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A Internet tem sido o tecido social de nossas vidas. Castells (2003) disse isso em um artigo publicado no Brasil em 2003. Destacou, em seu texto, que a Internet consiste em uma super-rede de redes de computadores capazes de se comunicar entre si. Daí ele dizer que a Internet é mais do que uma tecnologia, afirmando que se trata, isso sim, de um meio de comunicação, de interação e de organização social (CASTELLS, 2003).

Nesse mesmo texto, Castells alertava para a geografia da rede, composta de provedores de conteúdos e usuários. Em relação aos usuários, a distribuição é desigual no mundo, mas é crescente em todo lugar. E como são os usuários quem define os tipos de aplicação e de desenvolvimento da tecnologia, “[...] os que chegarem depois terão menos a dizer sobre o conteúdo, a estrutura e a dinâmica da Internet” (CASTELLS, 2003, p. 263), asseverava ele.

A pesquisa TIC Domicílios 2010, do Comitê Gestor da Internet - CGI-2010 Brasil, mostrou que, em seis anos - 2005 a 2010 - o número de computadores nos domicílios e de conexão à Internet cresceu, porém em ritmo inferior ao registrado

anteriormente. Quanto ao número de computadores, de 2009 para 2010 o crescimento reduziu de 18% para 8% e, no mesmo período, o ritmo de crescimento de acesso à Internet reduziu de 19% para 15%. As previsões dão conta de que, em 2012, poder- se-á chegar a dois bilhões de internautas. Os números são assustadores.

A cada dia 500 mil pessoas entram pela primeira vez na Internet e são publicados 200 milhões de twites; a cada minuto são disponibilizadas 48 horas de vídeo no Youtube e a cada segundo um novo blog é criado. Setenta por cento das pessoas consideram a Internet indispensável. Em 1982 havia 315 sites na Internet. Hoje existem 174 milhões. (ANTONIOLI, 2011, p. 1).

Como e por que deixar tantas pessoas sem acesso a este mundo - o ciberespaço - que é simultâneo à realidade concreta na qual convivemos? Abandoná-los significa ampliar o fosso entre os inforricos e os infopobres.

A utilização das TIC e da Internet causou alterações perceptíveis na sociedade em geral, uma vez que elas foram incorporadas tanto nas atividades de ensino e pesquisa, quanto naquelas voltadas para o mundo dos negócios. Difundiu-se, com isso, uma nova forma de relacionamento social, a sociedade em rede. Pode-se ver o crescimento exponencial das redes sociais para lazer, trabalho, criação e manutenção de relações, na vida social, com amigos próximos e distantes, inclusive nas empresas e entre as empresas.

Pesquisar a relação de pessoas idosas e de baixo letramento com as tecnologias, de forma a identificar com qual tecnologia se relacionam melhor e mais facilmente, ou como agem para buscar respostas as suas necessidades, não é procedimento simples.

Sabemos que é o problema que define a metodologia de uma investigação e que, a partir daí, definem-se os procedimentos de coleta das informações, bem como da análise dos dados coletados e organizados. Luna (2007) destaca que o processo de pesquisa é dinâmico, daí a dificuldade de normatizá-lo, mas que, apesar disso, possui roteiros e é importante que o pesquisador esteja “[...] atento à realidade que pesquisa e ser sensível às alterações que ela pode exigir” (LUNA, 2007, p. 61).

Vale destacar que o aspecto empírico desta pesquisa ocorrerá simultaneamente à pesquisa teórica, uma embasando a outra. Como alerta Santaella (2004, p. 55), a sincronia entre teoria e empiria depende de “[...] observações bem informadas e de conceitos teóricos muito afinados para que a observação não fique no nível do senso comum”.

A observação será um aspecto importante em todas as suas fases deste estudo. As habilidades exigidas do observador não são poucas nem simples. Lüdke e André (1986) observam que, desde o início do estudo, o observador deve se preocupar em se fazer aceito. Dizem, ainda, que o observador precisa ter características essenciais, como: ser capaz de tolerar ambigüidades, inspirar confiança, ser comprometido, autodisciplinado, sensível a si mesmo e aos outros, maduro, consistente e ser capaz

de guardar informações confidenciais (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Este último aspecto é particularmente importante neste caso, uma vez que serão sujeitos da pesquisa pessoas que são excluídas socialmente e que devem, portanto, confiar ao observador suas dúvidas, impressões, receios e medos.

