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2.20 Efeitos do Ruído sobre o Homem

2.20.1 Efeitos Diretos do Ruído

2.20.1.2 Interferência sobre o Desempenho

A comunidade científica, atualmente, tem despertado um grande interesse pelos possíveis efeitos do mído no ambiente de trabalho. As próprias indústrias de máquinas, equipamentos, transformação, constmção, transporte e outras, têm contribuído para este tipo de poluição ambiental. Numa investigação realizada por Theologus, Wheaton e Fleishman,(1974 os autores usam o argumento de que uma redução no desempenho do trabalho realizado, depende muito do tipo de tarefa desenvolvida, e que a seleção adequada desta é necessária, mas não suficiente para uma completa avaliação dos fatores que afetam o

desempenho. Deste modo, Theologus e colaboradores, afirmam que um exame apropriado dos efeitos do ruído deve ser efetuado de modo a detectar outros mais sutis ou mesmos complexos.

Os efeitos da exposição ao ruído sobre o desempenho de tarefas são claramente distinguidos das questões de incômodo e daqueles desenvolvidos sobre o estado fisiológico. Tais efeitos são definitivos, mas dependem muito do tipo de tarefa. O grande problema reside no exame dos efeitos prejudiciais que provoquem redução no desempenho ou algum outro fator de eficiência prejudicado que possa ser causado pelo ruído. Smith (1989) afirma que o efeito do ruído sobre o desempenho de atividades laborais, depende não somente da tarefa, mas, também, de outros fatores.

Além do efeito prejudicial sobre o desempenho, o ruído também tem sua influência negativa no ambiente de trabalho, onde existe a predominância de ahos níveis. Smith (1990) cita uma pesquisa realizada por Smith e Stanfeld (1986) os quais procederam a investigações entre dois grupos de indivíduos, sujeitos a exposições de altos e baixos níveis de ruído sobre o desempenho de tarefas ocupacionais. Aqueles indivíduos sujeitos aos índices maiores de ruído registraram maior número de erros na execução das tarefas, do que aqueles que executavam tarefas em um nível mais baixo.

' Uma das grandes interferências do mído sobre o desempenho refere-se às escolas situadas nas proximidades de aeroportos, vias de tráfego acentuado e de indústrias. Nestas escolas, o processo de aprendizagem tem prejuízo significativo. Vários estudos a respeito das interferências do mído sobre o processo pedagógico e cognitivo foram revisados por Cohen e Weinstein (1981) cujos resultados indicam que o desempenho dos alunos, que estudam em escolas situadas em áreas consideradas calmas, foi significativamente melhor do que os alunos que estudam em escolas situadas em áreas midosas.

Sem dúvida os beneficios da revolução comercial são muitos, entre os quais a eficiência e a velocidade dos meios de comunicação são indiscutíveis. Entretanto, uma significativa desvantagem interliga um fator comum a todas essas maravilhas da tão recente mecatrônica, cujos “beneficios” têm levantado muitas discussões. Este fator comum chama-se RUÍDO. O mído é tratado como um estímulo sonoro e estudado em termos das características fisicas do seu receptor, bem como em termos dos fatores psicofisiológicos de adaptação. Existem estudos que mostram a influência interativa do mído sobre o desempenho de atividades ocupacionais, podendo contribuir com a redução, aumento ou mostrar-se neutro com relação a este (Rilley,1979; Gawron, 1982; Wheale e 0 ’shea,1982; Westman e Walters, 1981; Kryter, 1985).

Glorig (1961), por exemplo, comenta que a eficiência no desempenho de tarefas mentais e motoras sob várias condições de exposições ruidosas, têm sido de grande importância. Contudo, a falta de exploração mais profunda tende a invalidar muitos estudos desenvolvidos no ambiente industrial. 0 autor menciona, ainda, que uma delas diz respeito à faha de controle sobre as mudanças no ambiente de trabalho, as quais provocam alterações negativas no desempenho, e que não estão diretamente associadas aos níveis de ruído isoladamente.

O efeito comportamental do ruído que mais tem levantado discussões é aquele sobre o desempenho de tarefas. Para a maioria dos indivíduos, é fato indiscutível que o desempenho sobre qualquer tarefa que exponha o sistema auditivo pode ser prejudicado devido à exposição ao estímulo sonoro. Os efeitos da exposição ao ruído sobre o desempenho de tarefas têm se tomado um assunto de grande vulto, principalmente, no ambiente organizacional. De acordo com a literatura pertinente, são vários os graus de interferência do mído, bem como a interação dos seus efeitos.

