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2. Enquadramento Teórico

2.3. Interacção em Ambientes Públicos

2.3.3. Interacção com os SIEP

Nos anos mais recentes, os sistemas interactivos em espaços públicos têm sido alvo de investigação quanto ao seu nível de interacção com os utilizadores, dando origem a diversos modelos de utilização. Estes modelos, baseados em diversos estudos de caso, representam uma

estrutura sólida para o ponto de partida do desenvolvimento e análise de um SIEP. Existem actualmente três modelos propostos para a avaliação e caracterização, o modelo de duplo limiar, modelo de 3 fases, e modelo de 4 fases.

2.3.3.1.

Modelo de Duplo Limiar

Elaborado por Brignull e Rogers (2003), o modelo de duplo limiar foi o primeiro modelo de avaliação de interacção de SIEP proposto. Estes autores começam por dividir o conceito de interacção em três fases, que vão desde a percepção à interacção directa com o conteúdo, incluindo actividades de noção periférica, actividades de noção focalizadas e manipulação directa (Imagem 8):

Imagem 8 - Modelo de Duplo Limiar

As actividades de Noção Periférica dizem respeito às actividades que são realizadas em torno do sistema, com consciência da sua presença, mas em que não existe nenhuma tentativa de contacto com o mesmo.

As actividades de Noção Focalizada, por sua vez, já possuem uma associação com o sistema. O público em redor do mesmo fala sobre ele, aponta, observa – dá-lhe atenção directa embora distante.

Finalmente, as actividades de Manipulação Directa dizem respeito à interacção com o próprio sistema, em que um indivíduo ou grupo trocam activamente informação com o mesmo.

Os autores deste modelo dão, no entanto, destaque à transição entre estas fases, considerando-a como um elemento chave na compreensão do comportamento de interacção do público.

“In particular, in crossing the threshold from peripheral to focal awareness activities (e.g. from chatting to someone on the other side of the room to deciding to move within view of the

display to have a better look), people need to be motivated. […] Once participants have […] decided to give the display more attention, their interest needs to be stimulated enough to maintain their attention” (Brignull e Rogers, 2003, p. 6).

2.3.3.2.

Modelo de 3 Fases

Proposto em 2003 por Streitz, Röcker, Prante, Stenzel e van Alphen, este modelo foca-se principalmente no desenho do sistema, do seu ambiente para a zona de interacção, não se centrando no comportamento do utilizador como o modelo anterior. É efectuada uma diferenciação entre as zonas de interacção, onde os movimentos e acções do utilizador não são particularmente importantes. Este modelo divide o espaço em zonas de ambiente, notificação, e de interacção, como exemplificado na Imagem 9:

Imagem 9 - Modelo de 3 fases

As primeiras, as zonas de ambiente, dizem respeito a uma altura em que a presença do utilizador do sistema não é necessária. Neste caso, o sistema disponibiliza informação genérica que pode ser observada por transeuntes, não sendo específica para um utilizador ou sequer resultante de alguma acção.

Nas zonas de notificação, o sistema reage à presença do utilizador. Se o sistema estiver programado para detectar ou reconhecer o utilizador a determinada distância, este deverá encorajar o utilizador a explorar o seu conteúdo. Em algumas situações, nomeadamente em displays não interactivos, a informação disponibilizada neste contexto é suficiente para satisfazer os seus propósitos. No caso dos SIEP, as zonas de notificação podem e devem ser utilizadas como meio de difusão de dados, mas principalmente funcionar como atracção para a zona mais próxima: a zona de interacção.

Na zona de interacção, típicas de sistemas interactivos, o utilizador está em contacto directo com o sistema, permitindo-o manipular directamente o mesmo como forma de obtenção de informação.

2.3.3.3.

