• Nenhum resultado encontrado

3 DOS INTERVALOS E DOS REPOUSOS DO TRABALHADOR

3.1 Repousos Diários

3.1.1 Intervalos intrajornada

Os intervalos intrajornadas são aqueles que ocorrem como pausa no decorrer da jornada, com o objetivo de refazimento e alimentação.

Existe a obrigação de concessão pelo empregador de intervalo de uma hora para repouso e alimentação para aquele que possuir jornada superior a 6 horas diárias, sendo que para os que a jornada for superior a 4 horas a obrigação se reduz para quinze minutos.

A CLT disciplina a matéria no art. 71 e seguintes que originalmente (antes da Reforma de 2017) tinha a seguinte redação:

Art. 71 - Em qualquer trabalho contínuo, cuja duração exceda de 6 (seis) horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou alimentação, o qual será, no mínimo, de 1 (uma) hora e, salvo acordo escrito ou contrato coletivo em contrário, não poderá exceder de 2 (duas) horas.

§ 1º - Não excedendo de 6 (seis) horas o trabalho, será, entretanto, obrigatório um intervalo de 15 (quinze) minutos quando a duração ultrapassar 4 (quatro) horas.

§ 2º - Os intervalos de descanso não serão computados na duração do trabalho.

§ 3º O limite mínimo de uma hora para repouso ou refeição poderá ser reduzido por ato do Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, quando ouvido o Serviço de Alimentação de Previdência Social, se verificar que o

estabelecimento atende integralmente às exigências concernentes à organização dos refeitórios, e quando os respectivos empregados não estiverem sob regime de trabalho prorrogado a horas suplementares.

§ 4º - Quando o intervalo para repouso e alimentação, previsto neste artigo, não for concedido pelo empregador, este ficará obrigado a remunerar o período correspondente com um acréscimo de no mínimo 50% (cinqüenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho. (Incluído pela Lei nº 8.923, de 27.7.1994)

§ 5o O intervalo expresso no caput poderá ser reduzido e/ou fracionado, e aquele estabelecido no § 1o poderá ser fracionado, quando compreendidos entre o término da primeira hora trabalhada e o início da última hora trabalhada, desde que previsto em convenção ou acordo coletivo de trabalho, ante a natureza do serviço e em virtude das condições especiais de trabalho a que são submetidos estritamente os motoristas, cobradores, fiscalização de campo e afins nos serviços de operação de veículos rodoviários, empregados no setor de transporte coletivo de passageiros, mantida a remuneração e concedidos intervalos para descanso menores ao final de cada viagem. (Redação dada pela Lei nº 13.103, de 2015) (Vigência)

Art. 72 - Nos serviços permanentes de mecanografia (datilografia, escrituração ou cálculo), a cada período de 90 (noventa) minutos de trabalho consecutivo corresponderá um repouso de 10 (dez) minutos não deduzidos da duração normal de trabalho.

O parágrafo 4º foi alterado com a Reforma de 2017 passando a ter a seguinte redação:

§ 4o A não concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica o pagamento, de natureza indenizatória, apenas do período suprimido, com acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho (alterado pela Lei 13.467/2017).

Tal modificação é a revogação do entendimento consubstanciado do TST que era previsto na Súmula 437, amplamente utilizada nas decisões judiciais, vejamos a redação:

Súmula nº 437 do TST

INTERVALO INTRAJORNADA PARA REPOUSO E ALIMENTAÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 71 DA CLT (conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 307, 342, 354, 380 e 381 da SBDI-1) - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012

I - Após a edição da Lei nº 8.923/94, a não-concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica o pagamento total do período correspondente, e não apenas daquele suprimido, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho (art. 71 da CLT), sem prejuízo do cômputo da efetiva jornada de labor para efeito de remuneração.

II - É inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a supressão ou redução do intervalo intrajornada porque este constitui medida de higiene, saúde e segurança do trabalho, garantido por norma de ordem pública (art. 71 da CLT e art. 7º, XXII, da CF/1988), infenso à negociação coletiva.

