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Internacionalização do ensino superior português

O relatório sobre o sistema de Ensino Superior elaborado pela OCDE em 2006 e publicado em 2007 destaca a internacionalização como um processo essencial para a melhoria do ensino e da investigação em Portugal. A

internacionalização das IES na vertente do ensino encontra- se relacionada com a difusão da língua portuguesa no mundo, especialmente em África (Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe), Brasil e Timor-Leste. Vinha ganhando expressão a presença de estudantes europeus como resultado da integração de Portugal na EU.

A internacionalização do sistema de Ensino Superior por- tuguês assenta numa combinação de opções estratégicas. Segundo o Conselho de Reitores das Universidades Portu- guesas (CRUP), as principais dimensões da internacionaliza- ção compreendem a mobilidade de estudantes, docentes e pessoal não docente, a atração de estudantes estrangeiros, o recrutamento de docentes e investigadores com graus obtidos em IES estrangeiras, a criação de programas/cur- sos conferentes de graus em associação, a colaboração em projetos científicos internacionais e, por fim, a colaboração em publicações científicas.

Para além do envolvimento das IES nos diversos programas europeus e internacionais, entre os quais se destaca o Erasmus, a política de promoção de internacionalização das IES nacionais tem vindo a ganhar um novo folego, especialmente com a criação do estatuto do estudante internacional em 2014 e com a recente definição de orientações para “a articulação da política de internacionalização do Ensino Superior e da Ciência e Tecnologia com as demais políticas públicas de internacionalização” (RCM n.º 78/2016). No preâmbulo da RCM n.º 78/2016, reconhece-se que o Ensino Superior e o sistema de Ciência e Tecnologia conheceram, nos últimos anos, um grande avanço no processo de internacionalização, quer na vertente da produção e disseminação de conhecimento, quer no estabelecimento de redes de cooperação com outras congéneres internacionais, sem esquecer o aumento sem precedentes na mobilidade de estudantes e docentes e investigadores.

A RCM n.º 78/2016 visa, entre outros, atrair estudantes es- trangeiros, melhorando a divulgação dos cursos, facilitan- do a obtenção de vistos para estudantes internacionais e concedendo bolsas e estágios, bem como promover a rede nacional de infraestrutura científica especialmente nos paí- ses da lusofonia, apostar na diplomacia científica, e incre- mentar a participação portuguesa em grandes infraestru- turas e redes internacionais (OECD, 2017).

Apesar de resultados modestos, o Estatuto do Estudante In- ternacional, promulgado em 2014, permitiu atrair, desde que se encontra em vigor, 1.695 estudantes para o 1º ciclo, maio- ritariamente dos continentes africano e americano. Este esta- tuto estabelece um acesso especial ao Ensino Superior e in- troduz flexibilidade na definição do valor da propina, em linha com o custo real da formação, dado que estes estudantes não são elegíveis para o financiamento público das IES.

No entanto, considerando todos os estudantes estrangeiros a estudar em Portugal, incluindo a mobilidade, estudantes europeus, estudantes que nasceram em Portugal ou já se encontravam a residir no país quando ingressam numa IES nacional, bem como os estudantes de mestrado ou doutoramento que não se candidatam num concurso nacional, o número sobe para 37.905 no último ano letivo, registando uma tendência de crescimento desde 2008/09 .

Num trabalho recente sobre a internacionalização do Ensino Superior, confirma-se o aumento do fluxo da mobilidade de estudantes em Portugal (ligeiramente superior a 11.500 estudantes), a frequência de estudantes estrangeiros com vista a obtenção de grau (4% do total de estudantes em 2013/14), bem como se atesta a presença equivalente de docentes estrangeiros do Ensino Superior (3,4% do total de docentes em 2013/14) (Guerreiro, 2015).

Na vertente da produção científica internacional, o sistema de ciência e tecnologia, com uma grande preponderância das IES, registou resultados assinaláveis na última década. A informação da DGEEC confirma uma subida extraordiná- ria da produção científica (Web of Science – Science Cita- tion Index 13), posicionando-se Portugal na 11ª posição me- dida através do número de publicações por milhão de ha- bitantes em 2015 (DGEEC, 2017), substancialmente à frente da sua posição, em termos relativos, medida pelo PIB per capita. O crescimento da produção científica indexada em Portugal naquela base de dados foi, entre 2005-2015, o 5ª mais alto na UE, com uma taxa de crescimento médio anual de 10% no período.

Como corolário, as IES portuguesas têm melhorado a sua posição em diversos rankings internacionais. A Universidade de Lisboa, após a fusão entre a Universidade Clássica de Lisboa e a Universidade Técnica de Lisboa, atingiu a posição 160ª no Academic Ranking of World University (ARWU)14, representando uma progressão de 82 lugares em apenas três anos. No quadro da UE, ocupa agora a 53ª posição e a 2ª no espaço ibero-americano, só ultrapassada, neste quadro de referência, pela Universidade de São Paulo. Integram este ranking igualmente as universidades do Porto (323ª posição), Minho (463ª posição), Aveiro (467ª posição) e Coimbra (477ª posição), assinalando-se a estreia das universidades do Minho e de Aveiro no ARWU.

São quatro as universidades portuguesas que integram o QS World University Ranking, figurando entre a posição 300-400, as universidades do Porto (323ª), Lisboa (330ª), Nova (366ª), e a Universidade de Coimbra na posição 451- 460ª. Destaca-se a tendência de melhoria da posição da Universidade de Lisboa e o facto da UNL ocupar um lugar entre as melhores 50 universidades com menos de 50 anos.

Algumas áreas disciplinares das IES portuguesas têm mere- cido destaque em diversos rankings promovidos por diver- sas organizações, tais como Arquitetura e Engenharia Civil da Universidade do Porto ou Geografia na Universidade de Lisboa (no top 100 do ranking QS), os MBA da Universidade Católica / Universidade Nova de Lisboa e da Universidade do Porto ou, no ranking de Shangai, as áreas disciplinares de matemática (101-150), física (150-200) e informática e computadores (150-200) da Universidade de Lisboa. Apesar das mudanças muito positivas no sistema de Ensino Superior em Portugal, interrompidas pelos anos da crise económica e intervenção da «troika», permanecem obstáculos à mobilidade de docentes e à captação de professores e estudantes internacionais. O recente relatório elaborado pela OECD (2018), aponta para a necessidade da realização de diversas reformas com o objetivo de tornar o sistema de Ensino Superior português mais competitivo e internacional.

As geografias e as redes de mobilidade do

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