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inteligência , criatividade e competência em informação:

uma articulação necessária no

contexto social contemporâneo

Regina Celia Baptista Belluzzo Glória Georges Feres

I n t r o d u ç ã o

No mundo contemporâneo, diante de mudanças ocasionadas pela globalização e pela emergência de parâmetros de natureza tecnológica há a preocupação com a transição para a “sociedade da informação” ou “sociedade do conhecimento”, denominações sob a ótica da agilidade das inovações e as novas demandas em

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relação às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e o enfrenta- mento de seus impactos e desafios.

Do ponto de vista sociológico desse cenário, decorre a existência de no- vas estruturas sociais onde tempo e espaço têm novos significados a partir de crescimento exponencial de informação e de infoestruturas disponibi- lizadas e aliadas às novas formas de pensar e agir, emergindo a agregação de valor a uma economia informal e à cultura da informação, o que requer novas competências justapostas e análogas às emergentes manifestações do chamado “analfabetismo funcional” (informático, idiomático e da informa- ção). (PICARDO, 2002)

Esse contexto social contemporâneo, por sua vez, requer postulados de formação e desenvolvimento dessas competências para responder ade- quadamente às necessidades deste nosso tempo. Alguns deles podem ser destacados: a globalização como horizonte significativo e marco de referência; a flexibilização dos saberes; as destrezas e as normas; atenção às conexões humanas e em rede; os interstícios e as interfaces midiáticas e tecnológicas; a consciência de limites para as capacidades humanas e das potencialidades da natureza; o contínuo acesso, compartilhamento e o intercâmbio de informações, mensagens, símbolos em escala mundial e cul- tural; a valorização da diversidade cultural, biológica e natural; e a renova- ção acelerada da realidade em que vivemos.

Esses postulados trazem consigo a necessidade de dotar as pessoas dos conhecimentos, métodos e técnicas, habilidades e atitudes, condições neces- sárias à inserção e atuação adequada nesse contexto mediante a articulação entre os princípios e conceitos que envolvem as temáticas: inteligência, cria- tividade e competência em informação. Isso possibilitará que possam ana- lisar as situações com o espírito crítico frente aos diferentes paradigmas da modernidade, além da autonomia para se desenvolver frente às diversidades e à multiculturalidade enquanto características sociais dominantes, a versa- tilidade para sua adaptação às situações novas, e a disposição para aprender ao longo da vida, agregando valor à informação e ao conhecimento.

Com base nessas premissas, busca-se apresentar ideias iniciais e concep- ções para que se possa proceder à melhor compreensão do tripé inteligência,

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criatividade e Competência em Informação (CoInfo) – áreas de interesse para a ciência da informação – o que implica em: desenvolver as habilida- des para reconhecer necessidades de informação e satisfazê-las por meio da localização e avaliação; desenvolver processos mais complexos que vão além do simples manejo e processamento das informações, implicando também no desenvolvimento de habilidades cognitivas que lhes permitam acessar e selecionar diferentes documentos de fontes de informação de natureza vária, agregando-lhes valor, transformando os dados em informação e a informação em conhecimento. Assim, o propósito é despertar a atenção para a importância de dotar as pessoas das capacidades necessárias para inte- ragir com efetividade no acesso e uso da informação, retirando o máximo proveito desses processos de modo a possibilitar a geração de conhecimento e sua transferência e aplicabilidade à realidade econômica e social em que se inserem.

O c o n t e x t o s o c i a l , i n f o r m a ç ã o e c o n h e c i m e n t o :

b r i e f i n g

Nossa sociedade é caracterizada por pluralidade: falamos, compartilha- mos, acreditamos, temos elos com a diversidade. Entretanto, desde algum tempo as expressões “sociedade da informação” e “sociedade do conheci- mento” entraram em nosso cotidiano de modo singular.

