Após a avaliação inicial, foi realizada intervenção nutricional com os alunos da Escola Integrada (PBH, 2007a), por meio de oficinas tendo em vista a proposta de inserção da educação alimentar e nutricional neste projeto. Destaca-se que com o intuito de diferenciar os dois tipos de oficinas utilizadas, as mesmas foram classificadas como “oficinas educativas” para aquelas que visavam construção de conhecimentos por meio de conceitos e teorias através do lúdico (jogos, teatros, paródias, etc) e “oficinas culinárias” para aquelas que objetivavam colocar em prática o que havia sido aprendido por meio da preparação e degustação de alimentos.
Para iniciar a intervenção, realizou-se uma oficina educativa com o tema “O que é Alimentação Saudável?” visando promover a integração da equipe de nutrição com o público-alvo e introduzir os grupos alimentares (BRASIL, 2008) por meio da pirâmide alimentar (PHILIPPI, 1999), uma vez que esse instrumento foi utilizado durante todo o processo. Depois foram realizadas doze oficinas, sendo seis educativas e seis culinárias, contemplando todos os grupos alimentares da pirâmide (Quadro 12).
Quadro 12 – Descrição das oficinas educativas e culinárias.
Atividades Oficinas Objetivos e Temáticas
1° ao 3° ano 4° ao 6° ano Grupo dos cereais, pães e massas Abordar os alimentos pertencentes a esse grupo e principais nutrientes, destacando a
importância destes para a saúde
Oficina educativa: Teatro de fantoches; Jogo da memória de desenhos de cereais; Jogo
de cartas (“Quiz cereais”); colorir desenhos de alimentos
do grupo
Oficina culinária: Banana, aveia e mel
Oficina educativa: Roda de conversa; Cartilha educativa; Jogo da memória de desenhos de cereais; Jogo “Super Trunfo”; Jogo de cartas
(“Quiz cereais”)
Oficina Culinária: Barrinha de cereais
Grupo das frutas
Apresentar os alimentos que compõem esse grupo, os principais
nutrientes e a importância destes para
a saúde. Apresentar a necessidade e as formas corretas de higienização. Estimular o consumo desses alimentos Oficina educativa: Teatro de fantoches; Jogo de dominó, contendo ilustrações
de frutas; Jogo quebra- cabeça; Jogo de tabuleiro das
frutas
Oficina culinária: Vitamina de Frutas
Oficina educativa: Roda de conversa; Cartilha educativa; Paródia (“Eu gosto
muito de fruta”); Jogo “Quem sou eu?”; Jogo “Fruta-quente”;
Jogo de tabuleiro das frutas Oficina culinária: Salada de
frutas
Grupo das hortaliças
Abordar as verduras e legumes pertencentes a
esse grupo, seus nutrientes e importância para a saúde; Ressaltar
a necessidade do consumo diário destes; ressaltar a importância da higienização desses
alimentos
Oficina educativa: Teatro de Fantoches; Jogo da
memória; Jogo quebra- cabeças; Jogo “Encontre as
hortaliças”.
Oficina culinária: Sanduíche de “carinha”
Oficina educativa: Roda de conversa; Cartilha educativa; Paródia (“Vamos
para a feira comprar hortaliças”); Jogo “Vai comprar
qual hortaliça?”; Jogo quebra- cabeça; Jogo Bingo das hortaliças/caça-palavras Oficina culinária: Sanduíche
tricolor
Grupo dos leites e derivados
Abordar o grupo do leite, relacionando os principais derivados; ressaltar os principais nutrientes e sua importância para o crescimento e fortalecimento dos ossos
Oficina educativa: Teatro de fantoches; Jogo “Campo Minado”; Jogo “Pescaria dos
alimentos do grupo”; Jogo quebra-cabeça Oficina culinária: Iogurte
natural com frutas
Oficina educativa: Roda de conversa; Cartilha educativa; Paródia (“Leite e
derivados eu gosto de montão”); Jogo “Campo
Minado”; Jogo “Pescaria dos alimentos do grupo”; Gincana
Oficina culinária: Rocambole aos três queijos Grupo das carnes e ovos; e das leguminosas Apresentar os ovos, os diferentes tipos de carnes e leguminosas; ressaltar as diferenças e semelhanças entre os alimentos desses grupos
e a importância deles para a prevenção de
doenças
Oficina educativa: Teatro de fantoches; Jogo de Artes;
Jogo: “Montando as leguminosas, carnes e ovos”;
Jogo de baralho Oficina culinária: Sanduíche
de atum com ervilha e cenoura
Oficina educativa: Roda de conversa; cartilha educativa; paródia “Para não
ficar com anemia”; Jogo “Quem sou eu?”; Jogo “A Nutricionista e o expectador inteligente”; Jogo de baralho Oficina culinária: Salpicão
super saudável Grupo dos açúcares e doces; e óleos e gorduras Apresentar os alimentos pertencentes à esses grupos, ressaltando os benefícios do consumo e os malefícios da ingestão exagerada Oficina educativa: Teatro de fantoches; Jogo da
memória e “Super Trunfo”; Jogo “Mercado dos açúcares”;
Jogo das figuras: “Óleos e gorduras”
Oficina culinária: Bombom Bem Bom
Oficina educativa: Roda de conversa; Cartilha educativa; Paródia (“Doces devemos evitar”); Jogo da memória e “Super Trunfo”; Jogo “Mercado dos açúcares”;
Jogo “Batata quente” Oficina culinária: Surpresa de
Todos esses grupos foram trabalhados em oficinas educativas (Figura 4) e, após intervalo de aproximadamente dez dias, uma oficina culinária relativa ao grupo alimentar foi executada, permitindo a recordação do conteúdo e a vivência prática (Figura 5).
