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SIGLAS E SÍMBOLOS

1. Medidas Preventivas da Infeção Respiratória Associada à Ventilação: Aplicação de um Conjunto de Medidas Preventivas (“Bundle”) em Contexto de Cuidados Intensivos

1.4 Interrupção da Sedação

O desconforto e ansiedade podem ser vivenciados pelos doentes críticos, em contexto de cuidados intensivos, pelo que normalmente se recorre ao uso de medicação sedativa e analgésica, através de perfusões venosas contínuas, (Berry & Zecca, 2012). Níveis de sedação inadequados podem conduzir a complicações, como a remoção de dispositivos invasivos por parte do doente, a desadaptação ven- tilatória, o aumento do consumo de oxigénio, (Dotson, 2010). Este mesmo autor alerta que o alívio do desconforto é realmente importante, mas níveis de sedação excessiva devem ser evitados, pois estão associados a mais dias de ventilação mecânica, bem como internamentos mais longos, (Dot- son, 2010). Outra desvantagem importante do uso excessivo de sedação é o fato de dificultar a ava- liação das capacidades mentais dos doentes críticos, mascarando situações como o delírio hipoativo (Strom, Martinussen & Toft, 2010). Por outro lado, Berry e Zecca (2012) referem que apesar dos ris- cos da sedação excessiva, a prevalência no uso de sedação contínua é evidente e crescente nos últi- mos anos.

A avaliação do nível de sedação, definir o nível mais apropriado para cada doente e sua situação clíni- ca, estabelecer um equilíbrio entre o défice e o excesso de sedação, tudo isto associado à complexida- de do doente crítico tem sido descrito como um desafio, (Weisbrodt et al, 2011).

A administração deste tipo de fármacos deve ser regrada, delineando-se metas para cada doente, a fim de manter um nível de consciência que permita acordar fácil e calmamente, (Dotson, 2010). Weisbrodt et al, (2011) acrescentam que um nível adequado de sedação deve contribuir para o conforto mas não induzir o coma.

O controlo na administração da sedação é uma das responsabilidades da equipa de enfermagem, e que de acordo com Berry e Zecca (2012) implica uma estratégia multidisciplinar entre enfermeiros, médi- cos e farmacêuticos com a principal finalidade de prevenir complicações.

São várias as estratégias para limitar e/ou controlar o uso da medicação sedativa, nomeadamente o uso de protocolos de sedação, usar doses de sedativo em bólus em vez das perfusões contínuas, optar por drogas com menor tempo de ação (por exemplo o Propofol) e a interrupção diária da sedação, (Dotson, 2010).

Relativamente à interrupção diária da sedação, nos últimos anos tem sido alvo de vários estudos, em que se tenta demonstrar os seus benefícios para o doente crítico, na medida em que pode estar associa- da à diminuição das complicações derivadas do excesso de sedação, podendo também reduzir o tempo de ventilação mecânica e dias de internamento na UCI.

São descritas várias vantagens da interrupção diária da sedação: diminuição do risco de complicações associadas à doença grave (PAV, hemorragia digestiva alta, bacteriemia e doença venosa profunda), diminuição na frequência e na duração do coma nos doentes críticos, menor necessidade de recorrer a exames de diagnóstico radiológicos (Tomografia Axial Computorizada e Ressonância Magnética cerebral), diminuição na exposição aos efeitos adversos da medicação sedativa e também a redução nos custos hospitalares pela redução de tempo de internamento hospitalar, (Dotson, 2010). Por outro lado, Sakata (2010) refere que ao interromper diariamente a sedação, há uma diminuição na acumula- ção de sedativos e metabólitos com uma recuperação do estado mental mais rápida, permitindo ao médico reconhecer mais precocemente a capacidade de ventilação espontânea do doente.

As principais dificuldades descritas relativas à interrupção diária da sedação são o aumento da auto- extubação, angústia, aumento da pressão intracraniana, síndrome de abstinência. Associado a isto exis- te a necessidade aumentada da vigilância do doente a fim de se prevenirem as complicações relaciona- das à agitação proveniente da interrupção da sedação, (Sakata, 2010).

Desde o ano 2000 surgiram vários estudos controlados e randomizados, comparando doentes, subme- tidos ao protocolo de sedação e analgesia convencional da(s) unidade(s) em estudo, com o grupo de intervenção sujeito à interrupção diária da sedação, permitindo o doente acordar espontaneamente até ser capaz de responder a comandos ou ficar agitado, (Dotson, 2010). Conseguiram demonstrar que o grupo de doentes sujeito à interrupção diária da sedação necessitou de menos dias de ventilação mecâ-

nica, esteve menos dias na UCI, necessitando de doses mais baixas de sedação, (Dotson, 2010). O mesmo autor refere que devido a algumas fragilidades encontradas nestes estudos, é necessário fazer mais investigação nesta área para que os resultados possam ser generalizados nas diversas UCI, (Dot- son, 2010).

Mais recentemente, Augustes e Ho (2011), através de uma meta-análise analisaram 5 estudos contro- lados e randomizados, realizados entre 2000 e 2009, com o objetivo de demonstrar os riscos e benefí- cios da interrupção diária da sedação, nos doentes críticos. Os resultados sugerem que a interrupção diária da sedação é segura, e que poderá reduzir o risco de recorrência à traqueostomia nos doentes crí- ticos, (Augustes & Ho, 2011). Os mesmos autores referem que com este estudo não conseguiram con- firmar as vantagens e resultados positivos associados à interrupção da sedação, sendo necessário desenvolver mais estudos controlados e randomizados, com amostras mais significativas, antes de a interrupção diária da sedação representar uma recomendação para a gestão da sedação do doente críti- co, (Augustes & Ho, 2011).

Na UCIP do CHTV

Na UCIP do CHTV ainda não existe um protocolo de sedação definido e instituído. Com a norma da

“Bundle”, pretende-se alertar para a importância da avaliação diária do nível de sedação dos doentes,

estimular o uso da Escala de Sedação e Agitação de Richmond (RASS), adequando a sedação ao tipo de doente e à sua situação clínica. A interrupção da sedação deve ser prescrita pelo médico, e só assim é que o enfermeiro procede à sua suspensão após o banho no turno da manhã. Deve-se deixar o doente acordar, se este acordar calmo e capaz de obedecer a ordens, mantém-se sem sedação, mas no caso de acordar agitado ou com sinais de desconforto deve ser retomada a perfusão a metade do débito anterior à suspensão e avisar o médico. Estão definidas as exceções para esta medida, como por exemplo os doentes curarizados; doentes com trauma crânio-encefálico (PIC↑);doentes desadaptados do ventila- dor.

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