• Nenhum resultado encontrado

O Uso da Internet pelo Usuário Procon-PBH contribuiu para ampliar a sua condição de cidadão?

5 Análise dos Resultados

6.3 O Uso da Internet pelo Usuário Procon-PBH contribuiu para ampliar a sua condição de cidadão?

Como define MARSHALL (1967), a noção de cidadania requer um mínimo de

igualdade e justiça social, e seu exercício deve ser compartilhado por todos, sem distinção, o que supõe pré-condições econômicas e sociais a serem garantidas pelos governos. Esta definição de cidadania já nos mostra que o uso das novas tecnologias de informação e comunicação, por si só, não é suficiente para garantir a ampliação da cidadania, pois esta depende de inúmeros fatores, e principalmente de um mínimo de igualdade social.

Em uma definição mais moderna de cidadania, JARDIM (1999) pontua que,

historicamente, a cidadania está relacionada às lutas contra as desigualdades e que a sua ampliação se traduz no projeto do welfare state. No entanto, a definição mais atual de cidadania a coloca como um instrumento de redução da tensão política e da violência inerentes ao sistema social promotor dessas desigualdades.

Neste contexto, JARDIM (1999) enfatiza que as novas tecnologias de informação

estão sendo usadas para reproduzir modelos que não garantem a democratização da informação, sendo esta entendida como um “guia de sobrevivência” nas democracias contemporâneas. Segundo o autor, a disponibilização das informações está sendo feita sob um modelo que privilegia a sua transmissão em massa, sem a interação com o usuário.

Feitas estas considerações iniciais, focalizamos a seguir o cenário brasileiro, no qual, a partir de 1995, a Rede Mundial de Computadores/Internet deixa de ter um uso estritamente acadêmico e passa a ser disponível (pelo menos enquanto possibilidade) para toda a sociedade brasileira, com sua estruturação promovida pelo governo federal.

A partir daí, a Internet no Brasil configura-se como uma nova mídia no cenário nacional (como queriam ENGELBARTE e outros engenheiros no início da década de 60),

inclusive como uma aliada do poder público no sentido de promover a democratização do acesso às informações governamentais e a melhoria no atendimento ao cidadão.

A construção da infra-estrutura de uma esfera pública no país, com a estruturação da Internet, é hoje uma realidade, mas a sua utilização como instrumento de exercício da cidadania começa a ser esboçada através de experiências por todo o Brasil.

Como pontua EISENBERG (1999), o poder público tem-se utilizado da Internet

para fins de democratização da vida pública, com a prestação de serviços à população através da rede; apoiando a organização de movimentos sociais; usando a rede como mecanismo de democracia eletrônica e democratizando o acesso à comunicação eletrônica.

Conforme o levantamento feito junto aos sites públicos, vencedores do Prêmio Cidadania na Internet do Conip/99 e que faz parte dessa pesquisa, verificamos que as experiências existentes no país caminham para compor um quadro mais próximo do Site Cidadão, como identificado na revisão de literatura, a partir do estudo comparativo entre sistemas de quatro cidades na Califórnia, EUA.

Verificamos ainda que são vários os atributos, que compõem as categorias que vão identificar um Site Cidadão e que este conjunto de atributos, combinados das mais variadas formas, tem apontado para um uso da tecnologia voltado à ampliação da cidadania, mesmo que os sites pesquisados careçam de maior interação com o usuário.

Esta pesquisa, no entanto, não pretendeu responder in totum à questão colocada de que o uso da Internet possibilita a ampliação da cidadania. A partir de um estudo de uso, pretendeu-se aferir esta realidade dentro da sua limitação. Nesta perspectiva, e a partir dos resultados apresentados, inferimos que a principal constatação feita no sentido de relacionar o uso cidadão da homepage do Procon-PBH é a de que a existência de mais um espaço público, mesmo que virtual, reforça o exercício da cidadania. Os usuários Internet do Procon-PBH que informaram residir na capital, apontaram para a contribuição desse acesso no envolvimento das questões da comunidade e na melhoria do conhecimento sobre a ação da PBH.

Outra constatação nesse sentido está relacionada à representação do usuário Internet do Procon-PBH, que não se restringiu a grupos especializados, apresentando uma razoável participação feminina e de faixas etária e de renda diversificadas, indicando que, apesar da desigualdade social no país, o acesso ao site da PBH e à

Aqueles que apontaram para a contribuição do uso para melhorar o conhecimento sobre a atuação da administração municipal, em sua maioria acusaram também a melhoria da qualidade de vida, bem como os usuários ocupados e as mulheres que relacionaram o uso da Internet com a melhoria da qualidade em suas vidas.

No entanto, se essas constatações apontam para a ampliação da condição cidadã do usuário Internet do Procon-PBH, o seu exercício ainda é muito restrito, como ficou demonstrado pela falta de interação com a comunidade através da Internet, quando a maioria dos usuários informou não repassar informações via e-mail ou participar de grupos de discussão virtual. O uso da Internet pelo usuário Procon-PBH se caracteriza não por uma consciência de que está diante de uma esfera pública onde se possa constituir um debate cidadão, mas se caracteriza por demandas individuais em uma comunidade.

É importante ressaltar que para haver um efetivo uso cidadão da Internet, a partir dos sites governamentais, é necessário que se estabeleçam políticas públicas voltadas prioritariamente para a democratização do acesso às informações, e que procurem distribuir os recursos para projetos neste sentido.

Acreditamos que os resultados desta pesquisa venham trazer subsídios para as iniciativas com esse propósito, ao fornecer um primeiro esboço de como está se dando o uso cidadão da Internet no âmbito do Procon-PBH. Nossa expectativa é a de que esta pesquisa venha contribuir para a política de democratizaçào da informação da PBH de modo que esta possa atender às reais demandas informacionais e cidadãs dos seus usuários, assim como de toda a RMBH, outros municípios e mesmo outros estados brasileiros.