados para a Índia estão: a higiene do indiano; a forma de trabalhar, que geralmente é agachado no chão ao invés de usarem uma bancada; a forma como os subordinados são tratados pelos seus supervisores; o comprometimento e a responsabilidade com o trabalho e ritmo mais lento na sua execução. Os expatriados relatam que os indianos sabem planejar bem os trabalhos a serem executados, porém possuem sérias dificuldades para executar o planejamento, já que o tempo deles é diferente e que o work around é muito comum e inclusive é chamado de djugar.

Essas e outras diferenças podem ser melhor visualizadas no Quadro 28 e em três relatos a seguir:

1) Organização, limpeza e visão. A gente é diferente deles nessas áreas.

2) Eles trabalham agachados no chão.

3) Eles valorizam e respeitam a hierarquia, é normal um supervisor dar um tapa na cara de um indiano.

4) Eles são preguiçosos.

5) São vegetarianos e não usam o banheiro como nós. (Hannamanta)

É ruim ter que ficar gritando com eles, mas é normal pra eles, porque aqui o indiano dá tapa na cara do subordinado. O cara fez algo de errado, o supervisor chega e bate na cara, e o outro vira do lado e sai pra fazer o que não tinha feito. (Hannamanta)

Isso ai foi falado pra nós e que tu não pode de forma alguma, tu pode até ser rude, mas de forma alguma ter algum contato com eles físico. (Paveem)

Quadro 28 – Principais diferenças culturais de Índia e China, se comparadas ao Brasil

Diferenças culturais entre Índia e Brasil

Diferenças culturais entre China e Brasil

- funcionários fazem o tea time duas vezes ao dia, durante o expediente;

- fumam durante o expediente;

- os muçulmanos fazem orações no local de trabalho, às 15h;

- se alimentam de coisas muito diferentes das nossas, como carne de cachorro, sapo, tubarão, bicho da seda, sopa de arroz;

- o cheiro é característico do país e está na roupa, na água do chuveiro, na comida, no ar;

- fumam dentro de ambiente fechado, inclusive nas reuniões de trabalho;

- sistema de castas, apesar de abolido, ainda orienta os indianos;

- o funcionário chinês não tem vínculo empregatício, portanto o comprometimento é menor;

- não utilizam papel higiênico; - invernos muito rigorosos; - vaso sanitário sem o bacio, apenas

um “buraco”. - cultura protecionista; - utilizam o e-mail para formalizar

qualquer solicitação de trabalho;

- não respeitam filas;

- planejam muito, mas não conseguem executar;

- não trabalham no ritmo brasileiro;

- são morosos; - não costumam trabalhar com metas bem definidas;

- trabalham agachados no chão; mesmo com a presença de bancadas;

- ingerem mais bebida alcoólica.

- dificilmente utilizam cadeiras no local de trabalho;

- roupas bem coloridas, mas não se vê esse colorido nas cidades; - trânsito desorganizado;

- são menos organizados no trabalho; - alimentação com muita pimenta e

vegetariana;

- comem carne de búfalo;

- falam vários dialetos ao invés de um único idioma no país;

- legislação trabalhista diferente e permite trabalhar aos domingos e até nove dias direto;

- o tratamento com mulheres é diferente, você não pode estender a mão para cumprimentá-las; - não tomam banho diariamente; - água não pode ser ingerida; - desnível social é diferente do

Brasil: ou são muito ricos ou são praticamente miseráveis;

- não ingerem bebida alcóolica, na maioria das atividades sociais; - problemas na gestão de equipes; - a amizade entre os homens permite

uma proximidade física maior (andar de mãos dadas na rua, sentar no colo do amigo na hora do chá).

Fonte: dados primários coletados pela pesquisadora (2014).

Apesar de o Quadro 28 mostrar uma mistura de constatações por parte dos expatriados, avaliações pessoais e também preconceitos, pode- se dizer que o desrespeito está presente dentro da indústria onde os expatriados estão, pois inclusive diante de um contato físico havido entre um funcionário da empresa terceirizada em um funcionário da Ind.TM, nenhuma providência foi tomada a respeito, e esse tipo de

comportamento acaba sendo compreendido como normal dentro do ambiente de trabalho, pois é culturalmente aceitável entre pessoas de diferentes posições hierárquicas.

Para os expatriados na China não é diferente, todos afirmam sentir influência da diferença cultural na integração com os locais. Relatos apontam maior diferença na forma como os chineses se comprometem com o trabalho, nos rituais culturais que são aplicados ao ambiente de trabalho, como a hora do chá e a hora de fumar:

Além da língua, na China, durante uma reunião, se você não fuma, eles já ficam "meio assim". Eles são mais lentos, não têm a mesma habilidade que o brasileiro para montar ônibus. Os chineses não produzem como brasileiros, então a produtividade deles é um problema. A língua é outra barreira. Aqui tem muita rotatividade de funcionários, porque o chinês não tem vínculo empregatício com a empresa, ele pode até não "vim" mais trabalhar no dia seguinte. (Ni Hao)

Uma característica cultural trazida por um dos entrevistados na China é o estabelecimento de relações através do conceito de "guanxi", que significa relacionamento. Ele comenta que as relações comerciais muitas vezes carecem de documentação legal para firmar um negócio, apenas contam com o bom relacionamento entre as partes e a confiança mútua.

Apesar de oito dos expatriados para Índia e China afirmarem que a integração e a convivência social com os locais é importante, também relatam ser visível, como afirma Hung-Wen (2006), que as diferenças culturais e linguísticas tornam ainda mais difícil a convivência com os profissionais locais: “O nível de amizade dos homens aqui, ela é muito elevada. Pra teres ideia, eles caminham de mãos dadas na rua e abraçadinho um no pescoço do outro” (Chidu).

Porém, apesar das diferenças e da dificuldade de lidar com elas, os expatriados acreditam que a socialização propiciaria uma maior aproximação entre os profissionais e melhoraria o vínculo de confiança entre eles. Isso mostra a incompreensão e total desconhecimento por parte dos expatriados sobre o conjunto da comunidade e da sociedade, da cultura anfitriã onde estão inseridos, e a necessidade de uma preparação por parte da organização, sobre a cultura anfitriã.

As formas relatadas como mais comuns de socialização são: eventos oferecidos pela empresa ou a convite dos profissionais locais e jogos de sinuca e futebol. Aprender algumas palavras no idioma local é citado por dois dos expatriados como elemento importante para aproximação e estabelecimento de um vínculo de mais confiança.

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