Modelo de 4 Fases

Adaptado do modelo de 3 fases descrito anteriormente, Vogel e Balakrishnan (2004) construíram o modelo de interacção de quatro fases contínuas: exibição ambiente, interacção implícita, interacção subtil e interacção pessoal. Este modelo diferencia-se do modelo de 3 fases em dois aspectos importantes. Primeiro, a sua avaliação não está dependente exclusivamente da proximidade física do utilizador face ao sistema e, segundo, este considera as transições do utilizador entre as diferentes fases de interacção:

“We differ from the three zone model (…) in that we do not rely solely on physical proximity to delineate different phases, (…) we emphasize fluid transitions between phases, and we support sharing by several users each within their own interaction phase” (Vogel e Balakrishnan, 2004, p. 3).

A divisão da zona de interacção prevista por Streitz et al. (2003) em ―interacção subtil‖ e ―interacção pessoal‖, assim como a generalização da noção de ―notificação‖ numa zona de interacção implícita, permite uma maior abrangência de técnicas de interacção implícitas e explícitas. A Imagem 10 representa a divisão espacial das fases:

Imagem 10 - Modelo de 4 Fases

A fase de ―exibição ambiente‖ (ambient display phase), representa um estado neutro de informação por parte do sistema interactivo. Nesta fase, o sistema convida o utilizador à sua utilização mostrando-lhe, de forma passiva, a informação que poderá obter com a sua utilização.

A fase de ―interacção implícita‖ diz respeito a um estado em que o sistema reconhece a presença de alguém, um possível utilizador no seu redor, utilizando informação relativa à posição

deste para determinar o seu grau de receptividade quanto à utilização do sistema. Se a receptividade se verificar, o sistema deverá apresentar um tipo de representação abstracta do utilizador como método implícito de que poderá ser alvo de interacção. Naturalmente, esta fase pretende servir como atracção para a fase seguinte, ao mesmo tempo que não se revela como demasiado invasora.

A fase seguinte, denominada de ―interacção subtil‖, já assume que o utilizador está interessado na utilização do sistema. O sistema disponibiliza-lhe mais informação, com mais detalhe, sobre o que poderá fazer no momento, ou poderá inclusivamente detectar e reconhecer o utilizador e apresentar-lhe informação personalizada, como o seu calendário, horário, entre outros exemplos. Dado que esta fase de caracteriza por um tipo de interacção subtil, ou seja, a alguma distância do terminal em si, esta informação poderá ser vista à distância não só pelo utilizador como também pelos transeuntes em redor do mesmo, pelo que este tipo de informação não deverá colocar em causa a privacidade do utilizador.

Na fase final, ―interacção pessoal‖, o utilizador encontra-se muito próximo do sistema de modo a poder interagir com o mesmo. Poderá navegar pela interface e obter toda a informação que desejar e lhe for possível obter. Os estudos realizados pelos autores do modelo sugerem que a duração média desta fase de interacção é de, aproximadamente, entre dois a cinco minutos, e que durante este tempo não deverá existir qualquer interrupção funcional com o resto do sistema, permitindo o seu uso (nas diferentes fases) por outros utilizadores simultaneamente.

Este modelo acarreta também uma investigação quanto à transição entre as suas quatro fases. O principal indicador da mudança de uma fase está relacionado com o movimento corporal: os utilizadores manifestam o desejo de mudança de fase utilizando interacção implícita, que frequentemente se simboliza como um gesto, localização do corpo, ou desvio do olhar e atenção. Gradualmente, estas tornam-se mais explícitas, até ao toque/manipulação directa com o sistema interactivo em questão. As transições entre estas fases por parte do sistema devem ser calmas e sem grandes perturbações visuais, sendo, no entanto, suficientemente perceptíveis para o utilizador compreender que entrou num novo nível de interacção.

“Phases should be entered and exited with minimal disturbance to the display, but with enough calm feedback so that it‟s clear a new phase has been entered. The phases should also keep interaction consistent. For example, a user should be able to signal an exit from any phase with a consistent action, such as simply turning and walking away” (Vogel e Balakrishnan, 2004, p. 3).