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6 Interação Farmacêutico-Utente-Medicamento

6.1 Princípios éticos na interação com o doente

Na sua relação com o doente, o farmacêutico deve sempre seguir os seus princípios éticos e deontológicos. Segundo o código deontológico da OF “a primeira e principal responsabilidade do farmacêutico é para com a saúde e o bem-estar do doente e do cidadão em geral, devendo pôr o bem dos indivíduos à frente dos seus interesses pessoais ou comerciais e promover o direito de acesso a um tratamento com qualidade, eficácia e segurança.” Este documento refere ainda que o farmacêutico no exercício da sua profissão deve ter ser sempre presente o dever ético de realizar todas as tarefas com elevado grau de responsabilidade, com a maior diligencia, competência e zelo, para a realização dos objetivos da política de saúde [86]. Adicionalmente, os farmacêuticos são obrigados ao sigilo profissional relativo a todos os factos de que tenham conhecimento no exercício da sua profissão, sendo que, este subsiste após a cessação da atividade profissional. Como garantia do sigilo profissional os farmacêuticos, devem comportar-se, de forma a evitar que terceiros se apercebam das informações respeitantes à situação clínica do doente, abstendo-se de mencionar ou comentar factos que possam violar a privacidade do doente. No entanto, o sigilo profissional não impede que este participe nas medidas indispensáveis para salvaguarda da vida e saúde das pessoas que coabitem ou privem com o doente [86].

6.2 Comunicação com o doente

O objetivo do farmacêutico na sua atividade deve passar por promover a utilização segura, eficaz e racional dos medicamentos, assegurando-se de que o doente recebe a informação correta sobre a sua utilização, cumprindo as prescrições médicas ou aconselhando um medicamento que melhor satisfaça as relações benefício/risco e custo/benefício.

Ao comunicar com o doente, mais que transmitir os seus conhecimentos científicos, o farmacêutico deve ser capaz de o esclarecer em todos os aspetos necessários e inerentes ao medicamento. Assim, este deve demonstrar uma postura segura, confiante e aberta, demonstrando interesse em todos os factos referidos pelo doente. Por outro lado, de modo a facilitar a comunicação, deve ser adotada uma linguagem simples e direta, de acordo com o nível sociocultural do doente. Além disso, o farmacêutico deve mostrar-se disponível para esclarecer todas as dúvidas e questões colocadas pelo doente.

Numa situação normal, o farmacêutico deve indicar ao doente, a posologia, esclarecer a via de administração e a indicação terapêutica, possíveis interações medicamentosas com medicação previamente prescrita, reações adversas frequentes e algumas contraindicações. Caso necessário, estas informações devem ser fornecidas por escrito, sendo regra na FC a

indicação da posologia na embalagem do medicamento. Estas medidas têm como objetivo esclarecer todas as dúvidas do doente e, principalmente, contribuir para a adesão à terapêutica.

6.3 Farmacovigilância

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), farmacovigilância, é a ciência que tem como atividades detetar, avaliar, compreender e prevenir efeitos adversos ou quaisquer outros possíveis problemas relacionados com fármacos.

A farmacovigilância teve por base o desastre relacionado com a talidomida (ocorrência de casos de focomelia), em 1961. Toda a evolução, teve origem nessa mesma década (em 1968), através de um projeto, desenvolvido pela OMS (WHO Pilot Research Project for International Drug Monitoring) com objetivo de desenvolver um sistema, que, aplicado internacionalmente, destetasse efeitos adversos farmacológicos, que não previamente conhecidos ou entendidos. Em Portugal, o sistema foi instituído, apenas, em Julho de 1992, sendo introduzidas em 2000 as unidades regionais de farmacovigilância (URF) (norte, centro e sul) [87, 88].

Os objetivos específicos de farmacovigilância são: melhorar o atendimento ao doente, a segurança em relação ao uso de medicamentos e intervenções dos profissionais de saúde; melhorar a saúde pública e segurança em relação ao uso de medicamentos; contribuir para a avaliação dos benefícios, danos, efetividade e riscos dos medicamentos, incentivando o seu uso seguro, racional e uma utilização mais eficaz (incluindo análises custo-benefício) e promover a formação, educação, compreensão e prática clínica em farmacovigilância e sua comunicação efetiva ao público [87].

Este é um sistema de notificação voluntária e a apresenta um papel fundamental na proteção da saúde pública, principalmente, porque a notificação de vários casos resulta na geração de novas hipóteses (reações adversas a medicamentos desconhecidas), sendo possível identificar reações adversas a medicamentos graves e inesperadas provocadas por fármacos, principalmente, de comercialização recente [87, 89].

O farmacêutico, pela sua posição única e conhecimentos reconhecidos, contacta diretamente com o doente na primeira linha do sistema de saúde, tornando-se um profissional privilegiado na identificação de reações adversas a fármacos [87].

A notificação deve ser feita tão rápido quanto possível e obedecer ao preenchimento de uma ficha de notificação de reações adversas. As fichas de notificação são de diferentes cores para os diferentes profissionais de saúde.

6.4 Medicamentos fora de uso

A legislação obriga todas as empresas ao cumprimento de normas de gestão de resíduos de embalagens [90]. Assim, os medicamentos fora de uso devem ser entregues na farmácia para serem encaminhados para a VALORMED. A VALORMED foi criada em 1999 como Sociedade Gestora de Resíduos de Embalagens e Medicamentos Lda. Em Fevereiro de 2000 foi licenciada pelos Ministérios do Ambiente e Ministério da Economia, como Sociedade Gestora do Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens e Medicamentos (SIGREM) fora de uso após consumo [91].

O seu objetivo principal é gerir um sistema que leve a uma, cada vez maior, recolha e valorização energética de embalagens de medicamentos fora de uso. Procura-se assim, minimizar o impacto ambiental negativo destes resíduos, processando a sua recolha e respetivo tratamento [92].

As farmácias servem de intermediárias entre o público e a VALORMED, possuindo contentores específicos onde são colocados os resíduos. O farmacêutico de oficina deve informar, alertar e sensibilizar o utente sobre questões ambientais relativas aos resíduos medicamentosos, de forma a obter a sua contribuição.