Figura 4 – Fotos de oficinas educativas sobre os grupos alimentares. Escola
Municipal do Distrito Sanitário Leste de Belo Horizonte – Minas Gerais, 2010.
Figura 5 – Fotos de oficinas culinárias sobre os grupos alimentares. Escola
Por fim, foi realizada uma oficina educativa designada “Alimentação para a Saúde”, como estratégia para reforçar o aprendizado sobre os grupos alimentares trabalhados. Os alunos também foram convidados a assistir a peça “Alice no Mundo das Gostosuras” que abordou a importância da alimentação saudável, em um teatro de Belo Horizonte.
As oficinas foram ministradas por acadêmicos de Graduação e Pós- Graduação da Universidade Federal de Minas Gerais, com a supervisão de professores. As turmas apresentaram no máximo 25 alunos, sempre da mesma série, para promover maior participação (FAGIOLI & NASSER, 2006). Deste modo, as oficinas foram realizadas em um número de vezes suficiente para atender o tamanho amostral estudado, ou seja, foram realizadas 14 oficinas com cada série (do 1° ao 6° ano) totalizando 84 oficinas. Destaca-se que cada uma delas apresentou duração de aproximadamente 1 hora e 30 minutos.
As intervenções foram elaboradas considerando as especificidades da faixa etária dos escolares, com adaptações pedagógicas e de linguagem, a fim de possibilitar maior efetividade na construção de conhecimentos sobre os temas trabalhados e interação entre os participantes. As atividades desenvolvidas foram subsidiadas por materiais educativos e constaram de uma parte teórica inicial, na forma de teatro de fantoches para as crianças do 1° ao 3° ano e como roda de conversa e paródia para os alunos do 4° ao 6° ano, seguida de dinâmicas e jogos relacionados aos temas abordados.
Foram utilizados materiais propostos pelo Ministério da Saúde como o caderno de atividades “A Escola Promovendo Hábitos Alimentares Saudáveis” (IRALLA; FERNANDEZ; RECINE, 2001), “Dez Passos para a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas” (BRASIL, 2006e) e a apostila “Educação Nutricional para Alunos do Ensino Fundamental” (RECINE et al., 2001), bem como a cartilha “Por dentro dos Alimentos” e o livro de atividades “Aprendendo com os Alimentos” da Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional da PBH (PBH, 2007c; 2007d).
As oficinas culinárias abrangeram a preparação de lanches saudáveis pelas próprias crianças, envolvendo os diferentes grupos alimentares trabalhados. Todas as preparações foram testadas anteriormente e executadas seguindo os padrões de higiene necessários. Foram utilizados livros como “O Pequeno Chef” (GRAIMES, 2009), “12 Menus para Pequenos Chefs” (ALBAUT, 2005a), “40 Receitas Sem
Fogão” (ALBAUT, 2005b), e “Bagunça na Cozinha” (CALLIS & FARKAS, 2006) e realizadas adaptações das receitas quando necessário. Em cada oficina foram trabalhadas preparações nutricionalmente equilibradas, posteriormente utilizadas para a construção de uma cartilha de receitas. Esta foi entregue aos participantes ao final da intervenção.
Essas oficinas eram realizadas em uma sala da escola, sendo executados pela pesquisadora principal os pré-preparos necessários tendo em vista a indisponibilidade de alguns recursos materiais como fogões e fornos.
Ressalta-se que todas as oficinas, tanto educativas como culinárias, foram realizadas a partir de um roteiro estruturado, com todos os itens (teatro, paródias, jogos, cartilhas, entre outros) elaborados pela própria equipe de pesquisa. Exemplos desse roteiro para ambos os tipos de oficinas se encontram nos Apêndices F e G.
A aceitação das oficinas foi verificada por meio de uma escala hedônica adequada à faixa etária em estudo, aplicada ao final de cada uma delas. Esta escala possui cinco ilustrações de respostas faciais (ASSIS et al. 2007) à pergunta “Como me sinto em relação ao que eu fiz e aprendi nesta oficina?”. Além disso, um dos acadêmicos de Nutrição apresentou o papel de observador, anotando diferentes aspectos relacionados à oficina tais como o interesse, a participação e o envolvimento das crianças com as atividades desenvolvidas. Tais impressões auxiliaram no desenvolvimento das oficinas posteriores.
Ademais, foram entregues dois “Cadernos de Atividades” (Apêndices H e I) para os alunos, um deles após o primeiro semestre letivo, com exercícios referentes aos grupos alimentares trabalhados durante esse período e o outro ao final da intervenção com atividades sobre os demais grupos alimentares abordados. Utilizou- se essa estratégia para que durante o período de férias, principalmente de julho, os alunos mantivessem contato com os temas das oficinas. Foi solicitada a devolução preenchida desse primeiro caderno, sendo oferecido um brinde (chaveiro de cenoura) a todos aqueles que o entregaram. Ressalta-se ainda que a nutricionista responsável pela intervenção verificou todos os cadernos e aquele que obteve maior percentual de acertos e organização foi presenteado (tapete em formato de morango– Apêndice J).