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Capítulo 3 – Referencial Teórico

3.3 Interação

Segundo Brait (2001:194), interação “é um componente do processo de comunicação, de significação, de construção de sentido e que faz parte de todo ato de linguagem. É um fenômeno sociocultural, com características lingüísticas e discursivas passíveis de serem observadas, descritas, analisadas e interpretadas”.

A autora explica que na interação, ou diálogo, os falantes, além de trocarem informações e expressarem idéias, também constroem um texto e desempenham um determinado papel em seu ouvinte, ou seja, “exatamente como numa partida de um jogo qualquer, visam a atuação sobre o outro” (2001:195). Deve-se ressaltar, também, que além do arsenal lingüístico, os recursos paralingüísticos, como os gestos, olhares e a situação de comunicação, colaboram para uma interação eficiente, passando uma mensagem ao interlocutor.

Sobre interação, Goffman (1999:11) esclarece:

Quando um individuo chega à presença de outros, estes, geralmente, procuram obter informações a seu respeito ou trazem à baila as que já possuem.

Assim, o interlocutor deve estar atento a vários aspectos que interferem no diálogo, pois a interação é uma forma de se utilizar a língua para se comunicar, exercendo uma ação sobre o outro, “uma ação entre aquele que produz e aquele que recebe, e vice-versa”. (Silva, 2002:182).

Segundo Brait (2001:195), algumas perguntas podem levar ao maior conhecimento de quem é seu interlocutor:

• quem é o outro a que o projeto de fala se dirige?

• quais são as intenções do falante com sua fala, com a maneira de organizar as seqüências dessa fala?

• que estratégias utilizar para se fazer compreender, compreender o outro e encaminhar a conversa de forma mais adequada?

• como levar o outro a cooperar no processo?

Para que se tenha uma interação coesa, é necessário conhecer seu interlocutor. A partir disso, organizamos nossa fala e estratégias para convencer o outro, ou melhor, ser compreendido.

Mesmo sendo uma atividade cooperativa, podemos notar que na interação os falantes, nem sempre, visam a cooperar com o outro. Segundo Brait, “a interação não implica somente cumplicidade e solidariedade, mas também um certo tipo de embate, de disputa, na medida em que os interlocutores são parceiros de um jogo: o jogo da linguagem’’. (2001: 193). Como a autora afirma, a interação é um jogo, que só pode ser analisado quando verificamos como cada falante organiza sua fala:

A abordagem interacional de um texto permite verificar as relações interpessoais, intersubjetivas, veiculadas pela maneira como o evento conversacional está

organizado. Isso significa observar no texto verbal não apenas o que está dito, o que está explicito, mas também as formas dessa maneira de dizer que, juntamente com outros recursos, tais como entoação, gestualidade facial etc., permitem uma leitura dos pressupostos, dos elementos que mesmo estando implícitos se revelam e mostram a interação como um jogo de subjetividades, um jogo de representações em que o conhecimento se dá através de um processo de negociação, de trocas, de normas partilhadas, de concessões. (id. p.194).

A interação é um fenômeno sociocultural e discursivo, ligada a várias situações sociais. Pode ser iniciada a partir de uma co-presença de duas pessoas, como por exemplo, quando dois indivíduos, andando na rua, se cruzam, tomam cuidado para não se esbarrarem, demonstrando uma ação conjunta e socialmente planejada, (cf. Preti, 2002:45), ou, então, quando dois ou mais falantes, ligados por interesses comuns, iniciam uma conversação.

Sobre interação como uma atividade social, Koch (1998), citando P. Bange (1983), esclarece que

um ato de linguagem não é apenas um ato de dizer e de querer dizer, mas, sobretudo, essencialmente um ato social pelo qual os membros de uma comunidade “inter-agem”. (Koch, 2003, 75).

Goffman também explica que

definiria uma situação social como um ambiente que proporciona possibilidades mútuas de monitoramento, qualquer lugar em que um indivíduo se encontra acessível aos sentidos dos outros que estão ‘presentes’, e para quem os outros indivíduos são acessíveis de forma semelhante. De acordo com essa definição, uma situação social emerge a qualquer momento em que dois ou mais indivíduos se encontrem na presença imediata um do outro e ela dura até que a última pessoa saia. (1998:13)

Durante o andamento da interação, os interlocutores colocam em evidência suas estratégias conversacionais, seus argumentos para convencer o outro de suas idéias. Assim,

no diálogo, é possível analisar quais os problemas interacionais que prejudicam o andamento da conversa, ou, conforme explica Preti (2002:46), pode-se observar

a possibilidade de planejamento (ou replanejamento) dos falantes, bem como suas estratégias discursivas, ao longo da conversação, que podem resultar em sucesso ou não de sua argumentação; as possíveis manifestações de poder ou solidariedade entre os interlocutores, que podem refletir-se na simetria ou assimetria dos turnos; a colaboração mútua na realização do ‘discurso a dois.

Outro estudioso da área, afirma que a interação é a “realidade fundamental da linguagem” (Urbano, 2000:88), pois, como o próprio autor enfatiza, não se pode pensar em atividade lingüística sem interação.

Dessa forma, como afirma Andrade, todo falante sabe como

iniciar, desenvolver e encerrar uma conversação; sabe introduzir, manter ou mudar o tópico discursivo; sabe dizer algo explicita ou implicitamente; sabe sugerir ou evidenciar uma idéia; sabe elogiar ou insultar; sabe interagir com o colega de trabalho, um amigo, um médico, uma autoridade ou um cliente. Portanto, podemos concluir que todo indivíduo sabe a diferença entre fazer um elogio, um pedido ou uma ordem, pois tem noção de que há diferenças não só de ato, mas distintas relações de poder. (2001:97).

Assim, por mais simples que pareça um diálogo, durante a interação está em jogo defender idéias, convencer o outro sobre suas crenças, conquistar algo, ou seja, atingir com sucesso os objetivos estabelecidos. Para isso, os falantes utilizam suas competências comunicativas e suas estratégias conversacionais (ou interacionais).

No documento LETÍCIA MORALES WANDERLEY MARINHO (páginas 51-55)

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