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A interação e a integração dos saberes à luz das diretrizes legais, da Filosofia e da História

A integração dos saberes é questão antiga na educação brasileira, contudo, ainda estamos compreendendo o significado dessa integração curricular. Desde a aprovação do Decreto nº 5154/2004, que regulamenta o parágrafo 2º do art. 36 e os artigos 39 a 41 da Lei nº 9.394/96, a integração faz parte da agenda educacional, nos desafiando com as demandas da contemporaneidade.

O parecer CNE/CEB nº 5/2011 constitui um projeto de reformulação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Nesse documento há a necessidade de superar a dicotomia entre o ensino propedêutico e o ensino profissional.

Essa propositura visa à integração curricular e revela o significado social do trabalho articulado com outras relações humanas, isto é, ressignifica seu sentido, por meio da articulação com diversificadas tecnologias, com o diálogo entre culturas distintas e por meio de outra epistemologia na contemporaneidade.

Já a modalidade de ensino de cunho tecnicista adotada pelo ensino médio, na década de 1970, no Brasil, era devido às relações de trabalho, do século XX, como na indústria nacional, que necessitava de mão de obra qualificada, entre outros fatores intervenientes nessa época.

No entanto, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394/96, o ensino básico foi estendido ao nível fundamental e médio. Isso implicou na democratização do ensino superior, por meio de políticas públicas caracterizadas pelo acesso às universidades que ora se destinavam às elites sociais.

Nessa perspectiva, todo ensino médio deveria ser voltado a ambas vertentes: ao ensino profissional, visto como algo prático, a fim de resolver problemas do cotidiano e ao ensino propedêutico, visando à formação integral do ser humano. Não há porque insistir na concepção do ensino médio como profissionalizante ou não, isso porque os tempos são outros e diversificadas demandas exigem um cidadão global.

Por isso, esse percurso de transformações pedagógicas no modo de pensar e agir docente resulta num grande desafio. Isso porque implica em compreender, historicamente, o processo em que nos deparamos, ou seja, estamos saindo de um paradigma fragmentado das ciências, para um entendimento articulado, onde a construção dos saberes científicos implica num conhecimento em rede.

O modo de pensar por dualidades e dicotomias tem sua origem em Platão com a ideia de separação entre corpo e alma e com a lógica clássica de Aristóteles que sedimenta o que é verdadeiro e falso, por meio de axiomas. Em virtude disso, o mundo ocidental tem vestígios de tais concepções, desse “pensar”, dessa forma de fazer ciência, que nos persegue ainda na contemporaneidade.

Mas, seguindo a trajetória histórica da humanidade, Descartes, tomando como fundamentação teórica a lógica clássica aristotélica, sistematizou a Filosofia e as Ciências Modernas, trazendo o método cientifico como verdadeiro e único naquela

época. Nesse cenário, o conhecimento se fragmentou, consolidando o sistema educacional em disciplinas estanques e isoladas, enfatizando a especialização nas diversas áreas.

No entanto, o mundo se transformou e múltiplas formas de agir e pensar se instalaram diante da complexidade da pós-modernidade. E, dessa forma, um currículo disciplinar não se sustentou mais. Daí que estamos nesse período de transição de modelos pedagógicos e psicológicos, entre outros, reformando o currículo, visando ao modelo que pressupõe a pluralidade de ideias, o contraditório, o multiculturalismo, entre outros aspectos, não mais justaposto por disciplinas, mas integrado por áreas de conhecimentos.

Isso implica em transformações didáticas e o professor é o protagonista dessa história. E por isso, para que haja outro currículo em ação é vital a formação continua e continuada do professor e dos profissionais da educação que se encontram na escola.

Sob essa perspectiva e para um desenho de um currículo articulado e integrador há a necessidade da coexistência disciplinar, mas também, do olhar interdisciplinar e transdisciplinar, entre outros. Dessa forma, não se subestima os conteúdos específicos das disciplinas, mas os aprofunda, levantando a outros níveis de camadas da realidade que não podem ser consideradas apenas aparentes, apesar de não serem vistas por olho nu, uma vez que elas estão nas entrelinhas dos hipertextos dessa sociedade tecnológica e mundializada do século XXI. Isso implica em refazer o modo de pensar e agir docente na sala de aula.

Anteriormente, tínhamos a Taxionomia de Bloom (1973), cuja abordagem se remetia a elaboração de objetivos que contemplassem o desempenho do aluno (aquilo que esperava que o aluno fosse capaz de fazer); as condições didáticas (o que seria oferecido ao aluno para que ele alcançasse tal desempenho) e os critérios (em que situação o desempenho poderia ser aceito como satisfatório). Tal panorama pedagógico não condiz mais com as múltiplas necessidades desse milênio, visando à formação integral do cidadão global. É necessário ir mais além.

E dar esse “salto epistemológico” consiste em contextualizar os conteúdos aos discentes, entre outros elementos, a fim de dar um sentido a essas descobertas e aprendizagens na escola. Para isso, a transformação didática é essencial.

Nesse cenário, no qual diversificadas abordagens de ensinar e aprender se tornam vitais à superação do ensino tradicional, oficinas didáticas, como têm sido denominadas, se iniciaram no SCMB e no CMF a partir de março de 2013. Essa formação continuada docente revela como esse sistema de ensino tem se organizado para transformar seu currículo em ação.

No primeiro semestre de 2013 houve dois encontros presenciais em cada Colégio Militar, com representantes da DEPA. A pauta desses encontros consistiu no Ensino por Competências, por meio de oficinas didáticas ministradas por professores que concluíram o Curso de especialização, denominado de Letramento e também por professores que não o fizeram.

Os objetivos dessas oficinas consistiam em difundir as práticas interdisciplinares que já existiam no CMF, a fim de estimular outras diversificadas formas de aprender e ensinar, além do aprofundamento teórico acerca da abordagem do Ensino por Competências, através do debate motivado pelo Caderno de Orientações que a DEPA enviou aos colégios do SCMB, entre outros.

Nesse sentido, o investimento em um currículo integrado das diferentes áreas do conhecimento está se consolidando no CMF. E isso ratifica como a escola tem se organizado a fim de transformar seu currículo em ação. Mas o que significa a abordagem do Ensino por Competências? Tal tema abordamos a seguir.

3.2 A abordagem do Ensino por Competências no Colégio Militar de Fortaleza