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“A história de um homem é sempre mal contada. Porque a pessoa é, em todo o tempo, ainda nascente. Ninguém segue uma única vida, todos se multiplicam em diversos e transmutáveis homens”. (Mia Couto).

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CENA 20- INT. DIA- APARTAMENTO

Helena acorda de mais uma noite de sono agitado. Levanta-se, vai até a sala onde havia deixado a bolsa e pega os envelopes. Estavam numerados. Abriu o número 1. Sentou-se e leu.

Helena

Nesses dias que estarei fora te deixo algumas tarefas.

Para realizar a primeira, tu vais ter que escolher um poema que tenha relação com o tema do espetáculo, para fazeres uma interferência. Já sei que deves estar perguntando: como assim uma interferência? Quero que interfiras no poema com as tuas palavras, a patir das tuas sensações sobre tudo o que estás vivendo no processo ok? Será necessário que tu me envies por e-mail cada uma das tarefas, com uma escrita sobre as tuas impressões. Bjo e bom trabalho.

Helena lembrou-se de alguns poemas guardados há mais de quatro anos, que um amigo lhe escrevera em guardanapos de papel. Ela gostava de um em especial que seria perfeito para a tarefa. Encontrou-os em uma das gavetas do móvel do escritório. Separou o seu favorito. Leu-o e em voz alta.

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NARRADORA (V.O)

Desalinha em mim a boca que morde meu pulso Seus dentes de tempo

Os caninos pendulando,

Marcando passo sobre minhas veias Como o cálculo do bote derradeiro Marcando passo sobre minhas veias

Seus dentes... de tempo122

(Começou a trabalhar sobre o poema)

CENA 21- INT. DIA- ESCRITÓRIO

Helena escreve um e-mail com um poema para Homero.

Meu querido diretor,

Aqui vai o resultado da primeira tarefa. Para não perder o costume, inseri uma canção.

Bjo Helena

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Poema inter(ferido)

Era preciso fazer alguma coisa, Eu... Paralisada. Não dá pra brincar com o tempo. Silêncio, já passou...

Desalinha em mim a boca que morde meu pulso Seus dentes de tempo

Os caninos pendulando,

Marcando passo sobre minhas veias Como o cálculo do bote derradeiro

Sumíamos cada dia um pouco nas nossas estranhezas. Tão presentes, tão em carne viva.

Marcando passo sobre minhas veias Eu olhava. Você olhava. Não víamos nada.

De repente abro uma porta e sou invadida por uma canção Mas que canção era?

Seus dentes... de tempo Quem cantava? Éramos nós? Cortei o dedo, quando você se foi

Ainda não sarou

Só quando você voltar meu amor Aí eu paro de sangrar

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Após mandar o email, Helena abre o envelope número 2 e lê.

Helena, vamos a segunda tarefa?

Gostaria que tu escolhesses uma das narrativas dos artistas professores que tenha te impactado. Memorize-a. De preferência ouça o áudio e perceba as inflexões na voz, tente lembrar-se do momento do jogo, se algo lhe chamou a atenção, em termos de gestual. Tente perceber como ele conta aquele fato.

Outra informação importante. No nosso último encontro, num momento em que saíste da sala, escrevi a instrução da última tarefa na penúltima folha do teu caderno.

Bjo e bom trabalho.

P.S- Uma dose de Marguerite para te inspirares.

(...) abrir o vazio, para deixar que venha o imprevisível, a evidência. Abandonar, depois retomar, voltar atrás, ficar inconsolável tanto por ter deixado quanto por ter abandonado.

Desobstruir de si. E depois, às vezes, sim, escrever.123.

Helena ficou intrigada, mas, ao mesmo tempo, gostava dos desafios propostos. Consultou o material dos jogos, aquele feito com colagens das imagens, seguido das narrativas. Releu algumas partes. Escolheu uma fala que, no momento do jogo, lhe chamou a atenção. Gastou todo o tempo daquele resto de dia ouvindo a gravação do jogo e memorizando cada palavra. Foi até o escritório, pegou o caderno e localizou a folha com a última tarefa, escrita com uma letra muito pequena. Leu as instruções.

