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Capítulo 1 Quadro teórico de referência

1.2. Enunciados Matemáticos

1.2.3. Interpretação de enunciados

A interpretação de enunciados matemáticos envolve duas áreas do saber, a Matemática e o Português. Podemos observar a Matemática na resolução de problemas, através do pensamento matemático que o aluno utilizou para chegar a um resultado. Já o Português observa-se através da capacidade que o aluno tem para interpretar um texto ou enunciado, retirando a informação necessária para poder resolver o problema.

Segundo Sim-Sim (1998), a interpretação e produção de enunciados exige um conhecimento sintático da língua, que advém de um resultado de uma aquisição gradual de estruturas gramaticais mais elaboradas. Baddeley, citado por Sim-Sim (1998), refere que o processo natural pelo qual a criança adquire as regras que regulam a formulação sintática da respetiva língua materna, pela psicologia experimental, é considerado um exemplo paradigmático de apreensão implícita, que posteriormente dará resultado no conhecimento que o sujeito tem da sua própria língua, denominando-se conhecimento implícito ou intuitivo da língua. A autora refere ainda que o conhecimento implícito são os padrões de organização sintática de uma língua que o falante possui, permitindo “aferir da conformidade de um qualquer enunciado até à estrutura sintáctica do sistema linguístico em questão.” (Sim-Sim, 1998:148). Segundo a autora, são “as regras sintácticas que sustentam a arquitectura frásica e sem o seu domínio as cadeias fónicas aparecem-nos como listas de palavras em que é impossível estabelecer relações.” (Sim- Sim, 1998:148). Para a autora, para compreender um enunciado é necessário conhecer o significado de todas as palavras que o integram e ter acesso aos padrões de constituição da estrutura sintática da língua. Para a transmissão de mensagem, as palavras isoladas e a ordenação aleatória de palavras vão refletir a inexistência de qualquer estrutura,

encadeamento de palavras deve obedecer a uma determinada ordenação sequencial, isto é, para se compreender e produzir frases “é necessário ser capaz de estabelecer a relação entre palavras ou agrupamentos naturais de palavras que se organizam numa estrutura hierárquica” (Sim-Sim, 1998:148). A compreensão de um enunciado é um processo de reconhecimento do que é ouvido e do que é lido que, segundo Sim-Sim (1998), requer um conjunto de estratégias que conduzem a uma análise rápida e automática. Este processo é composto por várias fases, das quais fazem parte a seriação e a sequência de palavras no enunciado, a informação detalhada de cada palavra e as chaves prosódicas e contextuais que integram e acompanham o enunciado. A autora quer com isto dizer que “a interpretação do que se ouviu [ou leu] implica a mobilização do conhecimento guardado em memória sobre o sistema linguístico em presença e sobre o real representado na formulação linguística” (Sim-Sim, 1998:150).

A interpretação de enunciados, segundo Sim-Sim (1998), requer uma utilização do conhecimento implícito da língua, para compreender o que se ouve e o que lê, o que exige que o aluno recorra constantemente à informação guardada na memória acerca do sistema linguístico em presença e acerca do real representado na formulação linguística. A autora refere que possuímos na memória, não só itens lexicais como também as regras sintáticas, que nos permitem estruturar e refazer de forma rápida e automática o significado do enunciado, quer estejamos a lê-lo ou a ouvi-lo.

a compreensão frásica necessita que cada palavra seja guardada temporariamente, enquanto a frase ouvida [ou lida] é gramaticalmente processada, ou seja, se estabelecem as relações entre as unidades constituintes do enunciado e se reconstrói o seu significado. Uma vez extraído o significado, as palavras exactas de cada constituinte são esquecidas, conservando o ouvinte o cerne da informação. (Sim-Sim, 1998:151)

Sim-Sim (1998), citada em Costa & Fonseca (2009), diz que o nível de compreensão do oral e da leitura do aluno depende tanto da quantidade e da diversidade do seu vocabulário, assim como também da complexidade sintática adquirida. Segundo as autoras, ler fluentemente é uma das maiores finalidades no processo de ensino e aprendizagem da leitura, porque permite ao aluno “uma descodificação automática, desde que ao seu nível de compreensão linguística se associe maior capacidade na obtenção de informação e maior facilidade na compreensão do texto.” (Costa & Fonseca, 2009:2). Evidencia-se ainda que, se houver lacunas no conhecimento prévio, “se a informação não

for suficiente para estabelecer redes de conexão, se não houver capacidades para inferir, para comparar, para procurar um sentido na interpretação das ideias, então o processo de compreensão falha.” (Costa & Fonseca, 2009:3). As autoras citam ainda Amor (2003), que diz que o desenvolvimento cognitivo do aluno depende das oportunidades que este tem para procurar a informação, através da interpretação de textos, de forma a compreendê-los e a descodificar a mensagem contida nos mesmos.

quanto mais o saber é dado ao aluno na forma de um discurso acabado, abstractizante, menos ele participa da sua construção e menos se apropria dos instrumentos linguísticos que lhe permitam transformar os dados sensoriais da sua experiência concreta em pensamento conceptual. (Costa & Fonseca (2009:3)

Observa-se, então, que para uma correta resolução de um problema, o aluno deve ser capaz de interpretar corretamente o enunciado. De acordo com o estudo realizado por Costa & Fonseca, os alunos que apresentaram menos sucesso na resolução de problemas foram aqueles que não possuíam hábitos de leitura. Segundo as autoras, na aprendizagem do Português é necessário criar hábitos de leitura, o que leva a que os alunos não dediquem tempo suficiente “à leitura, seja ela recreativa ou instrutiva, simplesmente porque não possuem hábitos enraizados.” (Costa & Fonseca, 2009:9).

a criação de hábitos de leitura poderá proporcionar atitudes de persistência no trabalho de leitura, no conhecimento de uma gama mais diversificada de vocabulário no desenvolvimento da comunicação oral e escrita, bem como na interpretação/compreensão de enunciados matemáticos. (Costa & Fonseca, 2009:9)