Mas isso suscita um questionamento: afinal vivemos em uma sociedade da informação ou sociedade do conhecimento? É preciso diferenciar alguns conceitos e princípios que visam a caracterizar uma realidade existente ou emergente daqueles que expressam uma visão – ou desejo – de uma so- ciedade potencial. Entretanto, todos têm sua relevância: por sua contri- buição à análise e porque orientam políticas e ações. Desse modo, em um primeiro momento, ressalta-se Manuel Castells (2000) que prefere o termo “sociedade informacional” ao invés de “sociedade da informação” (fazendo a comparação com a diferença entre indústria e industrial). Ele destaca que,

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embora o conhecimento e a informação sejam elementos decisivos em todos os modos de desenvolvimento,

O termo informacional indica o atributo de uma forma específica de organização social na qual a geração, o processamento e a transmissão de informação se con- vertem nas fontes fundamentais da produtividade e do poder por conta das novas condições tecnológicas surgidas neste período histórico. (CASTELLS, 2000, p. 7)

Além disso, esse autor ainda menciona que o contexto social contempo- râneo é caracterizado por uma revolução tecnológica, onde não é o caráter central da informação e do conhecimento que prevalece, salientando que é fator preponderante à aplicação desta informação e do conhecimento em aparatos de geração de conhecimento e de processamento/comunicação da informação, existindo um círculo de feebdback acumulativo entre uma ino- vação e seus usos observando também que a difusão da tecnologia amplifi- ca infinitamente seu poder ao se apropriar de seus usuários e redefini-los. As tecnologias da informação e da comunicação não são apenas ferramen- tas para se aplicar, mas processos a serem desenvolvidos, sendo que pela pri- meira vez na história, a mente humana é considerada uma força produtiva direta, não apenas um elemento decisivo do sistema de produção. Com rela- ção à sociedade do conhecimento, foi ressaltado que se trata de uma socie- dade na qual as condições de geração de conhecimento e processamento de informação foram substancialmente alteradas por uma revolução tecnológi- ca centrada no processamento de informação, na geração do conhecimento e nas tecnologias da informação.

Por sua vez, Yves Courrier (apud BURCH, 2005), referindo-se a Castells, diferencia os dois termos desta forma: a sociedade da informação coloca a ênfase no conteúdo do trabalho (o processo de captar, processar e comuni- car as informações necessárias), e a sociedade do conhecimento nos agentes econômicos que devem possuir qualificações superiores para o exercício do seu trabalho.

Falar da sociedade da informação, por um lado, refere-se a um novo paradigma de desenvolvimento que, muitas vezes, identifica a tecnologia

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como a maior causa do novo ordenamento e desenvolvimento sociais, po- dendo ser considerada uma questão de tempo e uma decisão política para a sua implementação em países em desenvolvimento. Adotando-se, porém, outro enfoque, acredita-se que essa sociedade corresponde a uma nova eta- pa de desenvolvimento humano e que se caracteriza pelo predomínio que alcançou a informação, a comunicação e o conhecimento na economia em conjunto com as atividades humanas. Assim, a tecnologia é o suporte que desencadeou a aceleração desse processo, não podendo ser considerado como um fator neutro, uma vez que é motivado por inúmeros interesses. Sob essa perspectiva, as políticas de desenvolvimento da sociedade da infor- mação centram-se nos seres humanos, devendo conceber-se em suas neces- sidades e nos marcos de direitos humanos e da justiça social.

Werthein (2000, p. 72), ao abordar a sociedade da informação e efetuar explicações sobre ela, menciona que:

O foco sobre a tecnologia pode alimentar a visão ingênua de determinismo tec- nológico segundo o qual as transformações em direção à sociedade da informa- ção resultam da tecnologia, seguem uma lógica técnica e, portanto, neutra e es- tão fora da interferência de fatores sociais e políticos. Nada mais equivocado: processos sociais e transformação tecnológica resultam de uma interação com- plexa em que fatores sociais pré-existentes, a criatividade, o espírito empreende- dor, as condições da pesquisa científica afetam o avanço tecnológico e suas apli- cações sociais.

Quanto à sociedade do conhecimento, pode-se dizer que se traduz em uma visão mais integral e um processo essencialmente humano. Para Pellicer (1997, p. 88) as informações constituem a base do conhecimento, mas a aquisição deste implica, antes de mais nada, o desencadear de uma série de operações intelectuais, que colocam em relação os novos dados com as informações armazenadas previamente pelas pessoas. Desse modo, o conhecimento é adquirido quando as diversas informações se inter-relacio- nam, criando uma rede de significações que se interiorizam. Na atualidade, uma preocupação é provocada pela tecnologia – o fato de que as pessoas acreditam que apenas o acesso à informação já é condição de conhecimento.

