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Interpretação de regras (formalização)

3. Framework rule-checker baseado em BIM

3.5. Rule-Checker

3.5.5. Interpretação de regras (formalização)

As regras de construção de edifícios são estabelecidas por pessoas e representadas em linguagem humana, normalmente em texto com algumas tabelas e ocasionalmente em equações (Eastman et al. 2009).

Uma das abordagens principais para fazer o levantamento das regras que podem ser formalizadas é através de condições lógicas, que permitem avaliar uma afirmação como verdadeira ou falsa (declarativas). Quando uma premissa não pode ser avaliada em toda a sua instância, i.e., se a premissa contém vários aspetos e um deles não pode ser avaliado na fase de projeto, a lógica aplica-se apenas a uma instância (informativas). Na legislação em vigor as regras estão muito agrupadas, com base em muitas condições contextuais, por exemplo com base no tipo de construção, zona de implementação, e nos detalhes de construção.

A tradução das regras normalmente depende de dois aspetos:  A condição e/ou contexto onde as regras são aplicadas.  As propriedades sobre as quais a regra se aplica.

Um exemplo seria num primeiro passo identificar a existência dum buraco no chão, e no segundo passo seria verificar a largura, comprimento e profundidade.

As regras serão escritas em código e armazenadas internamente no sistema

rule-checker, enquanto as condições de aplicação das regras pode ser

personalizado pelo usuário (Zhang et al. 2013).

3.5.5.1. Legislação aplicada a Estaleiros Temporários ou Móveis

O desenvolvimento de vários softwares BIM permite o uso da verificação automática de projetos de construção. No entanto, tem que se ter em consideração que há normas de segurança que são específicos de cada país e que muitos dos requisitos dos regulamentos de segurança da construção, podem conter informação cuja tradução para verificação automática é impraticável. Assim é necessário fazer uma correta interpretação do código de verificação, não apenas por programadores do software, mas por engenheiros especializados/técnicos do setor da construção. Esta formalização do conhecimento (que consiste na interpretação de um conjunto de regulamentos e de os traduzir em regras que podem ser processadas por um código de programação) fornece dados importantes e necessários para assegurar o desenvolvimento do projeto em conformidades com a legislação (Malsane et al. 2015).

A formalização da regulamentação da construção, neste contexto, pode ser alcançada através das três etapas seguintes:

1. Extrair dos regulamentos as regras aplicáveis ao estudo do edifício.

2. Classificar as premissas em dados declarativos (facilmente lido por código) e dados informativos (não lido por código);

3. Decompor os dados declarativos e informativos para extrair a semântica. No âmbito da legislação Portuguesa aplicável aos estaleiros temporários ou móveis, contempla diversos diplomas dos quais se destacam os seguintes:  Decreto-Lei n.º 273/2003, de 29 de Outubro - Procede à revisão da

regulamentação das condições de segurança e saúde no trabalho em estaleiros temporários ou móveis, constante do Decreto-Lei n.º 155/95, de 1

Julho, mantendo as prescrições mínimas estabelecidas pela Directiva n.º 92/57/CEE de 24 Junho;

 Portaria n.o

101/96 de 3 Abril - Regulamenta as prescrições mínimas de segurança e de saúde nos locais e postos de trabalho dos estaleiros temporários ou móveis;

 Decreto-Lei n.º 50/2005 de 25 de Fevereiro - Transpõe a Directiva n.º 2001/45/CE de 27 Junho, relativa às prescrições mínimas de segurança e saúde para a utilização pelos trabalhadores de equipamentos de trabalho;  Decreto-Lei n.º 41820/58 de 11 Agosto - Relativo à segurança no trabalho da

construção civil;

 Decreto-Lei n.º 41821/58 de 11 Agosto - Aprova o regulamento de segurança no trabalho da construção civil;

 Decreto 46427/65 de 10 Julho - Aprova o regulamento das instalações provisórias destinadas ao pessoal empregado nas obras.

3.5.5.2. Execução da Formalização

O objetivo da Formalização é interpretar um conjunto de legislação, convertê-lo num conjunto de regras que pode ser processado por uma aplicação informática (Malsane et al. 2015).

