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II. ENQUADRAMENTO PRÁTICA PROFISSIONAL

1. Perturbação do espetro do autismo

2.1 Intervenção psicomotora em indivíduos com PEA

2.1.1 Intervenção psicomotora em meio aquático

A aquisição de competências e a forma como a mesma se processa dependem do ambiente em que a aprendizagem se desenvolve, e do tipo de tarefas e da forma como estas se ajustam às características físicas, fisiológicas e cognitivas do indivíduo (Thelen &Ulrich cit. in Lee & Porretta, 2014). As propriedades físicas da água (e.g. temperatura, profundidade), bem como os movimentos realizados nela e a flutuação, podem ter impacto nas competências motoras, visto possibilitar a interação do indivíduo com o meio (Lee & Porretta, 2014).

Para além dos aspetos físicos, a água também tem benefícios a nível psicológico, tais como a sensação do corpo imerso na água, que ajuda na relaxação

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do indivíduo e que consequentemente melhora o humor e diminui a depressão e ansiedade (Broach, & Dattill, 1996 cit. in Hall, 2013, p.23). As propriedades deste meio são importantes no desenvolvimento psicomotor e promovem a autonomia, a partir do processo de separação e individualização do indivíduo, criatividade e interação com o outro (Potel, 2003).

A imersão, bem como o seu à vontade para a efetuar, varia de acordo com a personalidade do indivíduo, a frequência com que o mesmo vai à piscina e o seu desempenho dentro de água (Potel, 2003).

As atividades desenvolvidas em meio aquático promovem aspetos físicos, motores, sociais, e emocionais do indivíduo (Huettig, & Darden-Melton, 2004 cit. in Hall, 2013, p.23), bem como o seu bem-estar ao longo do tempo (Auxter, Pyfer & Huettig, 2005 cit. in Hall, 2013, p.23). Um programa que seja bem direcionado e estruturado promove a saúde e bem-estar do indivíduo com PEA, bem como a aquisição de competências importantes para a sua vida (Lepore et al., 2007 cit. in Hall, 2013, p.6). Em algumas situações estes indivíduos têm receio da proximidade com a água, e noutras é necessário estar especialmente atento pois não conseguem percecionar os riscos que podem estar associados a esta (Cross, 2009).

Alguns investigadores referem que o meio aquático atua como facilitador da aprendizagem e do desempenho. Assim, esta prática melhora competências relacionadas com a natação (Yilmaz, Konukman, Birkan, & Yanardağ, 2010), jogos aquáticos (Yilmaz, Birkan, Konukman, Erkan & 2005 cit. in Lee & Porretta, 2014, p.41), saúde e competências motoras (Yilmaz, Yanardag, Birkan, & Bumin, 2004 cit. in Lee & Porretta, 2014). Esta também aumenta a interação social e é importante na redução de comportamentos estereotipados (Pan, 2010).

Embora não existam muitos estudos que comprovem a eficácia da intervenção em meio aquático em indivíduos com PEA (Hall, 2013), é importante a aprendizagem do nado nesta população, visto o afogamento ser uma das principais causas de morte associada à mesma (National Autism Association, 2011 cit. in Hall, 2013). No entanto, não é só a natação que é importante nesta população, os exercícios e jogos realizados em meio aquático favorecem também estes indivíduos (Killian, Joyce-Petrovich, Menna & Arena, 1984, Prupas, Harvey &Benjamin, 2006 cit. in Yanardag, Akmanoglu, & Yilmaz, 2013, p.47), exemplo disso é o facto de um estudo realizado ter verificado que indivíduos com PEA apresentam melhores resultados em atividades desenvolvidas em meio aquático do que realizadas em meio terrestre (Killian, Joyce-Petrovich, Menna & Arena, 1984 cit. in Yanardag, Akmanoglu, & Yilmaz, 2013, p.47).

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Os exercícios realizados em meio aquático não são apenas benéficos para o bem-estar físico e para a integração social do indivíduo, mas também para o desenvolvimento da linguagem e autoconceito do indivíduo com necessidades especiais (Koury, 1996, Winnick, 2000, Yilmaz, Yanarda, Birkan, & Bumin, 2004 cit. in Yanardag, Akmanoglu, & Yilmaz, 2013, p.47). A intervenção deve ir de encontro às necessidades de cada indivíduo, e deve progressivamente ir do contacto inicial até aos aspetos mais técnicos de aprendizagem. Neste âmbito, a psicomotricidade tem um papel relevante na medida em que pode ser utilizada na prevenção ou reabilitação de problemáticas relacionada com a ausência de coesão entre corpo, mente e prazer. Além disto, esta intervenção auxilia na integração do indivíduo, na estimulação do seu potencial, na interação social, promove o dia-a-dia do indivíduo, melhora aspetos médicos, sociais, educativos e profissionais, e promove a experiência de sensações visuais, cinestésicas, táteis e auditivas (Velasco, 2010).

Para os indivíduos com PEA, esta intervenção é importante na medida em que a realização de atividades aquáticas promove a diminuição de movimentos estereotipados e impulsiona o desenvolvimento de competências motoras (Lee & Porretta, 2014).

No entanto, existem alguns entraves na realização deste tipo de intervenção, tais como o facto de muitas entidades não aceitarem pessoas com dificuldades como clientes, a diferença de oportunidades, dependendo da região onde se vive, as acessibilidades e as piscinas na sua maioria carecerem de equipamento adequado para o desenvolvimento deste tipo de atividade, o défice de formação teórica e de experiência por parte dos profissionais, ausência de apoio a nível da orientação, acompanhamento e avaliação da intervenção, défice de iniciativas a nível terapêutico e educacional e de materiais para o desenvolvimento das atividades e reduzido número de programas de apoio à família do indivíduo (Velasco, 2010).

No que se refere às partes que integram uma sessão do meio aquático, as mesmas devem ser: o aquecimento, fundamental para a diminuição do risco de lesões, realização de movimentos mais amplos e identificação de pontos dolorosos, que possibilita ao indivíduo a preparação dos diferentes grupos musculares, faz com que o corpo dentro de água aqueça mais rapidamente e ajuda na prevenção de dores musculares. As atividades de força e resistência, na qual se realizam as tarefas, respeitando sempre os limites e potenciais de cada um. E a relaxação que tem como objetivo a diminuição da tensão muscular, e que promove a descontração muscular, aumenta a circulação e diminui o nível de dor. Além disto, esta prática é extremamente

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importante visto que para além de ser lúdica, pedagógica, recreativa, motivacional e educacional, é também terapêutica, reeducativa e reabilitativa (Velasco, 2013).

Esta prática engloba diversos benefícios. Caso disto é o equilíbrio, o qual é trabalhado a partir da destreza motora, das posturas reflexas, da perda de apoio no solo e das alterações da marcha, tarefas que necessitam de reajustes posturais que auxiliem na reorganização corporal. Os jogos tónicos e sensoriomotores, que realizados a partir de referenciais espácio-temporais, permitem trabalhar a autoconfiança e as relações interpessoais a partir do jogo espontâneo. As atividades dirigidas e expressão corporal. A comunicação não-verbal e, desta forma a interação corporal através do jogo dirigido e verbal. O facto de existirem limites bem definidos, o que leva à melhoria da capacidade de aceitação, socialização e reconhecimento dos limites dos pares. O melhoramento dos diferentes ritmos. E o estabelecer de relações e contacto corporal com o outro (Velasco, 2013).

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