185 Helena

Assim que tu já memorizares, monte a filmadora e coloque num ângulo que possa te enquadrar sentada num plano médio124. Depois disso, quero que tu graves

o texto que memorizaste. A inspiração para esse exercício é o filme jogo de cena125.

Quero que faças o exercício na nossa sala de ensaio. Preciso que me envies até segunda-feira, pois mostrarei para a minha orientadora.

Bjo e bom trabalho

P.S: escreva-me sobre suas impressões do exercício e mande junto com o vídeo.

CENA 22- INT. NOITE. APARTAMENTO

Helena senta-se a frente do computador e escreve uma carta para Homero.

Santa Maria, 6 de maio de 2018

Um nó que se desata em outras tramas126

Domingo. Amanheço de uma noite mal dormida. Outro sonho. Corria desesperadamente por ruas de pedras irregulares. Corria para aonde? A cada esquina que chegava, olhava para todos os lados, ofegante e não sabia qual caminho escolher. Olhei atentamente e percebi que estava na rua onde ficava a casa da minha avó. Eu havia escolhido o caminho do meio. Fui até ela. A casa estava intacta. Sentei-me no portal. A respiração foi acalmando aos poucos. Uma sensação de relaxamento tomou conta do meu corpo naquele entardecer.

Uma respiração profunda fez-me lembrar que sempre odiei ensaiar aos domingos. Faço minhas as palavras de Eliane Brum: o domingo tem dentes. Os

124 Plano que mostra a pessoa com enquadramento da cintura para cima (grifo nosso)

125 Filme de Eduardo Coutinho que reúne narrativas de mulheres sobre fatos importantes das suas

vidas. Junto a isso o cineasta convida atrizes que interpretam a seu modo, as mesmas histórias. (grifo nosso).

126 A resolução cênica para esta carta é mesclar Helena escrevendo com a voz em off de

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dentes desse foram ainda maiores, pois caia uma chuva fina e estava frio. Precisava deixar meu ninho. Tirei forças que estavam guardadas em minhas maletas. Nas maletas da dama das maletas.

Homero, o meu sonho me mostrou vários caminhos a escolher. Posso fazer uma alusão aos caminhos que a imagem 8 traz em sua ilustração. Aqui vai o texto produzido no jogo solitário:

Uma imagem, talvez um desenho do que possa ser a interseção desse caminho que é cortado, que tem uma tesoura aqui que traz uma ideia de interrupção. Posso trabalhar a partir dessa interseção, como sendo essas misturas, essas ligações, essas relações que vão sendo tecidas, tanto com o conhecimento com as redes de relações, com os meus pares, quanto com as minhas amizades, com os meus afetos. Essa interseção convida a imagem a falar sobre esses caminhos que se cruzam, essas intervenções que se dão nos processos e, por hora, pode haver interrupções.

Então, parto da sensação de estranhamento para definir o ensaio da tarde. Aliás, meu querido diretor, essas palavras a partir de agora serão endereçadas a ti.

Pediste para que eu memorizasse uma fala de um dos artistas professores. A que escolhi fala sobre um momento da vida de Caçapava que se passou nos anos 80, época em que decidiu morar na Europa. Queria ser famoso.

A Bélgica foi o lugar onde ele conseguiu trabalhar com um grupo de dança- teatro depois de fazer alguns cursos. Contou-me que trabalhou primeiro na parte técnica, ajudando a montar os espetáculos e, logo depois, foi convidado para fazer parte de um espetáculo. Com isso surgiu uma situação que lhe exigiu uma tomada de decisão. Precisava fazer uma escolha. Sobre isso, ele diz que:

Caçapava- eles iam abrir testes, na França e na Bélgica. Se eu dissesse que sim, teria contrato por um ano, e aí eles já tirariam uma vaga que seria pra mim, porque eu já estava trabalhando com eles, já me conheciam.

Caçapava tinha três dias para decidir. O que isso causaria? Ele teria um contrato com tudo pago para ficar por um ano trabalhando com esse grupo.

