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CAPÍTULO 6. BACIA DO GANDARELA

6.2. Histórico do Conhecimento Palinológico

6.3.2. Interpretação

Com base na análise sedimentológica descrita anteriormente, foi possível definir duas associações de fácies baseando-se nos processos de transporte sedimentar que geraram estes dois conjuntos (Figura 24).

A associação de fácies I reúne as fácies linhito, argilito e argilito orgânico. Esta associação representa o conjunto de rochas formadas em um ambiente lacustre, cujos sedimentos foram depositados por decantação. Davis (1983) classificou os lagos em dois tipos básicos: aqueles dominados pela acumulação de sedimentos terrígenos e aqueles com predomínio de precipitados químicos. A maior parte dos sedimentos terrígenos que acumulam nos lagos é realizada por transporte fluvial. Segundo Davis (1983) e Miall (1990), é possível verificar um padrão de distribuição de sedimentos num lago, com sedimentos mais grossos sendo depositados nas margens e os sedimentos finos próximos ao centro da bacia. As porções mais calmas e profundas dos lagos são caracterizadas pela sedimentação constituída por partículas com granulometria fina (argila e silte).

A análise palinológica dos sedimentos ricos em matéria orgânica pertencentes à associação de fácies I, revelou a presença de um corpo aquoso baseando-se na ocorrência de microalgas clorofíceas representadas pelas formas Botryococcus braunii e zigósporos de Zygnema sp. Zamaloa (1993), relacionou a presença de zigósporos de Zygnema sp à condições ambientais dulciaqüícolas mesotróficas nas quais favoreceriam o desenvolvimento destas algas.

Um aspecto interessante encontrado na associação de fácies I refere-se à gênese dos linhitos. Mclane (1995) associou a formação das turfas à acumulação, in situ, de restos vegetais em ambientes com baixos valores de Ph e Eh, condições necessárias para a preservação da matéria orgânica. As turfas podem ocorrer em pântanos de regiões tropicais, temperadas e até polares. Segundo este autor, a composição da flora e a sua produtividade estariam vinculados à qualidade da água (doce, salobra ou salina) e pelo clima (seco ou úmido, quente ou frio), sendo que estes fatores controlariam a taxa de acumulação na turfa influenciando, posteriormente, nas características finais do carvão.

Embora climas quentes favoreçam um aumento na taxa de produtividade das plantas, ao mesmo tempo, também proporcionam uma alta deterioração e destruição da matéria orgânica. Já em climas frios, tanto a produtividade das plantas quanto a taxa de destruição da matéria orgânica são baixas.

Este amplo espectro climático associado à gênese das turfas foi encontrado nos linhitos depositados na bacia do Gandarela, sendo definido através da análise palinológica destes sedimentos. Nesta análise foi possível identificar linhitos depositados sob condições climáticas quentes e úmidas e em condições frias e semi-áridas. A expressiva quantidade de esporos triletes de pteridófitas e grãos de pólen colpados, em especial os monocolpados associados às palmeiras, em linhitos como representado na figura 25A à profundidade de 56m, foi relacionada à condições climáticas tropicais. Regali (1971), Lima & Dino (1984) e Lima & Cunha (1986) identificaram a ocorrência de climas quentes e úmidos baseando-se na associação de pteridófitas e palmeiras.

Os linhitos depositados sob condições subtropicais e semi-áridas ocorrem à profundidade de 18m, baseando-se na presença de cistos de dinoflagelados, esporos triletes da espécie Cicatricosisporites dorogensis e grãos de pólen dissacados, como mostra a figura 25B. De acordo com os trabalhos de Maizatto et al. (2000), Maizatto et al. (1998), Maizatto et al. (1997a) e Maizatto (1997), a presença de cistos de dinoflagelados continentais na bacia do Gandarela estaria associada a condições climáticas semi-áridas. A mesma interpretação paleoclimática foi apresentada por Germeraad et al. (1968) em relação à presença de Cicatricosisporites dorogensis em sedimentos terciários da América do Sul, África e Ásia. As baixas temperaturas durante a deposição destes linhitos foram indicadas através da ocorrência de grãos de pólen de dissacados.

A associação de fácies II (Figura 24) é representada pelas fácies arenito grosso, arenito médio, diamictito A e diamictito B. Esta associação representa o conjunto de rochas texturalmente imaturas e com aspecto maciço depositadas na bacia do Gandarela.

As feições encontradas na associação II estão relacionadas a depósitos sedimentares gerados a partir de fluxos de detritos, baseando-se nos trabalhos de Selley (1988) e Einsele (1992). Segundo esses autores, o processo de transporte por fluxos de detritos estaria vinculado à ação gravitacional, sendo necessários alguns pré-requisitos para promover este deslocamento de massas, tais como: declive acentuado, chuvas torrenciais ou terremotos. Einsele (1992) descreveu os depósitos de fluxos de detritos como sendo constituídos por matacões, cascalhos, areias, siltes e argilas, apresentando-se geralmente mal selecionados e com um aspecto maciço.

As características encontradas na associação II podem ser observadas em algumas fácies de ambientes deposicionais continentais, como por exemplo, leques aluviais e fan deltas.

No entanto, os dados obtidos através da análise de fácies envolvendo esta associação não foram conclusivos no que se refere à definição do ambiente deposicional para este intervalo sedimentar.

A gênese das fácies diamictitos A e B mereceram algumas considerações à parte neste trabalho. A presença destas fácies, na maior parte das vezes, encontra-se conjugada à expressiva ocorrência de cistos de dinoflagelados (Figura 26A) e esporos de Cicatricosisporites dorogensis (Figura 26B) nas camadas sobrejacentes e subjacentes à estes diamictitos. Nas profundidades de 75m e 85m foi observada a presença de cistos de dinoflagelados nas camadas imediatamente subjacentes aos diamictitos, como mostra a figura 26A.

Nos níveis onde se observou o predomínio de Cicatricosisporites dorogensis (Figura 26B) foram contabilizados cerca de 60% a 80% desta espécie do total de esporos triletes nas lâminas analisadas, indicando condições climáticas extremamente favoráveis para o desenvolvimento deste grupo de pteridófitas. Este contexto foi observado nas profundidades de 52m e 69m, sendo representado na figura 26B. É importante destacar nesta figura, inclusive, a presença marcante de cistos de dinoflagelados à profundidade de 73m.

Como já foi mencionado anteriormente, a ocorrência conjugada, ou não, destes elementos (cistos de dinoflagelados e esporos cicatricosos) na bacia do Gandarela estaria relacionada à condições climáticas semi-áridas. Desta forma, sob tais condições, a lâmina d’água do paleolago Gandarela, provavelmente, sofreu uma queda, desencadeando a redução da área do lago. A gênese destes diamictitos poderia estar associada à períodos de chuvas efêmeras, cujas águas transportariam este material sedimentar depositando-o nas margens

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