O que se apresenta nesse texto refere-se às primeiras reflexões teóricas sobre os processos de exclusão e inclusão e também, particularmente, sobre esse processo envolvendo idosos e pessoas com baixo letramento. Essas ponderações fazem parte, inclusive, da formação da equipe que atuará no estudo. Tal equipe tem experiência em pesquisas envolvendo as TIC, porém é a primeira com envolvimento desses dois segmentos sociais, o que exige, desse quadro de docentes e estudantes de graduação e pós-graduação, um preparo para o estudo.

Assmann e Mo Sung (2003) entendem que apenas pessoas solidárias, abertas ao novo, que não aceitam todas as certezas desse sistema excludente, conseguem ir além dos rótulos colocados nas pessoas pelo sistema, tais como incapaz, perigoso, improdutivo, preguiçoso e outros. A intolerância ao diferente, ao diverso, é que leva as pessoas à intolerância e à cultura do narcisismo. O narcisista não consegue admirar o outro na sua diferença. Ele só admira o que é igual a ele, uma vez que não tem consciência de que aquilo que se tornou foi produto de uma produção cultural imposta por um sistema injusto e arbitrário.

Os dois autores sugerem que há duas condições epistemológicas para cultivar a solidariedade. A primeira se refere à nossa capacidade de duvidar de nossas certezas. Só isso já nos permite conhecer melhor a realidade. A segunda significa ir além de nossa capacidade racional, chegando a valorizar a solidariedade como conhecimento, deixando que nossa sensibilidade humana vá além do aspecto racional e inclua sensações, como a empatia e a compaixão, permitindo-nos ser tocados pelas alegrias, sofrimentos, esperanças e desejos de outras pessoas.

Silva (2007) alerta sobre a importância de se tratar a questão da diversidade como um campo político. Diz ela:

A diversidade não pode ser considerada um desvio, algo que precisa ser corrigido e nem como algo a ser tolerado. A diversidade também não é o espaço do exótico, porque pensar nestes termos significa outra vez nos filiarmos a um pensamento único, que nos diz aquilo que é normal e, a partir dele, o que é exótico. A segunda tarefa é pensarmos a diversidade dentro de um campo político. (SILVA, 2007, p. 141).

Ir além do respeito ao outro, construir novas relações que atentem para as diferentes culturas como direito de cidadania, observa Silva (2007, p. 142), pode contribuir para

o “[...] processo lento e complexo de mudanças de mentalidade e de práticas [...]”, que é parte da construção de uma sociedade plural. Dessa forma, não é o diferente, o diverso, que tem de adaptar-se, integrar-se, ou defender-se, mas sim, cabe à parcela dita normal sentir a necessidade de conhecer culturas diferentes das dela.

Martinez (2006) destaca a formação pessoal do professor como um aspecto que, embora tenha sido negligenciado, representa um fator importante para a inclusão real dos estudantes, pois a subjetividade do docente medeia a ação pedagógica, que será afetada de forma positiva por profissionais que acreditem na capacidade dos alunos de aprender e se desenvolver. Outro aspecto valorizado pela autora foi a criatividade do professor, que considera essencial para o aprimoramento do trabalho educativo. Alunos com dificuldades de aprendizagem - salienta Martinez (2006) - exigem criatividade do docente, não apenas para perceber, como também para atender suas necessidades.

A mesma autora considera a criatividade docente como um elemento essencial para o aprimoramento do trabalho educativo, em especial nas ações pedagógicas, que reconhecem a diversidade e a complexidade do processo educativo atual. A criatividade leva o professor a renovar suas estratégias de ensino, para que todos os alunos aprendam, apesar da diferença entre eles. Ou seja, a criatividade contribui tanto para diagnóstico das necessidades dos estudantes, como ainda para supri- las, com estratégias metodológicas atrativas, capazes de apontar diferentes formas e maneiras de solucionar questões que se apresentam. Construir a compreensão da exclusão como fenômeno multidimensional, que tem uma natureza histórica relativa aos grupos marginalizados, como uma natureza mais atual, relativa à produção de desigualdades e diferenciações, como expõem Stoer et al (apud CARVALHO, 2006), é uma tarefa para todos nós - sociedade em geral, professores em particular. Retomo Slee (2011), que assevera a educação escolar como uma aprendizagem da democracia, uma vez que se pode “[...] afirmar a educação inclusiva como um projeto educacional crítico comprometido com a identificação e com o desmantelamento da exclusão educacional e social” (SLEE, 2011, p. 204). Ou seja, uma escolarização democrática, para uma inclusão democrática, de todos.

Referências

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