Caçapava- Eu não quis. Depois me arrependi. Eu tenho certo arrependimento, que eu estava falando... Porque não fiquei, porque não fiz, todo mundo queria, era um sonho, todo mundo ir pra fora... Era uma época muito ruim

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aqui no Brasil, de inflação, de falta de trabalho, de falta de perspectiva. Eu já estava lá, já estava trabalhando com esse grupo, já estava morando no coração da Europa, com contrato assinado, faltava só decidir. Já tinha ganhado dinheiro com eles, porque tinham me oferecido um workshop para as atrizes e bailarinas, já tinha dado um workshop pra eles, já tinha viajado com eles e não aceitei.

Homero, ele voltou ao Brasil num momento muito ruim em termos econômicos. Não sei se lembras dessa época no nosso país, acho que eras muito pequeno ainda, mas foi uma década em que se instalou uma crise em termos econômicos que respingou em todos os setores do desenvolvimento. Uma década muito marcada pela inflação. Então ele volta para cá nesse contexto. Ficou frustrado, estava sem dinheiro.

A depressão se instalou, pois optou por não aceitar o convite e retornar. Caçapava- Então é uma trama, ali tem um nó. Eu peguei essa aqui (referindo-se a imagem 20), porque é quase uma força e outra puxando e tinha que decidir, não fiquei, voltei, e aí também essa trama, esse nó se desata numa outra trama, que é: eu voltei, não sabia o que fazer, e eu já tinha visto muito trabalho com Educação Especial fora, aí eu resolvi trabalhar com surdos. Sem estar na universidade, não era pra fazer teatro como ator, era uma função social da arte, ajudando, uma ideia assim benevolente, ajudando o outro. Aí fiz um projetinho assim... bem tristonho, cachorro humilde com o rabo no meio das pernas e aquilo abriu todo um outro campo profissional artístico até hoje, eu sou, eu tenho uma larga formação no trabalho com surdos, acadêmica, artística e que gerou todo um outro campo entre a arte e o espaço social, espaço educacional, a partir dessa não decisão de: vou me assumir e vou ser um artista na Europa [...] Uma coisa que tanta gente ambicionava. Aí depois eu entendi, tu vais fazendo tua própria avaliação da tua trajetória. Bom, abriu outro universo, autêntico, verdadeiro, que eu batalhei, me tornei pioneiro nesse trabalho, aqui no Sul pelo menos. Então há males que vêm pra bem. Essa é a trama que eu te conto.

Escolhi essa fala, Homero, porque é um pedaço de história que fala de uma descoberta de um outro universo de um artista que queria ser famoso, decidiu, e essa decisão, usando um termo da linguagem cinematográfica, foi o ponto de virada para ele. Ele se descobriu em criação.

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Portanto, confesso que não me senti muito bem em me apropriar ou reproduzir essa fala. É uma experiência muito particular e muito significativa, pois imprimiu outro sentido à vida desse artista professor. Poderia traduzir esse momento como um salto para reinvenção.

Recordo de uma parte de um texto de Josso, na qual ela fala sobre o “momento charneira”, onde a autora afirma serem momentos considerados formadores que são articulados pelas narrativas. São formadores porque lançam o sujeito em uma situação de escolha. Reorientam o sujeito a buscar novos rumos por meio de novas atividades. Muitas vezes esses momentos podem levá-lo a confrontar-se consigo mesmo.

No entendimento de Josso: “A descontinuidade em que vive o sujeito impõe-lhe transformações, mais ou menos profundas e amplas. Surgem-lhe perdas e ganhos [...]”127.

Percebo como um fato biográfico narrado por Caçapava que foi um divisor de águas na vida dele. Por isso faço um plano detalhe em um trecho desse momento com a intenção de frisar o que apresenta: Caçapava- [...] gerou todo outro campo entre a arte e o espaço social, espaço educacional, a partir dessa não decisão. E conforme Pineau e Le Grand128, ele se “re-apresentou” e isso

ocorreu a partir da motivação do jogo.

Caçapava fala sobre ser professor, como uma: [...] sensação que eu tenho do professar né, que é uma tarefa difícil, sensível, e nunca foi a minha escolha principal ser professor, eu resultei, eu cheguei nesse espaço de atuação e acho que faço bem (risos). Acho que cumpro bem com esse trabalho.