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No entanto, o conhecimento é entendido como a capacidade das pessoas têm ao acessarem a informação em desenvolver uma competência reflexi- va, buscando relacionar múltiplos aspectos em função de um determinado tempo e espaço e de estabelecer conexões com outros conhecimentos e de utilizá-los em seu cotidiano, segundo Pelizzari e colaboradores (2001-2002).

Assim, é possível destacar também a menção de Rezende e Abreu (2000, p. 60), quando referem que:

Embora exista uma relação entre informação e conhecimento, há uma distinção entre os dois conceitos: Informação é todo o dado trabalhado, útil, tratado, com valor significativo atribuído ou agregado a ele, e com um sentido natural e lógico para quem usa a informação. O dado é entendido como um elemento da informa- ção, um conjunto de letras, números ou dígitos, que, tomado isoladamente, não transmite nenhum conhecimento, ou seja, não contém um significado claro. Quando a informação é ‘trabalhada’ por pessoas e pelos recursos computacio- nais, possibilitando a geração de cenários, simulações e oportunidades, pode ser chamada de conhecimento. O conceito de conhecimento complementa o de informação com valor relevante e de propósito definido.

Ressalta-se que na opinião de Varela e Barbosa (2012, p.143):

O manejo da informação, como recurso mediador e estruturante para se chegar ao conhecimento, é não só uma questão de bem-estar social, bem como decorre dos sistemas sociais, políticos e econômicos que estruturam a sociedade con- temporânea, baseada em uma economia de mercado efervescente, competitivo e forte, em permanente busca por inovação. Este contexto está ancorado em soluções tecnológicas concebidas na perspectiva de registrar, ordenar e disse- minar a informação, proporcionando um novo modelo de acesso e apropriação dos diversos recursos informacionais e um diálogo muito mais interativo entre pares, o que, consequentemente, muda também a dinâmica da produção e difu- são do conhecimento.

Para que possamos considerar a sociedade da informação rumo a uma sociedade do conhecimento é necessário que sejam estabelecidos critérios

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para organizar e selecionar as informações e não simplesmente ser influen- ciado pelos fluxos de informação disponíveis, pois, “a dinâmica da socieda- de da informação requer educação continuada ao longo da vida, que per- mita ao indivíduo não apenas acompanhar as mudanças tecnológicas, mas sobretudo inovar”. (TAKAHASHI, 2000, p. 7)

Para tanto, não basta que as pessoas tenham competências para o uso das TIC, ou seja, saber navegar na internet ou então dominar habilidades no manuseio de softwares ou aplicativos, mas, sobretudo, desenvolver compe- tência para fazer uma leitura crítica das informações que estão disponibili- zadas em rede. É preciso que sejam desenvolvidas competências cognitivas necessárias para transcender do pensamento fundamentado no elementar e nas superficialidades e alcançar o pensamento crítico que envolve a reor- ganização dinâmica do conhecimento de forma significativa e utilizável – avaliar, analisar e relacionar. (JONASSEN, 2007)

É preciso também ressaltar as afirmações de Varela e Barbosa (2012, p. 143), uma vez que esclarecem:

O conhecimento sempre foi reconhecido como fator desencadeante do desen- volvimento, no entanto, é na contemporaneidade que sua produção se intensifica e sua aplicação assume papel preponderante. As necessidades de informação são muitas, refletindo a extensão e a diversidade de preocupações com os aconteci- mentos e mudanças do mundo externo. Por outro lado, a atuação e a capacidade cognitiva do homem são limitadas, o que o obriga a uma seleção das informações às quais dará atenção. As necessidades de informação nascem de problemas, in- certezas e ambiguidades encontradas em situações e experiências específicas. Tais situações e experiências são as interações de um grande número de fatores relacionados não apenas à questão subjetiva, mas também à cultura, aos limites na execução de tarefas, à clareza dos objetivos e do consenso, ao grau de risco, às normas profissionais, à quantidade de controle, etc. Portanto, não estamos apenas preocupados com o significado da informação, mas sim com as condi- ções, padrões e regras de uso, que tornam a informação significativa para deter- minados indivíduos em determinadas situações.

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Ressalta-se, ainda, que precisamos considerar que a característica mar- cante do atual cenário social é de total complexidade e incertezas nas mais variadas esferas: na economia, na política, na cultura e, principalmente, na educação, área que certamente deverá cada vez mais estar voltada para ações estratégicas de atenção primária às necessidades das pessoas que vivem em uma sociedade caracterizada por mudanças constantes e ágeis e, onde a informação – como acessá-la e usá-la com inteligência e criatividade para a construção do conhecimento e sua aplicação à realidade social – se tornou um bem de valor que se denomina “competência em informação”.

