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4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.4. INTERPRETAÇÃO DOS DADOS: A ANÁLISE DO DISCURSO

No tratamento dos dados foi empregada a análise do discurso, baseando-se fundamentalmente na retórica e na hermenêutica. Justifica-se a análise do discurso por três motivos. O primeiro consiste na compreensão dos modos de discurso, o segundo fundamenta-se no caráter exploratório da existência potencial e natural de inter-relações entre os diferentes modos de discurso e o terceiro motivo evidencia-se pela exploração do potencial crítico dos modos de discurso em seu contexto social e organizacional.

A análise de discurso surgiu na década de 1960, sendo seu criador o filósofo francês Michel Pêcheux. Ela surgiu como uma proposta para substituir a análise de discurso tradicional. Para tanto, a análise de discurso propõe articular três regiões do conhecimento: o materialismo histórico (teoria das formações sociais e suas transformações como a ideologia), a lingüística (mecanismos sintáticos e dos processos de enunciação) e a teoria dos discursos (determinação histórica dos processos semânticos) (MINAYO, 1994).

Segundo Gill (2003) existem provavelmente 57 variedades de análise de discurso. Para dar conta das diferenças tradições teóricas, serão apresentadas somente três delas.

Conforme Gill (2003) há uma variedade de posições conhecidas como lingüística crítica, semiótica social ou crítica e estudos de linguagem. Essa tradição possui uma estreita associação com a disciplina da lingüística, mas seu compromisso mais claro é com a semiótica e com a análise estruturalista. Sua preocupação está fundamentada na relação entre linguagem e política. Essa corrente está bem representada nos estudos de mídia, particularmente nas pesquisas sobre a imprensa, e enfatizou as maneiras como formas lingüísticas específicas, tais como a anulação do sujeito, passivização ou nominalização, podem ter efeitos dramáticos sobre a maneira como um acontecimento ou fenômeno é compreendido.

Uma segunda e ampla tradição, de acordo com Gill (2003) é a que foi influenciada pela teoria do ato e da fala, etnometodologia e análise da conversação. Estas perspectivas acentuam a orientação da funcional, ou a orientação da ação, que o discurso possui. Em vez de olhar como as narrações se relacionam com o mundo, elas se interessaram naquilo que estas narrações têm como objetivo conseguir, e perscrutam em detalhe a organização da interação social.

O terceiro conjunto de posições, segundo Gill (2003), é o associado ao pós- estruturalismo que, ao romper com as visões realistas da linguagem, rejeitou a noção de sujeito unificado e coerente. Em contraste com a maioria das tradições teóricas de análise de discurso, o analistas do pós-estruturalismo têm interesse não nos detalhes de textos falados e escritos, mas um olhar histórico sobre a construção dos discursos.

Mais do que passar informação, o objetivo do discurso é obter a adesão através da utilização da linguagem como forma de persuadir, seja de forma conspícua ou não, isto é, trabalhando o não dito, o latente e o implícito. Assim como a pragmática leva em consideração o outro e o contexto (seu e do outro), a argumentação estabelece o discurso com o outro no intuito de mudar esse outro. Desta forma, além de ser um processo de comunicação, o discurso, reconhecendo a relevância crítica da destinaridade, se organiza como um processo intencional de ação sobre o outro, assim, o discurso argumentativo faz-se sedutor. A proposta argumentativa é um corolário da destinaridade do discurso. A argumentação é montada em função de um dado público alvo, de um auditório particular. Dado que todo discurso visa convencer aquele a quem se destina, a dimensão argumentativa é essencial à linguagem (BALLALAI, 1989).

O aspecto mais importante deste tipo de análise é a preocupação constante sobre as condições de produção do discurso e de apreensão de significados. Partindo do pressuposto de que qualquer comunicação (formação discursiva) somente adquire sentido no contexto histórico e no sistema lingüístico em que é produzida. A análise de discurso distingue-se da análise de conteúdo ao visar menos a interpretação do discurso e focalizar a compreensão de seu processo de produção (MINAYO, 1994). Para entender os pressupostos desse tipo de análise, é necessário precisar o significado de alguns conceitos fundamentais para os analistas de discursos. Entre os mais importantes estão os de texto e de discurso. O texto constitui-se na unidade a ser analisada. Um texto pode ser uma simples palavra, um conjunto de frases ou um documento inteiro. O discurso é um conceito teórico-metodológico relacionado com as condições sociais de sua produção e com o contexto da linguagem. O texto é o discurso concreto, objeto inacabado, a ser analisado e interpretado. O texto, embora incompleto, contém a totalidade do discurso e por isso é passível de interpretação. Essa totalidade se constitui em três dimensões: (i) relações de força, referente aos lugares sociais e posição do locutor em relação ao interlocutor; (ii) relações de sentido, ou coro de vozes interior, ou seja, a interligação que há entre o locutor e seus discursos e (iii) relações de antecipação, a expectativa do locutor em relação ao lugar e à reação de seu ouvinte (BÊRNI, 2002).

O desenvolvimento do trabalho voltar-se-á para a análise do discurso como forma de poder, estudando-o como constituinte das relações de poder (e por elas reproduzido), bem como as intertextualidades que inseridas no contexto caracterizam a dominação, produzindo e reproduzindo desigualdades. Portanto, a análise de discurso utilizada nesta pesquisa baseia-se na teoria do ato e da fala, na etnometodologia e na análise da conversação. Esta perspectiva acentua a orientação da ação que o discurso possui, especificamente sua característica de interação social para a ação e suas formas de poder. Em vez de analisar como as narrações relacionam-se com os conceitos apresentados, a análise tem como fundamento aquilo que os discursos têm como objetivo conseguir, ou seja, a ação.