Esses dois momentos desse artista professor mostram essa virada de perspectiva em relação à profissão, sendo visto e reconhecido no momento presente.

A expressão utilizada - ‘sensação de professar’, é percebida como um termo que flagra um ato de reconhecer-se de maneira sensível na ação de exercitar, abraçar, que, no momento do jogo, se verbaliza quase como uma confissão no ato de narrar, onde o artista professor reconhece se já refletiu ou reflete sobre seu trabalho e se mostra satisfeito no percurso profissional.

127 JOSSO, 2014, p. 67 in NÓVOA e FINGER. 128 2012.

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Isso mostra um movimento do processo formativo, que Almeida 129expõe

como sendo: “a capacidade de olhar para si, para o ensino e para a aprendizagem como uma ação dinâmica, viva, contextualizada e transformadora, ou seja, como uma prática social complexa”.130

Conecto a isso que Kelchtermans131 aponta sobre a abordagem narrativo-

biográfica da autocompreensão dos professores e do seu desenvolvimento profissional, como elemento ativo para reconhecer as divergências entre os professores e seus contextos. Além dos professores serem agentes e responsáveis por fazer escolhas e agir, essa abordagem reconhece a dimensão temporal e espacial como uma confluência acompanhada do ambiente histórico e estrutural em que estão inseridos.

No entanto o autor afirma que, mesmo que a autocompreensão se desenvolva, levando em conta a dimensão temporal e espacial, o contexto mais imediato para o ensino recai sobre o relacionamento entre o professor e os estudantes. Escolho uma fala de P. que dialoga com a valorização dessas relações e penso que isso compõe os enlaces entre arte e docência. Ele fala que:

P.

- Acima de tudo, o que eu espero de mim é ser artista, se eu tivesse que cortar um deles, seria cortar o professor, acho que isso é... pelo menos nesse momento. Só que não consigo me desvencilhar de ser professor, porque acho que essa troca viva me alimenta muito como artista. Os alunos me questionam. É muito saudável alguém que te questione, que tenha uma referência nova. A gente vai ficando viciado também no nosso círculo de referências do que a gente gosta. O nosso gosto vai ficando padronizado. E os alunos vêm questionar: bah... acho isso aqui horroroso. Gente, mas sempre amei essa cena! Eu acho que eu sou um artista melhor sendo professor e sou um professor melhor por ser artista também. Acho que eles estão bem unidos assim.

129 2012.

130 ALMEIDA, 2012, p. 81. 131 2009.

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Por isso meu querido diretor, endosso essas interseções entre arte, educação, formação, utilizando as palavras de Caçapava ao definir como um grande ‘contato humano’, o que se estabelece entre professores e estudantes e que as palavras de Dias dão conta de colocar em primeiro plano.

Os professores e alunos se cruzam nas salas onde aprendem e ensinam, deixando marcas profundas uns aos outros (ou não). Suas experiências são construídas como uma obra aberta e dependem da aprendizagem, da sensibilidade, dos afetos forjados. A experiência de uma sala de aula ajuda, criando intensidades, áreas sombrias, penumbras, tempos, vazios, em uma quase atuação, deixando espaço- tempo para que a obra continue a ser criada, permitindo que algo nos passe, nos aconteça no cultivo da arte do encontro entre professores e alunos, entre ensinos e aprendizagens. Desse modo a experiência é sobretudo, habitada por um educador, que no movimento capta o dia a dia, sem artificio, e forja o jeito de fazer o planejamento de uma aula, de intervir na leitura, de abrir-se para movimentos de uma aula (DIAS, 2011, p. 103 e 104).

Essas experiências podem ser vislumbradas pelo professor que se entende no mundo como obra aberta. Junta-se nesta seara o que Pineau e Le Grand falam a respeito dos processos de produção de histórias, que mostram as marcas que as experiências imprimem na vida. Sobre isso afirma que quanto mais impactante for a experiência, menos rapidamente ela pode ser compreendida. É preciso que ela se “re-exprima” que volte a fazer seu movimento “em câmera lenta. É preciso que ela se re-apresente e para isso é preciso um trabalho de rememoração e, junto a isso o surgimento do novo como sincronização de vários tempos como dádiva, presente”. 132

Este processo de encontro do sujeito com suas lembranças é como retratos colados em folhas do tempo, portanto requer a vontade de escavar.