III - Possui natureza salarial a parcela prevista no art. 71, § 4º, da CLT, com redação introduzida pela Lei nº 8.923, de 27 de julho de 1994, quando não concedido ou reduzido pelo empregador o intervalo mínimo intrajornada para repouso e alimentação, repercutindo, assim, no cálculo de outras parcelas salariais.

IV - Ultrapassada habitualmente a jornada de seis horas de trabalho, é devido o gozo do intervalo intrajornada mínimo de uma hora, obrigando o empregador a remunerar o período para descanso e alimentação não usufruído como extra, acrescido do respectivo adicional, na forma prevista no art. 71, caput e § 4º da CLT.

O item I da referida Súmula previa o pagamento na totalidade do intervalo suprimido ainda que em parte, o que de acordo com a nova Legislação não poderá mais ser aplicado.

Os intervalos não são computados na duração do trabalho, ou seja, um trabalhador que tiver uma jornada de 8 horas diárias poderá permanecer no local de trabalho (caso faça seu intervalo no local de trabalho o que é deveras comum) por um período de 9 horas diárias. O mesmo ocorre com aquele que tem 15 minutos de intervalo, poderá permanecer no trabalho 6 horas e quinze minutos.

De acordo com Maurício Godinho Delgado, os intervalos intrajornadas se classificam em comum e especiais e possuem tipologia em remunerados e não remunerados.

a) Intervalos comuns e especiais – A primeira tipologia (intervalos comuns e especiais) constrói-se em função da participação maior ou menor dos intervalos no conjunto das jornadas laborais que caracterizam as diversas categorias profissionais. E face deste critério comparativo, os intervalos podem ser considerados comuns, quando abrangentes das diversas categorias integrantes do mercado de trabalho, ou intervalos especiais, que são os característicos apenas de certa categoria profissional ou do exercício do trabalho em certas circunstâncias diferenciadas.

É intervalo comum o lapso temporal de 1 a 2 horas para refeição e descanso que deve intersecionar jornadas contínuas superiores a 6 horas(art. 71, CLT). Engloba-se também neste grupo o intervalo de 15 minutos para descanso que deve intersecionar jornadas contínuas superiores a 4 horas (art. 71 CLT).

É intervalo especial o de 10 minutos a cada 90 laborados em serviços permanentes de mecanografia – datilografia, escrituração ou cálculo (art. 72 da CLT; súmula 346, TST). Também se engloba neste grupo o intervalo de 15 minutos a cada 3 horas consecutivas de labor em minas de subsolo (art. 298,CLT).

b) Intervalos Remunerados e não Remunerados- segunda tipologia (Intervalos Remunerados e não Remunerados constrói-se em função da integração (ou não) do lapso temporal do intervalo na correspondente jornada laboral obreira, conduzindo à remuneração (ou não) do respectivo intervalo. Em face deste critério comparativo, os intervalos podem ser chamados de remunerados, que são aqueles que integram a jornada laboral do trabalhador para todos os fins, ou intervalos não remunerados os quais não compõem a jornada laboral obreira.

É intervalo remunerado o referido pelo art. 72 da CLT(10 minutos em cada 90 laborados em serviços permanentes de mecanografia,datilografia, escrituração ou cálculo – ou serviços de digitação: Súmula 346.

São exemplo de intervalos não remunerados os dois lapsos temporais mencionados no art. 71 da CLT (de 1 a 2 horas em jornadas contínuas superiores há 6 horas diárias e intervalo de 15 minutos em jornadas continuas superiores há 4 horas)17.

Ressalta-se, ainda, que de regra o intervalo não é considerado tempo a disposição do empregador nem de labor, portanto não possuem remuneração.

Podem ser remunerados quando a ordem jurídica inequivocamente determinar a integração do intervalo na jornada.

Aponta-se, por fim, a alteração feita pela Reforma de 2017, contida no art. 611, III da CLT, da prevalência do negociado sobre o legislado em matéria de intervalo intrajornada, trazendo a possibilidade de negociação de redução do tempo de intervalo desde que respeitado o limite mínimo de 30 minutos, matéria que será vista em item específico.

17 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 8 ed. São Paulo : LTR, 2009, p.858/859.

Documentos relacionados