Tendo em conta o objetivo da dissertação, foi considerada a Portaria n.º 101/96, de 3 de Abril e o Decreto-Lei n.º 41821/58, de 11 Agosto, e extraídas as regras principais para os trabalhos em altura, escavações e aberturas. A Portaria n.º 101/96, de 3 de Abril, é um documento bastante subjetivo, pois o conjunto de artigos que a compõe funciona quase como uma diretiva de boas práticas, como se exemplifica com a transposição do seu artigo n.º 11 relativo à proteção contra o risco quedas em altura:

“1 – Sempre que haja risco de quedas em altura, devem ser tomadas medidas de proteções colectiva adequadas e eficazes ou, na impossibilidade destas, de proteção individual, de acordo com a legislação aplicável, nomeadamente o Regulamento de Segurança no Trabalho da Construção Civil.

2 – Quando, por razões técnicas, as medidas de proteção colectiva forem inviáveis ou ineficazes, devem ser adotadas medidas complementares de proteção individual, de acordo com a legislação aplicável.”

Como é possível verificar no texto deste artigo, dada a sua subjetividade, não é possível extrair informação suficiente para criar uma regra para uma verificação automática, necessitando-se da interpretação humana. Tendo-se analisado as cláusulas desta Portaria verificou-se que doze (do total de noventa e duas) incidem sobre os aspetos de segurança que se pretende verificar através do

rule-checker (Figura 13), as quais foram classificadas maioritariamente em

informativas (de acordo com a definição contida na Tabela 6) conforme se indica na Figura 14.

Figura 13 – Total de cláusulas da Portaria 101/96 vs. cláusulas extraídas

Figura 14 – Distribuição das cláusulas nas diferentes categorias

O Decreto-Lei n.º 41821/58, de 11 Agosto inclui todas as normas de segurança relativas ao trabalho de construção civil, sendo um documento mais objetivo, do qual podem ser retiradas cláusulas declarativas. Como se exemplifica com a transposição do seu artigo n.º 1 da Seção I referente à utlilizaçao de andaimes: “É obrigatório o emprego de andaimes nas obras de construção civil em que os operários tenham de trabalhar a mais de 4 m do solo ou de qualquer superfície contínua que ofereça as necessárias condições de segurança.”

92 12 0 20 40 60 80 100

Total objectivo tese

0

4

8

0 2 4 6 8 10

Contudo, como é um regulamento antigo (com 57 anos), para uma melhor formalização e utilização de modelos BIM, deveria ser revisto e atualizado. Para o desenvolvimento do rule-checker foram retiradas cláusulas referentes ao Título I (Andaimes, plataformas suspensas, passadiços, pranchadas e escadas), ao Título II (Aberturas e sua proteção), ao Título V (Escavações), de acordo com os objetivos a atingir.

Relativamente a este diploma foram identificadas 97 cláusulas referentes aos aspetos que se pretendem verificar (Figura 15) as quais foram classificadas em declarativas (18), informativas (28) e em restantes (51) de acordo com a Figura 16 e a Tabela 6.

Figura 15 – Total de cláusulas do Decreto- Lei n.º 41821/58 extraídas

Figura 16 – Distribuição das cláusulas nas diferentes categorias

234 97 0 50 100 150 200 250

Total objectivo tese

18

28

51

0 10 20 30 40 50 60

Tabela 6 – Categorização das cláusulas do Decreto-Lei n.º 41821/58, de 11 Agosto pertencentes aos Títulos I,II e V

Tipo de Cláusulas Descrição Cláusulas

Declarativas Cláusula que contém informação objetiva, que pode ser traduzida para linguagem computacional, correspondendo a uma verificação de verdadeiro ou falso

1, 2, 25, 30, 36, 37, 38.1.a, 38.1.b, 38.1.c, 38.1.d, 38.2.a, 38.2.b, 40, 42, 70.2, 70.3, 74, 75.

Informativas Cláusulas que não contêm informação óbvia, dependendo da precisão da interpretação humana

3, 4, 5.1, 5.2, 11, 16, 26, 31, 32, 41, 43, 66, 67, 68, 70.1, 76.2, 76.4, 77.a, 77.b, 77.c, 79, 80, 83.1, 84.1.a, 84.1.b, 84.1.c, 84.1.d, 85.

Restantes Cláusulas que não são

adequadas à verificação automática 6, 7.1, 7.2, 8, 9, 10.1, 10.2, 12, 13, 14, 15.1, 15.2, 15.3, 17, 18.a, 18.b, 18.c, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 27, 28, 29, 33, 34, 35, 69, 71.a, 71.b, 71.c, 71.d, 71.e, 72, 73, 76.a, 76.b, 76.c, 76,1, 76.3, 77.1, 77.2, 77.3, 78, 81, 82, 83.2, 83,3, 84.2.

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