O que pode vir à tona é da ordem do imaginário e isso se aproxima ao trabalho da montagem no cinema, pois à medida que o sujeito narra, aciona um processo de montagem, considerando que existe um trabalho de organizar, sobrepor e contrapor. Selecionar takes da sua própria história. Requer dar um enquadramento aos acontecimentos, colocar fatos em planos detalhes ou em plano aberto.

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Ao narrar-se, o sujeito se posiciona como ser no mundo, protagonista de

vivências que o singularizam num espaço tempo. Seja passado ou presente, pois pelas palavras de Oliveira133, “reconstruir, (re) siginificar, por meio das imagens orais, das imagens escritas, fotográficas, trajetórias de vida pessoais e profissionais” é uma possibilidade, uma abertura de escuta de si.

Podes me dizer depois o que achas de tudo isso. Hoje encerro aqui, vencida pelo cansaço. Um abraço.

H.

CENA 23-INT. DIA. CAFÉ

Helena está num café no centro da cidade, esperando Verônica, sua orientadora. O telefone toca. Verônica avisou Helena que atrasaria, pois havia tido um problema com o carro. Helena abre o computador e começa a escrever outra carta para Homero.

Santa Maria, 8 de maio de 2018

Na corda bamba: um ensaio sem encontro

Gostaria de escrever sobre a vivência de domingo. Estou sendo levada pela correnteza das minhas percepções, dos meus sentimentos. Quando fui estudante na graduação, não passei pela experiência do monólogo, desse modo não sei bem o que é me trancar em uma sala e trabalhar sozinha. Talvez seja uma falha em minha constituição artística. Admito que, como atriz, sou dependente de um diretor. Então, sobre o último domingo tive que enfrentar a mim mesma e foi um tanto desconcertante. Foi um ensaio sem encontro e sem convívio. Entro em conflito com o que Dubatti aborda, pois isso, segundo ele, não foi um acontecimento.

Essa vivência, ou melhor, experiência está sendo provocadora. Proporcionaste para mim momentos de um trabalho solitário, para além da tese.

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Digo isso porque, quando estou em meu ninho, solitária, a escrever, parece que estou a falar contigo, com os artistas professores, com a minha orientadora. Só que, no domingo, me senti muito só. O que se concretizava nos encontros e no convívio foi-me tirado nesses últimos dias. Por isso escolho falar sobre esses temas tão próprios do teatro e tão próximos da educação em minha concepção.

Acontecimento e encontro são elementos esses que relaciono com os fazeres dos professores, mais especificamente, com a aula. Dubatti fala do teatro

como a arte do convívio, uma “intersecção”134. Onde espaço e movimento estão

implicados, é a possibilidade que oferece um lugar onde as coisas se encontram. E o que é a sala de aula, senão encontro e convívio? O que pode provocar esse encontro e esse convívio? Penso que acontecimento e encontro fazem parte do fazer teatral e da sala de aula.

Vejo nas palavras de P. um tipo de encontro a que ele se refere, pois abordou essa questão ao dizer:

P.

- a formação também, além da nossa relação mais pessoal com os professores e o conhecimento, ela vai criando os grupos, principalmente na graduação. Os grupos interferem muito no que tu vais ser na projeção também do teu futuro. Faz parte da formação a gente reconhecer esses grupos e projetar, junto com eles, o que queremos buscar, o que acreditamos. .

As palavras de Bertaux 135 encontram-se com essa fala, ao dizer que não é possível compreender as ações de um sujeito nem a própria produção dos sujeitos, se ignoramos tudo sobre os grupos dos quais ele/ela fez parte em algum momento de sua existência. Seu próprio projeto de vida, decidido em certo momento da existência, não foi elaborado in abstrato dentro de uma consciência isolada, mas foi falado, dialogado, construído, influenciado e negociado ao longo

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