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INTERFACES DA PROMOÇÃO DA SAÚDE DA FAMÍLIA NO CUIDADO DE ENFERMAGEM

SUMÁRIO

5. INTERFACES DA PROMOÇÃO DA SAÚDE DA FAMÍLIA NO CUIDADO DE ENFERMAGEM

O cuidado é a essência do saber da enfermagem e constitui uma ação essencial ao indivíduo, família ou comunidade, para desenvolver a manutenção da vida (CUNHA et al., 2009). Foi Florence Nightingale, enfermeira, inglesa, que deu origem aos pressupostos e caminhos para a enfermagem moderna. Exerceu o cuidado com um olhar holístico, baseado em atribuições como honestidade, sobriedade, religiosidade e devoção, a habilidade de observação minuciosa e delicadeza, como atributos de uma enfermeira (COSTA et al., 2009).

Diante desta perspectiva humanística que no decorrer do desenvolvimento científico transcendeu ao construtivismo, para Cunha et al. (2009), nos dias atuais, o cuidado de enfermagem não se restringe apenas ao bem-estar físico e mental, é preciso investir em tecnologias com interações dialógicas, que valorizem a linguagem e os aspectos socioculturais das pessoas, família e comunidade. Assim, ao se pensar na Promoção da Saúde numa perspectiva que rompe com o pensamento biologicista e possibilita ir além de uma prática individual, pode considerá-la como uma prática que possibilita o aprimoramento para o cuidado (CUNHA et al., 2009).

Pensar na Promoção da Saúde como aprimoramento do cuidado de enfermagem, possibilita atrelar as famílias que fazem parte deste cuidar. Pois é na família que iniciam os primeiros cuidados às pessoas e seus membros, sendo necessário o resgate e a compreensão dos serviços de saúde para a maneira de viver das famílias, que, segundo Gutierrez e Minayo (2010):

(...) é na e pela família que se produzem cuidados essenciais à saúde. Estes vão desde as interações afetivas necessárias ao pleno desenvolvimento da saúde mental e da personalidade madura de seus membros, passa pela aprendizagem da higiene e da cultura alimentar, e atingem o nível da adesão aos tratamentos prescritos pelos serviços (medicação, dieta e atividades preventivas) (GUTIERREZ; MINAYO, p. 1498, 2010). Embora a Promoção da Saúde surja como marco norteador do cuidado em meados dos anos 70, o termo Promoção da Saúde e cuidado no âmbito da família foi sendo empregado na década de 80, por

enfermeiros canadenses e americanos. Estes trouxeram para discussão os modelos de SF, focando a dinâmica interna dos seus membros, a rede de cuidado informal, elucidando explicações a partir de diferentes referenciais: clínico, desenvolvimento funcional, adaptativo e resiliência (HECK et al., 2011).

A Promoção da Saúde da família é o conjunto de ações e comportamentos com objetivo de alcançar o bem-estar da família e sua qualidade de vida, além de lidar com a doença, sendo influenciada por fatores econômicos, políticos, sociais, culturais, ambientais e científicos, como os avanços tecnológicos (BOMAR, 1990).

Tal tema vem sendo discutido em diversos países do mundo por meio de implementação e aperfeiçoamento da educação e prática das enfermeiras, como exemplo o Family Health Nurse Multinacional Study, realizado em 2006, o qual discutiu o conceito de Enfermeira de SF dentro dos diferentes sistemas de cuidado europeu. Este definiu a Enfermeira de SF como enfermeira generalista da família e da comunidade responsável por realizar atividades de prevenção de doença e tratamento da doença, assim como as diversas ações determinadas pelas necessidades da família, e da comunidade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2006). Esta perspectiva, entretanto, chama nossa atenção por ainda colocar seu foco na doença.

Para Wright e Leahey (2012) o envolvimento de famílias no cuidado de enfermagem passou por um processo de mudanças nos últimos 35 anos. O desenvolvimento de pesquisas possibilitou o surgimento de outra maneira de compreender o cuidado à família, como uma unidade de assistência com foco em suas interações e reciprocidade, além de ser capaz de lidar com o sistema familiar e individual ao mesmo tempo (WRIGHT; LEAHEY, 2012).

No Brasil, a Enfermeira de SF atua em diferentes cenários da enfermagem como, por exemplo, na média e alta complexidade dando suporte para os pacientes da pediatria, gerontologia ou adultos e suas famílias, na gestão, e na ESF que compõe a AP.

O Grupo de Assistência, Pesquisa e Educação na área da Saúde da Família, vinculado ao Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (GAPEFAM/NFR/UFSC) é precursor nos estudos de Enfermagem à Família no Brasil, coordenado pela enfermeira Dra. Ingrid Elsen, pioneira nos estudos sobre a família. Este grupo desenvolveu diversos estudos, reflexões teóricas, publicações e encontros com pesquisadores da área para disseminar o conhecimento

descobrindo novas possibilidades para o ensino, para pesquisa, para extensão e para assistência de enfermagem da família.

Para Elsen (2004), o cuidado da família remete às dificuldades dos profissionais de saúde em identificar e compreender a existência da saúde familial, que distingue da saúde individual de cada membro, ou seja, a SF não é a somatória da saúde dos seus membros, mas sim, um estado de saúde próprio e distinto. Assim, pensar na família como objeto de cuidado torna-se um desafio para enfermagem, pois o cuidado ainda é conectado ao modelo biomédico, de formação de muitos profissionais.

Discutir a Promoção da Saúde da família é resgatar os valores, crenças, símbolos, imagens de um cuidado pouco valorizado, mas que necessita de um olhar crítico diante das questões que lhe cercam, além de conhecer e reconhecer as potencialidades da família, a fim de provocar reflexões, diálogo e transformações na maneira de cuidar e entre cuidar, como refere Nitschke (1999). Assim, cuidar da família também é promover a sua saúde, é fomentar um cuidado com diferentes maneiras de pensar saúde.

Deste modo, conhecer o quotidiano e o imaginário da promoção da saúde da família permite ao enfermeiro se colocar no lugar do outro, refletir sobre a sua prática e buscar envolver as famílias em seu processo de cuidado, pois entende - se que:

(...) a família é protagonista do cuidado de si, enquanto rede de interações, e de seus membros. Ou seja, o cuidado não é exclusividade da enfermagem, ou de outros profissionais. Deste modo, é preciso ter clara a relevância deste elemento no quotidiano da família, dando-lhe conteúdo (NITSCHKE, 1999, p. 172).

Ainda vale destacar que o cuidado para a promoção da saúde na família desenvolvido pelo enfermeiro é frágil e o modelo que se apresenta na AP é focado nos procedimentos e produtividade. Assim, é necessário investigar e resgatar nos espaços da ESF para tornar-se uma realidade no quotidiano dos serviços.