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Capítulo I As Línguas de Espanha e a sua projeção no ensino do Espanhol

1.5 As LESP e a componente plurilingue e intercultural na aula de ELE

1.5.2 Interculturalidade na aula de ELE?

Uma vez que o plurilinguismo enfatiza o conhecimento e o encontro com o Outro, consideramos que nas LESP encontramos um ambiente favorável para explorarmos o campo da interculturalidade. Recorrendo a Diviñó-González (2013), denotamos que a cultura tem sido o pano de fundo dos sistemas gramaticais e lexicais da língua. Muitas vezes os professores apenas transmitem os aspetos folclóricos da cultura da LE, no entanto não levam o aluno a refletir sobre as questões culturais. Em consequência e segundo a autora, os aprendentes não experienciam uma consciência cultural alicerçada na língua que estudam.

Assim, em torno do conceito de interculturalidade, Clanet citado por Anderson (1999) define como sendo,

“L'interculturalité désigne "l'ensemble des processus — psychiques, relationnels, groupaux, institutionnels… — générés par les interactions de cultures,

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dans un rapport d'échanges réciproques et dans une perspective de sauvegarde d'une relative identité culturelle des partenaires en relation." (Clanet citado por

Anderson, 1999, p.313)

Através do contributo de Clanet, encaramos a interculturalidade como uma dinâmica que aponta para um encontro com o “culturalmente diferente”, perfazendo um intercâmbio e uma troca de perspetivas, onde cada participante salvaguarda a sua cultura e ao mesmo tempo a partilha. Ora, se a língua é o espelho de uma cultura, da forma de pensar e ver o mundo de uma comunidade, cabe ao professor mediar um diálogo, que implique a necessidade de ir mais além da cultura da LE. Desta forma, estaremos a desenvolver no aluno a competência intercultural (Byram, 2009), uma ampliação da competência comunicativa e não um enfoque novo e independente. Entendemos que para o autor, parafraseado por Vinagre (2014) “la competencia

intercultural no se limita a la adquisición del conocimiento de la cultura extranjera sino que es necesario desarrollar también destrezas y actitudes para poder entender y relacionarse con hablantes de otros países”.

Neste sentido, Byram (1997) indica um conjunto de saberes que se acionam durante o processo de ensino-aprendizagem, que convertem o aluno num mediador de culturas ao mesmo tempo que ganha autonomia (ver figura 2).

Relativamente ao saber ser, este alberga “atitudes e integra a disponibilidade para conhecer o Outro, de ser capaz de se relativizar quem se é e de se aceitar que existem outras normas e valores igualmente legítimos de estar, de percecionar, de conceber e de estruturar o mundo” (Dias, 2008, p.16) e assegura assim uma atitude de abertura, tolerância e compreensão do Outro. Byram também enfatiza o domínio do

saber compreender e saber aprender que perfazem “a capacidade e a disponibilidade

para ler os textos da cultura do Outro e de os relacionar com a cultura de origem e, por outro, a capacidade de adquirir conhecimentos e de os mobilizar em situações reais de comunicação” (idem, ibidem).

Parece-nos interessante neste ponto, acrescentar que ao mobilizarmos os saberes propostos por Byram (1997) o produto do enfoque intercultural da nossa prática docente culminará com o arquétipo de falante intercultural, esboçado por Byram e Zarate (1994), caraterizado como o falante que vai colecionando um conjunto de normas de interpretação que seleciona cuidadosamente, consoante os diversos contextos sociais que enfrenta, normas que lhe permitem entender o mundo que o rodeia. Na ótica de Cruz (2011) este comunicador desenvolverá ainda a consciência cultural crítica que obriga os sujeitos a refletir sobre as suas próprias relações com o Outro e requer que se saibam envolver num espaço de interação diferente.

34 Education political education critical cultural awareness (savoir s'engager) Skills Interpret and relate (savoir comprendre) Atitudes relativising self valuing others (savoir être) Skills Discover and/or interact (savoir apprendre /faire Knowledge

of self and others; of interaction; individual and

societal (les savoirs)

Daqui resulta a importância de sensibilizar os alunos a conhecer e a refletir sobre as culturas subjacentes à língua objeto de estudo, e particularmente, as culturas das LESP, como sustentamos e recorrendo a Fernández (2013), o autor alega que é importante apresentar e aprofundar os conhecimentos do aluno sobre as culturas espanholas e que se os alunos demonstram rejeição ao tema, deve-se aos seus estereótipos sociolinguísticos.

Castro (2003) reitera nesta medida que no ensino/aprendizagem de línguas, não nos devemos centrar apenas nos produtos culturais, mas promover um diálogo reflexivo entre as diversas culturas. Por este motivo, e no parecer de Morillas (2000), devemos trabalhar as crenças, as formas de pensar, sentir, comunicar e agir, para que o aluno encare outra forma de ver o mundo, e compreenda o que motiva um determinado sujeito a comportar-se de tal forma, segundo a sua cultura.

“… que la clase de idiomas puede ser el lugar ideal donde se estudie y se reflexione sobre las diferencias y similitudes en cuanto a creencias, valores, actitudes (…) a fin de aprender sobre “ellos” y sobre “nosotros”, sobre sus identidades y nuestras identidades...” (Morillas, 2000, p.58)

Para Ruiz Bikandi (2012, p.73) é, precisamente nesta instância, que se joga o papel determinante do professor, pois deverá “ser um professor preparado não só para

ensinar as distintas matérias, como também para ensinar línguas através delas, suscitando em cada língua uma reflexão meta-comunicativa e metalinguística, promovendo o contraste de línguas.” Desta feita, e parafraseando Bizarro e Braga

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(2004), a educação intercultural começa quando o professor ajuda o educando a descobrir-se a si mesmo e a partir daí poderá pôr-se no lugar do outro e compreender as suas reações, desenvolvendo empatias.

Pelo referido anteriormente, é indubitável que a projeção de outras línguas e culturas, numa perspetiva plurilingue e intercultural, pode enriquecer a bagagem e a consciência sociolinguística do aluno. Desta forma, iremos verificar o que pautam os documentos orientadores do ensino de ELE com respeito a esta temática.

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