Wright, Bengtsson e Frankenberg (1994) comentam a respeito da existência de inúmeros fatores psicológicos que causam diferenças nas respostas psicofisiológicas no indivíduo, quando submetido ao mesmo nível de energia sonora. Muitos estudos neste sentido apontam que com o aumento dos níveis de mído, existe em contrapartida, um aumento na taxa de incômodo e de excitabilidade do sistema nervoso (Glorig, 1961; Miller, 1974; Kjellberg, 1990). Isto conduz a mudanças no grau de desempenho, que por vezes tomam-se prejudiciais ao organismo do trabalhador. Os autores investigaram os aspectos psicológicos dentro do ambiente ocupacional, numa população de trabalhadores distribuída entre os setores administrativo e operacional de várias empresas do Gmpo Volvo. A maioria possuía idade <40 anos, com tempo de serviço >5 anos. Cerca de 60% das mulheres sentiram que suas atividades foram psicologicamente estressantes, e os indivíduos que desempenhavam suas tarefas em setores operacionais, evidenciaram maior taxa de sintomas mentais do que aqueles trabalhando em setores administrativos.

Glass, Reim e Singer (1971) conduziram uma pesquisa para investigar as conseqüências comportamentais de adaptação ao estímulo sonoro aperiódico de alta intensidade, sob condições em que os indivíduos acreditavam ou não que eles podiam ter o controle sobre a exposição. A pesquisa mostrou que entre um gmpo de indivíduos que trabalhava no mesmo ambiente e sob as mesmas condições, o trabalho de adaptação ao mído não controlável em contraste ao mído controlável, resultou numa elevação do estado de tensão, que por sua vez prejudicou a eficiência do desempenho, após o cessar da exposição.

Kryter (1985) faz citações de uma série de graus de variação, os quais têm sido propostos sobre os efeitos do ruído:

- mascarar ou interferir com a percepção de sinais auditivos, como os da fala, que são úteis

para o desempenho de tarefa específica;

- mascarar sinais auditivos irrelevantes que podem distrair o trabalhador (chamado de

“perfume acústico”);

- concorrer com a estado psicológico do trabalhador, provocando distração que interfere com

o desempenho da atividade;

- criar uma situação de monotonia que mascara as mudanças normais no ambiente,

conduzindo o trabalhador a uma apatia e mesmo à sonolência, o que pode ocasionar risco de acidentes;

- superestimular o trabalhador (gerar ansiedade - grifo do autor), e assim, reduzir o

desempenho; e,

- criar um sentimento de incômodo, porque o trabalhador sente que o estímulo sonoro está

danificando sua audição ou interferindo nos sons, os quais desejaria ouvir.

Broadbent e Little (apud Kryter, 1985) mostram que a redução do nível de ruído de 99dB(A) para 89dB(A), num espaço de uma fábrica, resultou num número bem menor de perdas auditivas do que os mesmos trabalhadores, desempenhando as mesmas tarefas, num espaço sem tratamento acústico. Broadbent (1980), realizando estudo da relação da exposição ao ruído com o incômodo, desempenho e saúde mental, concluiu que aumentando os níveis de ruído, aumenta o nível de incômodo, provavelmente reduzindo o estado do “estímulo sentimental” do indivíduo ou a excitabilidade do sistema nervoso. Isso provoca mudanças comportamentais no desempenho algumas vezes detrimentais.

Num estudo realizado por Smith e Broadbent (1980) para observar os efeitos do ruído sobre o desempenho, os autores afirmam que o mído nem sempre influenciará no desempenho da tarefa. No referido estudo, os trabalhadores desempenhavam suas tarefas divididos em dois gmpos, submetidos a níveis de 55dB(A) e 85dB(A), cujos ambientes foram considerados como calmo e midoso, respectivamente. O resultado mostrou que as médias de desempenho dos gmpos foram de 88,40 e 88,45 para os ambientes calmo e midoso, respectivamente^ demonstrando que a eficiência do desempenho foi praticamente indiferente para ambos os gmpos.

