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2.2.5. Potencial zoonótico

2.5.2.1.4. Interpretação dos resultados

Segundo o que se encontra legislado, determina-se que um teste de intradermotuberculinização é (Regulamento (CE) No 1226/2002 da Comissão de 8 de Julho de 2002, 2002):

• Positivo, se a reação à tuberculina bovina for superior em mais de 4 mm, aquela que se observe para a tuberculina aviária ou se verifique a presença de sinais clínicos, tais como, edema difuso ou extenso, exsudação, necrose, dor ou reação inflamatória com origem nos canais linfáticos da região ou dos linfonodos

• Duvidoso, no caso de se observar uma reação positiva ou duvidosa à tuberculina bovina, que seja superior em 1 a 4 mm aquela que se observa para a tuberculina aviária e, não ocorrendo manifestação de sinais clínicos;

21 • Negativa, se a reação que se observa para a tuberculina bovina for negativa, positiva ou duvidosa, mas igual ou inferior a uma reação à tuberculina aviária positiva ou duvidosa e, sem evidência da presença de sinais clínicos.

É de notar que os animais que tenham obtido um resultado duvidoso devem ser submetidos a uma outra prova, num prazo mínimo de 42 dias, sendo que aqueles que reajam de forma não negativa (positiva ou duvidosa) a esta segunda prova, devem ser considerados como tendo reagido positivamente à prova de tuberculina (Regulamento (CE) No 1226/2002 da Comissão de 8 de Julho de 2002, 2002).

2.5.2.1.4.1. Falsos negativos

O aparecimento de resultados falsos negativos às provas de intradermotuberculinização poderá dever-se a (Constable et al., 2017):

• Casos avançados de bTB, nos quais ocorre anergia, isto é, temos animais que apresentam lesões visíveis, mas que reagem negativamente às provas; • Casos de bTB que se encontram em fase inicial da infeção, ou seja, animais

que se testam até 6 semanas após infeção;

• Vacas com bTB que tenham parido até 6 semanas antes da testagem, uma vez que estas apresentarão dessensibilização imediatamente antes e depois do parto. Esta perda de sensibilidade dever-se-á, provavelmente, a hipo- reatividade imunológica associada ao parto;

• Animais que se encontrem dessensibilizados pela administração de tuberculina que tenha sido realizada num período de 8 a 60 dias, antes da nova testagem. Esta dessensibilização é provocada pela absorção de tuberculina e outras proteínas, podendo esta ser mais marcada ou de maior duração no caso de injeção acidental por via subcutânea. Embora este período de dessensibilização seja relativamente curto, por norma recomenda-se que animais suspeitos não sejam submetidos a novo teste, até que se tenham passado 60 dias desde a realização da última prova (Constable et al., 2017). No caso específico da Lei Portuguesa, no que se refere à realização de novos testes a animais suspeitos, estes devem ser realizados 42 dias após a testagem inicial (Decreto-Lei n.o 272/2000 de 8 de Novembro, 2000).

• Bovinos idosos;

• Tuberculinas de baixa potência ou contaminação bacteriana das mesmas; • Realização de injeções de doses variáveis com a seringa multidoses

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2.5.2.1.4.2. Falsos positivos

A manifestação de resultados falsos positivos em indivíduos sem lesões macroscópicas visíveis, poderá estar relacionada com (Constable et al., 2017):

• Animais sensibilizados pelo contacto com antigénios de outras micobactérias, incluindo as que são responsáveis pela manifestação de tuberculose em humanos e aves ou pela manifestação de Paratuberculose (doença de Johne), contacto com micobactérias não patogénicas e sua ingestão por meio de águas que estejam em contacto com aves, ou então, pela ingestão de alimento que tenha contactado com aves infetadas com M. avium;

• Animais que se encontrem sensibilizados por outros antigénios, como por exemplo, os do agente Nocardia farcinica;

• Bovinos que tenham sido injetados com irritantes no local de injeção, antes da leitura do teste de tuberculina, no caso das compensações atribuídas por animais que reajam positivamente, ultrapassem o verdadeiro preço dos animais (Constable et al., 2017).

2.5.2.1.4.2.1. Presença de infeção por Mycobacterium avium subsp. paratuberculosis

A Paratuberculose (ou doença de Johne´s) trata-se de uma enterite granulomatosa, crónica e contagiosa que se manifesta em bovinos por meio de diarreia persistente, perda de peso progressivo, debilidade e, invariavelmente, morte. Esta doença encontra-se listada pela OIE, o que significa que se trata de uma doença relevante para o comércio internacional de animais. Acredita-se que o agente etiológico Mycobacterium avium subsp. paratuberculosis seja capaz de infetar outros ruminantes e animais selvagens. Encontra-se distribuída mundialmente e crê-se que a prevalência mais elevada da doença se verifique em bovinos leiteiros (Collins, 2017). Este agente apresenta uma elevada importância do ponto de vista médico veterinário, não só por ser o causador de uma patologia que tem grande impacto económico na produção de bovinos, mas também pelo seu potencial zoonótico, já que poderá ser um agente causador de doença de Crohn em humanos (Viale et al., 2016).

