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Interpretação gramatical

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4 O MÉTODO HISTÓRICO-GRAMATICAL

4.2 PERSPECTIVA METODOLÓGICA

4.2.2 Aspectos interpretativos do Método Histórico-Gramatical

4.2.2.2 Interpretação gramatical

A interpretação gramatical (STUART; FEE, 2008), ampliada em Virkley (1998) para análise léxico-sintática, refere-se ao estudo da forma das palavras tomadas isoladamente (morfologia) e de seu significado (lexicologia), bem como do modo como elas combinam entre si (sintaxe). Sua premissa básica é que, embora as palavras sejam sujeitas a assumirem uma variedade de significados em contextos diferentes, têm tão somente um significado intencionado em qualquer desses contextos, e seu objetivo é compreender, com a maior exatidão possível, o significado intencionado pelo autor.

É um processo complexo que pode ser descrito em vários passos a serem seguidos pelo intérprete histórico-gramatical e que consta de identificar a forma literária geral, o desenvolvimento do tema do autor e seu encaixe no contexto, as divisões naturais do texto, os conectivos dentro dos parágrafos e sentenças, o significado isolado desses parágrafos e sentenças, o significado isolado das palavras, a sintaxe e, finalmente, de apresentar os resultados em forma compreensível.

Segue-se uma descrição dessa análise na ordem: análise gramatical, análise morfológica, análise sintática e análise semântica.

A análise gramatical prescinde da fonologia na interpretação do Novo Testamento, pois, em se tratando do grego konh/, coinê (330 a.C.-330 d.C.), a pronúncia das palavras, frases e sentenças perde a importância por dois motivos: não há indicações de que os sons vocais na pronúncia das línguas do Novo Testamento (aramaico e grego), especialmente do grego, interfiram no significado das palavras e seus textos correspondentes; 2) a pronúncia erasmiana

aportuguesada, usada na leitura atual do Novo Testamento no Brasil, é meramente

uma possibilidade adotada, ainda que tenha sua origem na pronúncia do humanista luso Damião de Gois, amigo de Melancheton, cooperador de Martinho Lutero (SCHALKWIJK, 1998, p. 6).

Um dos principais instrumentos da interpretação gramatical é a análise

morfológica. Trata-se do estudo dos morfemas com seus significados e do modo

como são combinados na formação de palavras. Eles são as menores unidades da linguagem e capazes de comunicar significados.

A relevância da análise morfológica está em que o grego coinê é um idioma sintético ou flexional que comunica significados através da combinação de morfemas e flexões de palavras. Essa combinação dá-se por meio dos dois tipos básicos de morfemas: as raízes (radicais) e os afixos. As raízes constituem o núcleo da palavra e oferecem o significado básico da palavra e os afixos (prefixos ou sufixos), são morfemas anexados classificados em prefixos e sufixos (ANGLADA, 2006).

A análise sintática refere-se àquela parte da gramática dedicada ao estudo das relações entre as palavras quando organizadas em orações e das orações quando se organizam em períodos (NICOLA; INFANTE, 1997). É relevante na medida em que identifica como as partes da linguagem estruturam-se para formar os enunciados comunicativos.

No caso do grego do Novo Testamento, acontece especialmente por meio de algumas categorias gramaticais, especialmente conjunções (nas funções sintáticas de sujeito, predicativo, objeto direto, qualificativo nominal e especialmente as funções de qualificativo verbal e conectiva), pronomes (antecedentes e função sintática qualitativa) e particípios (nas funções sintáticas verbal, qualitativo verbal, nominais e qualitativo normal), além de diversas interrupções (parênteses, digressões, anacolutos).

Essas categorias são mecanismos imprescindíveis à análise da estrutura sintática de um texto ou discurso. Eles funcionam, frequentemente, conectando ou

interrompendo de modo sintático e lógico as unidades linguísticas ou componentes sintáticos (palavras, frases, sentenças, parágrafos, seções) componentes de um texto ou discurso, e provendo unidade ao discurso.

Quanto à análise semântica, área quase autônoma dentro da interpretação gramatical, tem sido reorientada desde que James Barr publicou sua obra Semantics

of Biblical Language (1961) dando ênfase à importância dos recentes estudos

linguísticos para a interpretação das Sagradas Escrituras. Desde então os estudos têm recaído sobre a pesquisa sincrônica das palavras (sentido usado pelo autor quando da produção do documento) e não sobre a diacrônica (sentido histórico), levando a um foco maior na lexicografia da palavra em seu contexto literário e seus usos no período em questão, e, por consequência, a um foco menor na etimologia e em seu desenvolvimento histórico. Desde então, palavras têm dado lugar a frases ou mesmo a parágrafos que passaram a ser considerados como unidades básicas de significado.

Contudo, o estudo etimológico mantém seu lugar na análise de textos do Novo Testamento, pois é possível que o intérprete incorra em erros, se não o levar em consideração. Portanto, na interpretação histórico-gramatical continua indispensável devido à impossibilidade de fazer-se uma investigação satisfatória dos usos correntes de palavras raras ou de palavras historicamente relacionadas em outros textos.

O estudo diacrônico também mantém seu lugar na interpretação histórico- gramatical. O intérprete analisa os sentidos históricos de uma palavra, através de léxicos e dicionários especializados os quais tornam acessíveis os resultados de investigações e pesquisas ao pesquisador. Mas a interpretação histórico-gramatical considera a pesquisa sincrônica de extrema importância. A investigação dos usos correntes das palavras na época em que o texto foi escrito, o seu uso no próprio Novo Testamento e, especialmente, pelo autor cujo texto interpreta-se, é realmente imprescindível à compreensão do texto bíblico.

Seu objetivo é, também, verificar “[...] quais os sentidos (geral, específicos, literal, ou figurados) que o termo é empregado (isto é, o seu domínio semântico ou leque de sentidos), pelos próprios autores do Novo Testamento e, em especial, pelo autor em questão.” (ANGLADA, 2006, p. 310).

Dentre as categorias de palavras a serem observadas com mais atenção pelo intérprete, estão os sinônimos, hipônimos e antônimos, ou seja, aquelas capazes de

expressar o mesmo sentido, sentidos semanticamente hierárquicos e também sentidos opostos, respectivamente. Sua importância está em que, quando são usadas, ajudam o intérprete a determinar o escopo semântico de seu texto possibilitando determinar o sentido do texto.

Quanto ao sentido do texto, os estudos diacrônicos e sincrônicos têm o objetivo de familiarizar o intérprete com o domínio semântico ou mesmo uma aproximação mais real de seu significado com o objetivo de determiná-lo. A meta é saber qual o sentido da palavra empregada no texto em questão, isto é, o sentido usado pelo autor no texto em estudo.

Esse objetivo leva o intérprete a investigar os diferentes tipos, aspectos e níveis contextuais da palavra, uma vez que o contexto literário, histórico e teológico imediato é elementar. Os níveis contextuais mais remotos, como o intermediário e o geral, também determinam o significado de uma palavra em certa passagem. E, às vezes, é o próprio autor quem determina o significado de uma palavra na passagem.

Mas, na maioria das vezes, é o contexto imediato que esclarece este sentido. Porém, há vezes em que é necessário recorrer a textos paralelos – sejam de palavras, ideias, assuntos, acontecimentos ou mesmo doutrinas.

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