A influência do ruído sobre o desempenho de atividades laborais, também foi estudada por Gulian e Thomas (1986) no desempenho de atividades aritméticas puramente mentais. No estudo realizado, metade dos indivíduos foi submetida ao nível de 85dB(A), e a outra metade ao nível de 50dB(A). A influência do ruído claramente reduziu o ritmo de trabalho das mulheres, enquanto os homens submetidos a qualquer dos níveis, a variação do desempenho mostrou-se indiferente.

Finkelman, Zeitlin, Romoff et al (1979) estudaram os efeitos conjuntos do estresse físico e do ruído sobre as respostas cardíacas e a capacidade de processar informações quando desempenhando tarefa motora num ambiente com exposição sonora ao nível de 90dB(A). A investigação mostrou que o estresse físico aherou significativamente a ritmia do coração, enquanto o estresse provocado pela exposição sonora, reduziu signifícativamente o desempenho do processo de informações.

Pelo fato do ruído afetar o nível de estímulo do trabalhador, este terá, então, um efeito sobre toda variedade de tarefas. Assim, os efeitos do ruído aumentam os estímulos, aumentando correspondentemente a ênfase sobre a escolha de certas fontes de informação. Em outras palavras, o ruído afetará o desempenho, alterando o processo de percepção do trabalhador.

Considerando tal argumento, Wheale e O’shea (1982) testaram a hipótese de que o ruído afeta o desempenho pela elevação do estímulo sentimental (arousal). Num estudo realizado pelos autores, 20 voluntários foram expostos a quatro situações de ruídos: teletipo, intermitente, cabinas de aviões e helicópteros. Os resultados, no entanto, mostraram que nenhuma redução significante no desempenho das tarefas foi encontrado. O razão pela qual o ruído não afetou o desempenho foi possivelmente devido o uso de estratégias individuais.

Nas observações de níveis de ruído, Westman e Walters (1981) afirmam que o som pode melhorar o desempenho sobre as tarefas que são inerentemente monótonas ou repetitivas. Por outro lado, o mesmo poderá prejudicar o desempenho cuja demanda exige concentração e/ou respostas complexas.

Koelega e Brinkman (1986) citam que efeitos prejudiciais sobre o desempenho têm sido encontrados sob ação de ruídos de baixa ou de alta freqüência. De acordo com os autores, ruídos variáveis ou intermitentes teriam melhores efeitos sobre situações de vigilância (o que faz melhorar o desempenho - grifo do autor) do que ruídos contínuos, pelo fato daqueles se assemelharem mais às situações da vida real.

Os efeitos do ruído sobre o desempenho são defínitivos e claramente distinguidos das questões de incômodo e dos efeitos sobre o estado biológico, porém, é dependente, ainda, do

tipo de atividade que está sendo desempenhada. Neste ponto, Harris (1979) comenta que o ruído aumenta a situação geral do estado sentimental ou o excitamento do sistema nervoso, produzindo, deste modo, uma concentração sobre algumas fontes de informações em detrimento de outras. No entanto, poderá haver atividades cuja concentração da atenção seja tão acentuada, que parte da tarefa global seja negligenciada. No ambiente industrial, as mudanças de tumo ou de áreas de trabalho, ou outras quaisquer, podem ser consideradas como fatores de influências no desempenho e, conseqüentemente, na produtividade, sem que haja interferência direta da exposição a ruídos. Deste modo, o desempenho sobre muitas atividades toma-se melhor quando a atenção está concentrada sobre a tarefa, mas, em qualquer ocasião em que a atenção for desviada, o desempenho diminuirá.

Gawron (1982) investigou sobre os efeitos da interação da tendência psicológica, tipo e intensidade das tarefas com a intensidade da exposição a mídos de 55, 70 e 85dB(A). Houve quatro níveis de tendência (nenhum efeito, atrapalha, facilita e controla) e quatro tipos de tarefas (cancelamento de dígitos imediato, demorado, classificado e rastreado). Foram examinadas cinco hipóteses, onde uma delas era a tendência psicológica como um determinante principal do efeito do mído. Assim, pessoas que diziam que o mído facilita o desempenho, teriam melhor desempenho na presença do ruído do que um gmpo controle; semelhantemente, pessoas que diziam que o ruído atrapalha o desempenho, evidenciaram queda no desempenho em relação ao gmpo controle. O resultado mostrou que a tendência psicológica interagiu com a intensidade do mído e a complexidade das tarefas.

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