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2. REVISÃO TEÓRICA E CONCEITUAL

4.2 INSTITUCIONALIZAÇÃO DA CIBERNÉTICA

4.2.2 International Strategy for Cyberspace (ISFC)

A Estratégia Internacional para o Ciberespaço (International Strategy for

Cyberspace – ISFC) é uma iniciativa, por parte da administração do presidente Barack

Obama, de promover os Estados Unidos como um formador de políticas que possam ser aplicadas no ciberespaço, em uma tentativa de buscar cooperação internacional ao desenvolver não só uma estratégia, mas uma agenda em torno da cibernética no sistema internacional. Ela foi apresentada em maio de 2011 através de um documento de consulta pública79 pelo ex-coordenador de cibersegurança da Casa Branca, Howard Schmidt.

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Entrevista disponível no The Charlie Rose Show, realizada pelo canal PBS em 8 de janeiro de 2009.

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Audiência sobre ameaças à nação do Annual Threat Assessment of the Intelligence Community, Senate Select Committee on Intelligence, nº 111 (12 de fevereiro de 2009). Disponível em: <http://www.intelligence.senate.gov/hearings/open-hearing-current-and-projected-threats-united-states> Acesso em: 07 out. 2015.

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Disponível em: <https://www.whitehouse.gov/sites/default/files/rss_viewer/international_strategy_ for_cyberspace.pdf>. Acesso em: 07 out. 2015.

No evento de lançamento, Howard comentou quais eram as intenções dessa nova política.

A estratégia internacional estabelece a visão do Presidente para o futuro da Internet, e estabelece uma agenda para a parceria com outras nações e povos a fim de alcançar essa visão […] os Estados Unidos irão construir um ambiente internacional ao garantir que as redes mundiais estejam abertas a inovações, interoperáveis em todo o mundo, seguras o suficiente para apoiar o trabalho das pessoas e confiáveis o suficiente ganhar suas confianças. Para conseguir isso, vamos construir um ambiente em que as normas de ações responsáveis guiem o comportamento dos Estados, mantenham parcerias e apoiem o Estado de Direito […] Essa Estratégia Internacional é maior do que qualquer departamento ou agência. É uma base sólida para as diversas atividades que serão realizadas em todo nosso governo. É sobre os princípios que unem nossa nação, a visão que une nossa política e as prioridades que unem nosso governo […] Com os nossos parceiros em todo o mundo, vamos trabalhar para criar um futuro para o ciberespaço que promova a prosperidade, aumente a segurança e salvaguarde a abertura em nosso mundo conectado. Este é o futuro que buscamos, e nós convidamos todas as nações e povos para se juntar conosco nesse esforço80 (SCHMIDT, 2011, tradução própria).

Segundo Barack Obama, “ela (a estratégia) fornece o contexto para os nossos parceiros em casa e no exterior de nossas prioridades, e como podemos nos unir para preservar o caráter do ciberespaço e reduzir as ameaças que enfrentamos […] Juntos, podemos construir um futuro para que o ciberespaço seja aberto, interoperável, seguro e confiável” (WHITE HOUSE, 2011). Segundo James A. Lewis, procurador do país, “esse documento serve para sinalizar a outros países que os Estados Unidos querem apenas colaborar na segurança das redes, e não as dominar” (NAKASHIMA, 2011).

No mesmo ano de lançamento da Estratégia Internacional, Schmidt disse que os EUA instam a mais países para assinarem a um tratado - que possui mais de 10 anos de existência - chamado Budapest Convention on Cybercrime. O tratado apela para a cooperação em crimes cometidos através da Internet, e já foi ratificado por 30 países,

80 The International Strategy lays out the President‘s vision for the future of the Internet, and sets an

agenda for partnering with other nations and peoples to achieve that vision [...] the United States will build an international environment that ensures global networks are open to new innovations, interoperable the world over, secure enough to support people‘s work, and reliable enough to earn their trust. To achieve it, we will build and sustain an environment in which norms of responsible behavior guide states‘ actions, sustain partnerships, and support the rule of law [...] The International Strategy is larger than any one department or agency. It is a strong foundation for the diverse activities we will carry out across our entire government. It is about the principles that unite our nation, the vision that unites our policy, and the priorities that unite our government. [...] With our partners around the world, we will work to create a future for cyberspace that builds prosperity, enhances security, and safeguards openness in our networked world. This is the future we seek, and we invite all nations, and peoples, to join us in that effort.

incluindo os EUA e outros 29 países europeus - signatários incluem o Reino Unido, Canadá e Turquia. A China e a Rússia estão entre as nações que ainda não assinaram. Assim sendo, é possível apontar para um claro esforço em que os EUA buscam angariar nações, encorajar comportamentos responsáveis, e enfatizar oposição aos que “pretendem desmantelar redes e sistemas”. Entretanto, ao usarem amplamente o termo “malicious actors” nas fontes consultadas, a fim de denominar os opositores ao status

quo sugerido pelos EUA, o país acaba gerando desconfiança por parte da comunidade

internacional.

Segundo Adam Segal (2011), pesquisador sênior em Estudos sobre a China e especialista em cibersegurança do Council on Foreign Relations (CFR), a China recebeu com ceticismo essa nova estratégia proposta pelos EUA. Ele comentou que as preocupações chinesas giram em torno de três questões: 1) Que a estratégia é realmente sobre as capacidades militares e de dissuasão, e não sobre o ciberespaço ser um grande “mercado” para os EUA. 2) Que, apesar dos apelos de cooperação, os EUA estão tentando manter sua liderança e exclusividade no controle da tecnologia na rede mundial, e insistem em possuir alguns dos núcleos de controle do ciberespaço sob seu território. 3) Que o impulso para enfatizar a “liberdade na internet”, ao ser usado em uma agenda para pressionar outros países, é um tema que poderá levar a mais conflitos que soluções.

Mesmo com contradições, foi alcançado um significativo progresso. Em 07 de junho de 2013, um grupo de peritos governamentais da ONU - responsáveis pelo desenvolvimento no campo da informação e das telecomunicações, em um contexto sobre a Segurança Internacional que inclui China, Índia, Russa e os Estados Unidos – chegaram em um consenso sobre o princípio geral de que “as leis internacionais, em particular a Carta da ONU, podem ser aplicadas ao ciberespaço”81

. É considerado um marco quando pela primeira vez que a China, em particular, concordou que normas do Direito Internacional se apliquem ao ciberespaço.

Voltando o foco ao âmbito interno dos EUA, a próxima seção discutirá um documento publicado periodicamente pelo comando militar do país, chamado de Estratégia Militar Nacional.

81

Consenso disponível em: <http://www.state.gov/r/pa/prs/ps/2013/06/210418.htm> Acesso em 18 out. 2015

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