A extensa sequenciação de genoma identificou pelo menos 150 espécies do género Mycobacterium, que se podem dividir em dois grandes grupos: micobactérias de crescimento rápido, onde se incluem a maior parte das espécies saprófitas de vida livre com grande distribuição ambiental e, as micobactérias de crescimento lento, que incluem as bactérias do complexo Mycobacterium tuberculosis (onde se integra M. bovis) e as do complexo

23 Mycobacterium avium (onde se inclui M. avium subsp. paratuberculosis) (Behr, 2013; Viale et al., 2016). M. avium subsp. paratuberculosis partilha 99% de DNA homólogo com M. avium subsp. avium, sendo que a sequência de inserção IS900 é o único elemento genético que permite a distinção entre estes dois agentes, já que só pode ser encontrada em estirpes de M. avium subsp. paratuberculosis. Esta similaridade genética reflete-se num grande número de antigénios comuns (Manning & Collins, 2001). No entanto, muitas das proteínas e fatores de virulência podem ser partilhados entre as espécies bacterianas de ambos os complexos e, já que a maior parte destas micobactérias apresenta homologia para estruturas que representam alvos de diagnóstico, poderão esperar-se interferências nas provas diagnósticas (Raffo et al., 2017).

Dado a possibilidade destas interferências desenvolveram-se várias modificações para as provas de tuberculina simples, como é o caso, das provas de intradermotuberculinização comparada, que envolvem a injeção de tuberculina bovina e aviária. Na sua grande generalidade, se um animal apresentar reação mais exuberante no local de injeção da tuberculina aviária, poder-se-á considerar que este se encontra infetado com M. avium ou M. avium subsp. paratuberculosis. Por outro lado, se o local da tuberculina de M. bovis demonstrar uma reação significativamente maior, então crê-se que se possa tratar de um animal infetado com M. bovis ou M. tuberculosis. Esta metodologia de testes de tuberculina torna-se útil, quando se antecipam prevalências altas de Tuberculose aviária ou de Paratuberculose (Tizard, 2013).

Existem indícios de que a coinfecção com Mycobacterium avium subsp. paratuberculosis tenha impacto na resposta imunológica às tuberculinas, durante a realização de provas de tuberculinização e testes de interferão-gama (Dunn et al., 2005; Roupie et al., 2018). Isto deve- se à reatividade cruzada, que se manifesta principalmente com a tuberculina aviária (derivada de M. avium), mas que também exerce algum efeito no tamanho da reação que se observa no local de injeção da tuberculina bovina (Hope et al., 2005; Kennedy et al., 2017). Estes efeitos de reatividade cruzada poderão conduzir a um diagnóstico incorreto (Byrne et al., 2018; Rua-Domenech et al., 2006), permitindo assim que animais positivos para bTB sejam retidos por engano nos efetivos. Pode-se supor que estes processos possam afetar a capacidade de eliminar a infeção, assim que esta é detetada nos efetivos e, subsequentemente, influenciar a duração de surtos (Byrne et al., 2019).

Um estudo demonstrou indícios de que a reação à PPD de tuberculina aviária (valores negativos do diferencial PPDb-PPDa), se encontrava significativamente associado com a contagem de lesões ao abate. Verificou-se que existia um aumento significativo de lesões (e tecidos infetados) em animais com reações à tuberculina aviária, quando em comparação com outros animais que não tinham apresentado reação. Isto demonstra que animais que tenham

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reações exuberantes à PPD aviária, podem estar na realidade a mascarar uma infeção por bTB. Além disto, se o número de lesões observadas estiver associado com a progressão e risco de transmissão, este aumento pode indicar um período alargado de não-deteção, permitindo a potencial disseminação da infeção. É plausível, que estes animais tenham sido expostos a micobactérias que não M. bovis, incluindo M. avium subsp. paratuberculosis, entre outras. Estes achados poderiam apoiar ainda mais a associação entre a presença de Paratuberculose e a dificuldade em gerir a bTB nos efetivos (Byrne et al., 2018).

No entanto, a direção dos efeitos da Paratuberculose nem sempre é consistente de estudo para estudo, mas aparentemente a opinião geral é a de que a coinfecção reduz a sensibilidade dos testes para a bTB, podendo ter também um impacto negativo na especificidade, embora exista ainda algum debate sobre qual o efeito dominante. A diminuição da sensibilidade das provas pode resultar na divulgação de mais resultados falsos negativos de bTB em efetivos expostos, diminuindo a probabilidade de explorações com a infeção serem divulgadas. Além disso, para explorações com surtos, uma diminuição da sensibilidade aumenta a probabilidade de animais infetados passarem despercebidos durante a testagem de todo o efetivo, resultando quer na extensão do surto, quer na probabilidade aumentada de ocorrência de recrudescência. Se a presença de M. avium subsp paratuberculosis diminui a especificidade das provas, então divulgar-se-iam mais resultados falsos positivos. Isto pode aumentar as taxas de bTB (o que poderia levar, por exemplo, a que efetivos que não se encontrem infetados, serem classificados como estando a sofrer um surto), embora isto não deva ser um fator de grande relevância, quando se faz confirmação laboratorial/post-mortem da presença de infeção de M. bovis, para atribuição do estatuto do efetivo em questão. As interferências com a especificidade podem afetar a duração dos surtos, já que os efetivos poderão apenas perder o estatuto de sequestro, quando o efetivo obtém resultados negativos nas provas de tuberculina. Em termos de impacto epidemiológico, as interações com a especificidade têm custos financeiros e de atribuição de recursos para os programas de controlo e erradicação, enquanto que as interações com a sensibilidade têm consequências mais diretas para estes programas, já que animais verdadeiramente infetados podem não ser detetados (Byrne et al., 2019).

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