Diante do cenário apresentado, podem ser destacados alguns desafios. O primeiro deles é tentar garantir a democratização do acesso às diferentes formas, meios e fontes por onde circula a informação a fim de possibili- tar a construção de uma sociedade mais equitativa. Além disso, é preciso desenvolver competências e habilidades para transformar essa informação em conhecimento e possibilitar a mobilização das pessoas como sujeitos históricos voltando suas ações para o exercício da cidadania e o aprendiza- do ao longo da vida, tendo em vista valores como a solidariedade, o respeito, a diversidade, a interação, a colaboração, destacando-se a inteligência e a criatividade para desenvolver a capacidade de ousar, criar e inovar de modo crítico e reflexivo, fatores presentes na concepção e nas dimensões que envolvem a competência em informação.

I n t e l i g ê n c i a , c r i a t i v i d a d e e c o m p e t ê n c i a e m i n f o r m a ç ã o : c o n d i ç õ e s h u m a n a s e m i n t e r - r e l a ç ã o

Inteligência: alguns apontamentos principais

A inteligência é uma característica dos seres humanos. Constitui, em linhas gerais, a capacidade global das pessoas para pensar racionalmen- te e agir no seu ambiente e inclui todas as habilidades da mente humana.

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Em decorrência, são muitas as competências intelectuais que se adquirem ao longo da vida, tais como: a expressão e a compreensão verbal, o manu- seio de objetos, a flexibilização do pensamento, a criatividade, o raciocínio lógico, a formação de conceitos abstratos, a formação de opinião, a indução, a inferência, capacidade de efetuar estimativas, de desenvolver julgamentos, além de saber lidar com números, atenção, percepção e memória.

Reporta-se à publicação do livro Origem das espécies de Darwin em 1859 como sendo uma referência no estudo da inteligência, onde é sugerido que as capacidades humanas estão em continuidade com a dos animais. Desde então, surgiram abordagens de natureza vária para a compreensão da inte- ligência humana.

Um século mais tarde, Sternberg (1990) apresenta uma sistematização de importância para as diversas abordagens que foram sendo apresentadas na literatura especializada e que as classifica em duas categorias principais: teorias implícitas e explícitas. As teorias implícitas da inteligência têm por base as suposições dos indivíduos, influenciadas pela idade e pela cultura. Os três fatores que definem a inteligência são a habilidade para a resolu- ção de problemas, a aptidão verbal (escrever e falar bem) e a competência social (estar acompanhado com outras pessoas). As teorias explícitas são propostas e testadas comparando os dados recolhidos com o que é suposto predizerem. Podem ser subdivididas em teorias psicométricas, biológicas, cognitivas, contextuais ou culturais e sistêmicas. (STERNBERG, 1990)

Para Sternberger (1990), de acordo com a abordagem cognitiva da inte- ligência, as pessoas quando pensam executam um conjunto de operações mentais. As bases da inteligência constituem o sistema responsável por essas operações. Englobam-se nesta subdivisão os estudos dos correlatos cogniti- vos, das componentes cognitivas, do treino cognitivo e dos conteúdos cog- nitivos. Esse mesmo autor menciona, também, que a abordagem contextual vê a capacidade humana para raciocinar e agir tendo em atenção o meio onde opera, salientando que os modelos contextuais reportam que a inteli- gência não é um traço universal ou um conjunto de aptidões que pode ser medido de forma precisa pelos testes convencionais de inteligência. Neisser (1976 apud STERNBERG, 2000, p. 41) foi o primeiro “a destacar a impor- tância de associar a investigação em psicologia cognitiva com as evidências

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do mundo real”. Ainda, é possível destacar a existência de teorias sistêmi- cas que concebem a inteligência como multifacetada e multidimensional, envolvendo mais características humanas. Segundo Sternberg (1990, 2000) englobam-se nestas, a Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner (1983), a Teoria Bioecológica da Inteligência de Ceci (1990), a Teoria Triárquica da Inteligência Humana (STERNBERG, 1985, 1990) e a Teoria da Inteligên- cia Funcional. (STERNBERG, 1997)

Dentre as várias abordagens apresentadas, para efeito desta contribui- ção, não será discutida e esgotada a literatura que envolve conceitos e prin- cípios sobre a inteligência em seu sentido mais amplo, considerando-se não ser esse o seu propósito. Portanto, buscar-se-á elucidar a concepção da in- teligência humana com um recorte sob o enfoque de alguns teóricos consi- derados mais representativos para a melhor compreensão acerca da questão da inter-relação da inteligência e sua relação com o acesso e uso da informa- ção, a consequente construção de conhecimento e a intervenção na realida- de social em que vivemos.

