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Intervenção psicopedagógica no Ensino Superior

PARTE I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Capítulo 3 – Intervir ao nível do Ensino Superior

3.3. Intervenção psicopedagógica no Ensino Superior

Vários estudos têm vindo a demonstrar como o processo de transição e adaptação ao Ensino Superior pode tornar-se difícil para os estudantes. Verifica-se que este processo resulta muitas vezes em insucesso escolar, tendo como base dificuldades em lidar adequadamente com os problemas, tem graves repercussões para a saúde dos estudantes, sendo exemplo desse facto os elevados índices de depressão que se verifica actualmente no ceio da população estudantil (Ponciano &

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Pereira, 2005, cit. por Pereira, 2005) e ainda para o desenvolvimento do indivíduo (Cutrona, 1982; Tinto, 1986; Fisher e Hood, 1987, cit. por Pereira, 2005).

Um conjunto alargado de variáveis pessoais, interpessoais e institucionais aparecem associadas às dificuldades dos alunos na sua adaptação e rendimento académicos (Santos & Almeida, 2001). O insucesso escolar é complexo e multifacetado, englobando problemas de natureza académica, de desenvolvimento de carreira e outros factores relacionados com o desenvolvimento pessoal do indivíduo (Zeidner, 1995; Pereira, 1997; Pereira et al., 2004a, cit. por Pereira, 2005).

Segundo Perry (1970, cit. por Santos & Almeida, 2001), é possível contribuir, de forma intencional, para o desenvolvimento do estudante universitário. Neste sentido, é importante que as universidades não se preocupem apenas com os desempenhos escolares dos seus estudantes ou com o facto de os preparar para serem indivíduos altamente especializados. Devem antes perspectivá-los de uma forma global e sistémica, como indivíduos em transição nas várias esferas da vida e para quem os recursos sociais se constituem como factor relevante em tal processo de adaptação (Seco et al., 2005). É ainda importante que as universidades criem serviços que proporcionem apoio tanto a nível pessoal como a nível académico, contribuindo para a adaptação e o sucesso dos estudantes.

De forma geral, a resposta das universidades a estas problemáticas, não tem vindo a centrar-se directamente nas necessidades dos estudantes, mas antes numa perspectiva remediativa que passa essencialmente por uma intervenção ao nível das disciplinas e estratégias de aconselhamento psicológico (Pereira, 2005).

Em Portugal tem vindo a ser cada vez mais evidente a preocupação com questões relativas à prestação de apoios de âmbito psicológico e pedagógico aos estudantes do Ensino Superior (Almeida, 1998).

A intervenção psicopedagógica analisa os factores que favorecem, intervêm ou prejudicam a aprendizagem numa dada instituição de ensino , propondo e ajudando no desenvolvimento de projectos favoráveis a ocorrência de mudanças (Oliveira, 2003). A intervenção dos serviços de psicologia no Ensino Superior procura melhorar a qualidade educativa (Maher & Zins, 1987, cit. por Gómez-Castro & Ortega, 1991), mas também criar condições facilitadoras do desenvolvimento da carreira dos estudantes (Guimarães, Ramos, Freire, Alves, Simões & Carvalho, 2002). As intervenções na carreira revelam-se bastante importantes pois produzem resultados mais elevados em medidas de critério como são as medidas de maturidade vocacional, contribuem para o desenvolvimento de competências específicas como a procura e obtenção de emprego e ajudam os estudantes a fazer melhores escolhas de carreira (Loureiro & Taveira, 2006). Muitos estudos que avaliaram as necessidades dos estudantes do

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Ensino Superior demonstraram ainda que os mesmos identificam como predominantes as questões relativas ao desenvolvimento da carreira em comparação com as necessidades quer académicas quer pessoais (Herr & Cramer, 1996).

A intervenção psicológica num contexto educacional integra assim uma constelação alargada de acções: as destinadas a responder a queixas de sujeitos individuais e que são remediativas face a problemas já existentes, as preventivas e promocionais que se destinam a desenvolver competências de vida e de relação interpessoal que sejam estimulantes de um desenvolvimento harmonioso e conducentes a um maior bem-estar do sujeito (Silva & Marujo, 2005; cit. por Moreira, 2007a). No sentido de promover apoio psicológico e educacional aos jovens universitários, os serviços podem assim desenvolver-se segundo três tipos fundamentais: a) serviços remediativos, que tem por objectivo ajudar o aluno a ultrapassar problemas pessoais e educacionais, sob a forma de psicoterapia ou apoio terapêutico; b) serviços preventivos, que tem o objectivo de identificar competências de que o aluno poderá necessitar e o fornecimento de instrumentos para a sua aquisição; e c) serviços desenvolvimentais, que têm como objectivo ajudar o aluno a promover o seu funcionamento e potencial crescimento (Gonçalves & Cruz, 1988, cit. por Moreira, 2007a). Para tudo isto, as estratégias adoptadas poderão ser directas, quando a intervenção se efectua sobre o próprio aluno (alvo), ou indirectas, nos casos em que o psicólogo actua através de outros elementos (alunos, professores, funcionários, etc) que, por sua vez, têm algum tipo de contacto directo com o aluno (alvo) (Barreto, 2005; cit. por Moreira, 2007a).

Relativamente à intervenção psicopedagógica em contextos educativos, Ferreira (2002), refere que esta deve ser realizada com apoio em aspectos teóricos/práticos e adaptada as condições da instituição onde a acção vai ser desenvolvida.

Segundo a mesma autora, para a realização desta intervenção é necessário considerar vários aspectos:

1 - A intervenção psicopedagógica em contextos educativos deve ser considerada como um recurso do sistema educativo, portanto, de todos os alunos e professores e não somente daqueles que possuem determinadas características;

2 - É uma intervenção que requer uma definição coerente com àquilo que a própria tarefa representa como recurso para a instituição e precisa de análise e reflexão constantes, como meio para atingir objectivos;

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3 - É uma intervenção que, apesar de considerar os aspectos que não funcionam adequadamente, investiga as características positivas da situação em que se encontram os alunos e os professores, para a partir delas, poder modificar o que aparece como inadequado;

4 - Trata-se de uma intervenção mais global, não necessariamente centrada no indivíduo, este é tido em consideração, mas ao mesmo tempo em que são considerados os demais elementos do sistema com os quais interage.

5 - É uma intervenção que não se esgota com a demanda concreta,mas que fica ligada ao contexto específico (sala de aula, instituição) e ao contexto mais alargado (família-comunidade) e que se apóia na rede de serviços e recursos que a comunidade dispõe;

6 - A maior parte das tarefas psicopedagógicas devem ser realizadas em equipa (membros do órgão gestor, orientador pedagógico, professores e outros). O trabalho em equipa nem sempre é fácil, mas as decisões devem ser tomadas em conjunto, para que todos assumam responsabilidades.

Estas intervenções visam proporcionar um apoio adequado, a nível pessoal e académico, que assegurem uma passagem positiva pelo Ensino Superior que se traduzirá naturalmente no sucesso escolar dos jovens.

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Parte II Estudo empírico

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