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Interações com uso de elementos não verbais aluno-aluno: turma

No documento eloisajardimbarino (páginas 56-59)

1.6 O espaço da sala de aula

3. ANÁLISE DE DADOS

3.2. Interações com uso de elementos não verbais aluno-aluno: turma

Os elementos não verbais foram identificados nas amostras coletadas em diversas ocasiões, revelando formas estratégicas que o aluno utiliza para melhor explanar suas ideias e concepções. Há casos em que isso auxilia na interação de alunos com menos proficiência na língua estrangeira. É o que veremos a seguir.

A utilização de elementos não verbais pelos alunos, muito frequente na aula analisada, revelou o quanto eles estão familiarizados a esse modo de se comunicarem. De forma espontânea, os alunos, em muitas das aulas observadas, se dirigiam ao quadro ou faziam gestos e se levantavam para desenhar e/ou representar seus pensamentos, ideias ou, simplesmente para revelar seu cotidiano. Eles faziam isso na intenção de que a compreensão fosse realizada da melhor forma possível. Note o exemplo abaixo em que os alunos japoneses explicam sobre o sistema de símbolos japonês:

323

324 Bras 1

aliás ( 0.5) tem uma coisa que tem 20 anos que eu nunca me perguntei. Em japonês, os números são iguais?

325 Jap 1 A:: gente usa “kandi” para

número também.

326 Bras 1 usa “kandi” para número

também.

327 Jap 1 mas a gente também usa.

328 Bras 1 também usa.

329 Jap 1 os dois.

330 Bras 1 o que é mais comum?

331 Jap 1 [ “kanji”]

332 Jap 2 [“kanji”]

333 Bras 1 aquelas letrinhas assim?

((desenho no quadro))

334 Jap 1 AH : , não, isso não.

335 Todos Hhh

336 Jap 2 o que é isso? (( aponta para

o desenho no quadro))

337 Bras 1 isso aqui é uma letra

marroquina. Sei tudo disso.

338 Bras 4 mas vocês aprendem os

dois na escola?

339 Jap 1 uhum.

340 Bras 1 para fazer conta ( 0.2) usa

os dois?

341 Jap 1 não, mas, ali ó.( (gestos))

342 Jap 2 depende de : ( )

343 Jap 1

quando escrever assim (( faz gestos)) , a gente usa “kanji”,

mas assim... ((outro gesto))

323

324 Bras 1

aliás ( 0.5) tem uma coisa que tem 20 anos que eu nunca me perguntei. Em japonês, os números são iguais?

325 Jap 1 A:: gente usa “kandi” para

número também.

326 Bras 1 usa “kandi” para número

também.

327 Jap 1 mas a gente também usa.

328 Bras 1 também usa.

329 Jap 1 os dois.

330 Bras 1 o que é mais comum?

331 Jap 1 [ “kanji”]

332 Jap 2 [“kanji”]

333 Bras 1 aquelas letrinhas assim?

((desenho no quadro))

334 Jap 1 AH : , não, isso não.

335 Todos Hhh

336 Jap 2 o que é isso? (( aponta para

o desenho no quadro))

337 Bras 1 isso aqui é uma letra

marroquina. Sei tudo disso.

338 Bras 4 mas vocês aprendem os

dois na escola?

339 Jap 1 uhum.

340 Bras 1 para fazer conta ( 0.2) usa

os dois?

341 Jap 1 não, mas, ali ó.( (gestos))

342 Jap 2 depende de : ( )

343 Jap 1

quando escrever assim (( faz gestos)) , a gente usa “kanji”,

mas assim... ((outro gesto))

344 Jap 2 pode usar.

No evento transcrito acima, pode-se perceber que Bras 1 tem uma dúvida sobre o sistema de símbolos japonês e pergunta aos nativos sobre isso. Nota-se que, a princípio, ela faz uma brincadeira e desenha no quadro um símbolo marroquino. E a professora, por sua vez, pretendia que eles identificassem a notação como uma escrita arábica. Pela gravação em vídeo, observa-se que eles estranham o fato, devido às expressões faciais e a pergunta de Jap 2 ("o que é isso?"), mas a brincadeira surte efeito e eles riem. Em seguida, Jap 1 e Jap 2 explicam que os dois sistemas existentes são usados frequentemente. Ambos, através de gestos, demonstram, com movimentos manuais, que, ao escrever na posição vertical, usa-se "kanji" e, na posição vertical, é comum o uso da outra notação.

O exemplo em destaque representa bem esse processo de expressão dos alunos, que se sentem confortáveis nesse ambiente de estudo para interagir com os colegas e a professora de forma espontânea, sem a utilização da língua materna, somente com a utilização do idioma alvo do ensino, o português, e todos os recursos de expressão não verbais disponíveis, como desenhos e gestos. Tais recursos são explorados de forma a facilitarem a explicação e de maneira que os alunos não necessitem de outro idioma para se comunicarem. Essa é uma atitude de colaboração explícita entre os colegas e a professora, pois, naquela ocasião, os alunos japoneses é que são detentores do conhecimento (sistema de símbolos no Japão) e se sentem "incumbidos" de transmitirem esse ensinamento. Nesse caso, eles é que são os especialistas e se portam como professores, utilizando-se dos instrumentos que lhes são disponibilizados, como a interação verbal, os gestos com as mãos e a representação visual no quadro-negro.

Deve-se ressaltar que essa oportunidade de expressão dos alunos é uma atividade bastante apreciada e estimulada pela professora, utilizada por ela inclusive como estratégia didática para ajudar na interação e no processo de ensino-aprendizagem, já que todos os alunos são instigados a participarem dos debates ocorridos em sala com informações advindas de aspectos culturais de seus países de origem, conforme o evento descrito com os discentes japoneses.

Nessa situação, também pode ser visto e evidenciado o intercâmbio cultural existente nesse ambiente, como já dito anteriormente, que possibilita as atividades colaborativas entre os alunos. Além de estimular a convivência entre eles, favorece os processos de ensino-aprendizagem e de socialização do aluno em país estrangeiro. Ademais, essas ocorrências despertam em todos os participantes da interação o interesse e o respeito pelas diferentes culturas. No trecho acima, ocorre uma passagem que ilustra bem esse fenômeno. Destacamos o interesse da observadora Bras 2, que, assim como os demais alunos e convidados da turma (Bras 3 e Bras 4), se interessa por outras culturas e colabora com as atividades com dúvidas acerca do cotidiano dos colegas.

Além disso, nessa turma ocorre o que é evidenciado por T. e Johnson (2000), que afirmam que a aprendizagem colaborativa pode proporcionar relações sociais nas quais existe maior aceitação das diferenças étnico-sociais. Isso pôde ser sentido nesse grupo,

uma vez que, nas primeiras aulas, era perceptível a forma distinta com que os alunos alemães encaravam as demais culturas. Em algumas aulas, foi notado até mesmo um certo desconforto durante as discussões, mas, ao fim desse período, já notávamos que ocorriam passeios e atividades fora da sala de aula entre todos os alunos, que, para se comunicarem, utilizavam a língua portuguesa.

No documento eloisajardimbarino (páginas 56-59)

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