Desse modo, inicia-se por mencionar que para Vygotsky (1984), a inte- ligência desenvolve-se graças a certas ferramentas (instrumentos) psicoló- gicas que o sujeito encontra em seu ambiente, entre as quais a linguagem, considerada fundamental. Para ele, o que nos torna humanos é a capacidade de utilizar instrumentos simbólicos. Desse modo, acredita-se ser possível conceituar a inteligência humana como a maneira de pensar sobre algo e como conhecer as coisas ao nosso redor, incluindo as habilidades para apreender significados, fatos e verdades, lembrar experiências vivencia- das, entender o mundo social, regras e regulações, entender a si mesmo e a maneira de conduzir a vida em sociedade.

A inteligência muda ao longo da vida, sendo que a vivência de cada situa- ção, leituras, conversas e desafios são atualizados e ou reformulados a cada momento no cotidiano, o que implica no crescimento do conhecimento do mundo e da realidade sob a influência de convicções, crenças, atitudes e dos conhecimentos prévios armazenados na memória de cada um.

Vale lembrar que os comportamentos inteligentes são expressos de dife- rentes formas, sendo que o desempenho individual é uma forma particular

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de processar as informações que vai além do simples ato de processamen- to dessas informações. Assim, são os estilos de pensamento, esquemas ou modelos mentais, estratégias e competências que passam a se traduzir em inúmeras inteligências. Isso influencia a atividade prática em que se envolvem as pessoas e permite que seja interiorizada em atividades mentais, cada vez mais complexas, graças às palavras, fonte de formação conceitual e de inter- nalização, segundo Vygotsky (1984). Ainda, de acordo com esse autor, todo conhecimento é uma produção cultural e de interação social relacionando- se diretamente com a linguagem, uma vez que, por seu intermédio ocorre a interiorização de conteúdos que faz com que a natureza social das pessoas se torne em natureza psicológica em estrutura de natureza cognitiva.

Por sua vez, autores como Piaget e Inhelder (1986) afirmam que a estru- tura cognitiva é construída em etapas e cada etapa incorpora as anteriores, dando-se a construção do conhecimento pela ação recíproca e interativa do sujeito com os objetos (meio). A estrutura mental e o conhecimento são construídos em uma relação dialética entre a maturação biológica e o am- biente. Para tanto, é necessário que exista o acesso à informação e o seu uso de forma inteligente, considerando-se que:

O uso da informação consiste nas atividades que realiza o indivíduo para captar a informação e transformá-la em conhecimento, incluindo habilidades intelectu- ais, como a interpretação, controle e organização do conhecimento, funções ine- rentes à cognição. É nesta perspectiva que o estudo da informação adquire desta- que na cultura contemporânea, sendo atinente a diversos campos do conhecimento. A informação é considerada um bem simbólico uma vez que pro- duz, organiza e circula em formato de linguagens, transformada em conhecimen- to, por meio de processos cognitivos. A decodificação e a interpretação da infor- mação incluem atividades de leitura, de construção de relações, conhecimentos prévios, novos dados, comparação de diferentes pontos de vista e a avaliação. (VARELA; BARBOSA, 2012, p. 143-144)

É importante, ainda, destacar que o processo de acesso e uso se inicia por uma busca da informação e que isso envolve diretamente a construção do conhecimento, o que requer a relação com outros fatores humanos, tais

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como: consciência, sentidos, percepção, atenção, memória, pensamento, raciocínio, formação de conceitos e a inteligência. Assim, as pessoas ao bus- carem informação realizam atividades cognitivas de “seleção, análise, sínte- se, comparação, organização e escrita, de acordo com sua estrutura cogniti- va, seus interesses e necessidades, seus conhecimentos prévios”. (VARELA; BARBOSA, 2012, p. 144)

Por sua vez, Sternberg (1985, 1990), direciona a inteligência para o mun-