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Parte II Prática de Ensino Supervisionada e investigação sobre a interdisciplinaridade

1. Revisão da literatura

1.1. O 1.º Ciclo do Ensino Básico no contexto do Ensino em Portugal

1.3.1. Interdisciplinaridade: significado do termo

O conceito de interdisciplinaridade é, sem dúvida, dos conceitos mais complexos de definir, devido à sua ambiguidade. Segundo Barbosa (2003, p. 105), “ a interdisciplinaridade não parece ter uma definição estanque, a cada texto que leio, a cada pesquisa que encontro, vislumbro um novo aspeto, uma nova definição”.

Norteados por uma perspetiva evolutivo-cronológica do conceito de interdisciplinaridade, definimo-lo na perspetiva de Piaget (1972, citado por Pombo et al., 1994, p. 93), como “intercâmbio mútuo e integração recíproca entre várias ciências. Esta cooperação tem como resultado um enriquecimento recíproco”. Berger (1972, citado por Pombo,1994, p. 93) complementa esta definição, designando este conceito como

interacção existente entre duas ou mais disciplinas. Esta interacção pode ir desde a simples comunicação de ideias até à integração mútua dos conceitos directivos, da epistemologia, da terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e da organização da investigação e do ensino correspondentes. Um grupo interdisciplinar compõe-se de pessoas que receberam formação nos diferentes domínios do conhecimento (disciplinas), tendo cada um conceitos, métodos, dados e temas próprios.

Embora ainda não se reconheça um sentido epistemológico único, Japiassu (1976, citado por Aires, 2011, p. 218) considera-a como “um processo onde há interatividade mútua, ou seja, todas as disciplinas que participam do processo devem influenciar e ser influenciadas umas pelas outras. Um processo no qual se pode generalizar e aplicar métodos e técnicas entre disciplinas diferentes”.

A interdisciplinaridade carateriza-se por uma combinação de saberes, reunidos para estudar determinado assunto, ou seja, só a reunião destes permite a resolução de um determinado problema. Este conceito implica que haja um contributo de duas ou mais disciplinas, através do confronto de ideias e métodos. A interação entre as disciplinas tem como finalidade obter uma visão unitária do saber.

Pombo (1994) define esta forma de integração curricular como uma “prática de ensino que promove o cruzamento dos saberes disciplinares”, estabelecendo uma

41 articulação entre saberes afastados, possibilitando uma economia de esforços e, até mesmo, uma melhor “gestão de recursos” (p. 16).

A importância da interdisciplinaridade nas aprendizagens dos alunos, bem como o contributo desta abordagem para a melhor compreensão da realidade, tem sido, ainda, enfatizada por outros autores, nos seguintes termos:

 Brown (1977) entende que os alunos devem ser “expostos ao conteúdo de disciplinas combinadas de modo a formar um todo coerente” (citado por Pombo et al., 2006, p. 135), esta unificação facilita o contato com diversos campos do saber;

 Vaideanu (1987) considera que através da interdisciplinaridade se constitui “uma melhor abordagem para a formação de atitudes, aptidões e das capacidades intelectuais” (citado por Pombo et al., 2006, p. 165) cruciais a cada indivíduo;

 Gusdorf (1991) refere que “todos os indivíduos até os menos dotados fazem interdisciplinaridade sem se aperceberem” (citado por Pombo, et al., 2006, p. 14), utilizando todos os seus conhecimentos na resolução dos problemas do mundo;

 Prado (1999) entende que a interdisciplinaridade é “uma fórmula em que se misturam conteúdos de várias disciplinas abraçados por um tema comum”. (parág. 4);

 Azevedo e Andrade (2007) encaram a interdisciplinaridade como "interação das disciplinas, dos seus conceitos e diretrizes, da sua metodologia, das suas informações na organização do ensino” (parág. 17).

Estas definições levam-nos a dizer que ao pensar e trabalhar com a interdisciplinaridade vislumbramos uma

educação contribuindo para a formação do homem pleno, inteiro, uno, que alcance níveis cada vez mais competentes de integração com o mundo a fim de que seja capaz de resolver os problemas globais que a vida lhe apresenta, podendo assim, produzir conhecimento, contribuindo para a inovação da sociedade e resolução dos problemas com que os diversos grupos sociais se defrontam (Nascimento, 2000).

42 Pacheco (2001) entende que a “interdisciplinaridade não rompe com as disciplinas, apenas procura abordar os conteúdos curriculares a partir da integração ou da visão global das diferentes disciplinas” (p. 84), sendo deste modo, uma estratégia que auxilia o professor na transmissão dos conhecimentos e os alunos na aprendizagem dos conceitos. Esta procura “acabar com as fronteiras estanques entre as várias disciplinas e encontrar uma transdisciplinaridade, ou seja, a existência de um axioma comum a várias disciplinas” (p. 84).

O intercâmbio, a integração e a interatividade são características associadas ao termo interdisciplinaridade, ou seja, a integração pode ser classificada como mais ou menos profunda, segundo o grau de interação. Desta forma, podemos considerar que o extremo mínimo da interação disciplinar designa-se por pluridisciplinaridade e o máximo por transdisciplinaridade (Pombo et al., 1994).

Tendo em conta a semântica dos termos referidos, ambos são construções com base na diferente prefixação da palavra disciplinaridade. Neste sentido, a etimologia do prefixo inter poderia explicar as já referidas centralidades e carácter intermédio do conceito de interdisciplinaridade. Todavia, também os outros prefixos são portadores de um significado semântico: pluri (vários), chamando a atenção para a diversidade e quantidade de disciplinas envolvidas; trans (para além de), representado a passagem qualitativa a um nível superior de articulação disciplinar (Pombo et al.,1994).

A pluridisciplinaridade pode ser definida como “simples associação de disciplinas que concorrem para uma realização comum, mas sem que cada disciplina tenha que modificar sensivelmente a sua própria visão de coisas e os seus métodos próprios” (Delattre, 1973, citado por Pombo, 1994, p. 96). Thom (1990, citado por Pombo, 1994, p. 96) simplifica o termo designando-o apenas por “colaboração em equipa de especialistas de diversas disciplinas”. Ou seja, a pluridisciplinaridade corresponde a situações mínimas de integração entre disciplinas, os docentes apenas organizam/coordenam o trabalho que vão realizar nas suas disciplinas. As disciplinas trabalham em conjunto, existindo um paralelismo, não sendo necessário a junção dos seus conteúdos e métodos. A coordenação das disciplinas ocorre apenas ao nível de uma regulação e sequencialidade do trabalho desenvolvido.

No extremo máximo desta interação interdisciplinar, surge a transdisciplinaridade

que, de acordo com Piaget (1972, citado por Pombo et al., 1994, p. 96), é uma etapa

43 especializadas, mas também situaria estas relações no interior de um sistema total, sem fronteiras estáveis entre disciplinas”.

Como Pombo et al. (1994, p. 36) referem

a interacção interdisciplinar é de tal forma elevada que se assiste a um processo de fusão entre as várias disciplinas envolvidas. Tudo se passa como se as diferentes disciplinas «rompessem» as suas próprias fronteiras, operassem uma penetração recíproca dos seus respectivos domínios, linguaguens, metodologias, caminhando em uníssono para um objectivo final – a construção de um saber totalmente unificado.

Portanto, a interdisciplinaridade situa-se entre estes dois extremos, mencionados anteriormente, correspondendo a um conjunto diversificado e amplo de situações, entre a simples coordenação de disciplinas (pluridisciplinaridade) e a total integração dos saberes (transdisciplinaridade).

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