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3 CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO

5.3 Interação entre os professores de LP

A interdisciplinaridade é um dos princípios básicos que deve nortear um projeto educacional voltado para o sucesso do aluno. Portanto, se a interação de todos os professores de uma escola, independentemente da disciplina que lecionam, é fundamental para a garantia da aprendizagem do aluno, o que dizer da união dos professores de uma mesma disciplina, que têm obrigatoriamente o mesmo objetivo específico? As reuniões para planejamento constituem momentos oportunos para que o trabalho interdisciplinar tenha início na escola, pois representam momentos de encontro entre os profissionais, por área de atuação, em que planejam as atividades a serem desenvolvidas em determinado período.

Em contraposição, os entrevistados, quando indagados sobre a forma de planejamento das atividades de leitura, são unânimes em responder que este se dá de forma individual e isolada. Apesar de registrarem, no dia “oficial” do planejamento bimestral, algumas discussões em grupo visando à escolha dos paradidáticos, durante o bimestre, a troca de experiências é sempre assistemática, mediante conversas informais, conforme as declarações abaixo:

"... no planejamento bimestral, decidimos quais obras são trabalhadas (...) mas o planejamento em si, das atividades, cada professor, de acordo com o que ele acha interessante para o aluno, é que desenvolve o seu trabalho."

"O trabalho em sala de aula, normalmente, cada professor faz o seu (...) não existe interação, neste caso, entre o grupo."

"Nós temos um planejamento bimestral e, nesse planejamento, cada professor de determinada série se reúne e tenta trabalhar em conjunto, embora, às vezes, cada professor tenha sua forma de trabalhar com o livro."

O fato de os profissionais responsáveis pelo ensino da leitura no CEFET- PI não trabalharem em conjunto, pelo menos no que diz respeito à elaboração das atividades, talvez comprometa o resultado global de sua atuação. Apesar de cada sala de aula representar uma realidade e cada professor possuir estilo peculiar, atividades planejadas em conjunto, pelos docentes da mesma série, permitindo a cada um fazer as adequações necessárias à heterogeneidade das turmas, decerto, teria resultado mais satisfatório tanto para o aluno quanto para o professor. E mais, os alunos teriam idênticas oportunidades no desenvolvimento de diferentes atividades no trabalho com a leitura. A este respeito, o pensamento de um dos entrevistados reforça o previsto, ao relatar sua experiência de planejamento conjunto com um outro colega, com quem tem afinidades de concepções, concernentes à produção de leitura:

“...nós planejamos todas as atividades que íamos desenvolver (...) tanto que permitissem utilizar o conhecimento prévio, como exemplificar, ou que fizesse o aluno perceber a aplicabilidade, antes de sistematizar o conhecimento. Isso foi extremamente válido.”

É importante registrar a opinião de um docente, para quem, mesmo não havendo interação entre os professores, de forma sistematizada, há muito em comum na prática cotidiana:

“...embora não haja essa troca com muita freqüência, existe uma linha de ação parecida; o jeito como os profissionais de leitura pensam a leitura é muito parecido, as estratégias de leitura são muito parecidas”.

Aliás, esta declaração é comprovada, tanto teoricamente, pelo discurso dos professores quando falam da concepção de leitura adotada nas aulas, quanto na prática de alguns dos profissionais, com base nas observações empreendidas pela pesquisadora nas aulas assistidas, quando constata semelhanças metodológicas no trato com a produção de leitura.

Para alguns entrevistados, o contexto atual do Ensino Médio no CEFET-PI – similar a outros CEFETs – marcado por mudanças que estão se processando na educação básica e, em particular , no Ensino Médio, bem como fatores relacionados ao papel do professor e do aluno da escola pública, neste momento, não favorece a integração entre os docentes envolvidos com esse nível de ensino, fato que prejudica a qualidade do trabalho, porquanto experiências interessantes ficam isoladas, sem que ocorra a necessária socialização. Trata-se de uma questão polêmica, pois as mudanças estabelecidas para a educação via documentos oficiais prevêem justamente a interação e interdisciplinaridade, por exemplo, exeqüíveis somente por meio de um trabalho conjunto.

Vale salientar, porém, que o autor da fala registrada acima destaca a existência de boa vontade por parte de alguns professores, no sentido de trabalharem em conjunto, principalmente na elaboração de atividades relativas à leitura de obras literárias. A necessidade de capacitação dos docentes, que resulta no afastamento temporário de alguns, acarreta constantes mudanças de docentes numa mesma turma, e por conseguinte, a mudança no ritmo dos trabalhos em sala de aula e no processo de interação dos professores.

A quantidade de conteúdos a ser ministrado e o grande número de avaliações formais aparecem, também, como obstáculos ao desenvolvimento de uma ação mais produtiva, como aqui resumido:

“Nós temos uma exigência muito grande de conteúdos, pouco tempo, muitas provas e poucas oportunidades de planejamento

junto. Isso atrapalha muito o ensino de leitura”.

Esta fala suscita a necessidade de discussões sobre a distribuição da carga- horária entre as disciplinas. Sem dúvida, trabalhar com produção de leitura demanda muito tempo. Por isso, talvez seja necessário que o projeto pedagógico do CEFET-PI privilegie o ensino de LP, através do texto literário, como explicitado por WERTHEIN (1999, p. 95):

“Se é verdade que a escola pode desempenhar papel dos mais relevantes no processo de formação do leitor, é importante sublinhar que essa potencialidade só se explicitará, plenamente, na medida em que o projeto pedagógico da escola colocar o ensino de língua portuguesa em posição privilegiada, ou seja, o

estudo da língua precisa ser entendido como veículo de inserção lúcida do estudante no circuito de idéias do seu tempo”.

Retomando o posicionamento dos professores, um entrevistado manifesta a necessidade de um programa de atividades a ser desenvolvido durante um dia inteiro, no mínimo. Nesse espaço de tempo, os professores planejariam, em conjunto, as atividades relacionadas com os conhecimentos que os alunos deveriam construir, partindo da troca de idéias, promovendo a socialização de experiências e, conseqüentemente, a interação, o que convergeria na abertura de uma via para o início da interdisciplinaridade.

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