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Capítulo V – Terapia Cognitivo-Comportamental com Famílias

5.5 Intervenções Cognitivas em terapia familiar

O processo de reestruturação cognitiva tem o objetivo de colaborar para que os membros da família examinem se as cognições que trazem sobre aspectos da interação familiar são adaptativos ou válidos. As pessoas geralmente não questionam a validade de seus pensamentos, por essa razão, o terapeuta deve procurar aumentar a sensibilidade de cada pessoa da família, de modo a observarem suas próprias cognições. Faz-se necessário ainda,

que o terapeuta ajude cada membro da família a ser um avaliador sistemático e objetivo das cognições que estabelecem, ampliando habilidades que permitam reconhecer a sua adequação e validade (Epstein & Schlesinger, 1999, 2006).

5.5.1 Formando Habilidades Cognitivas de Automonitoração

Uma estratégia comumente usada na reestruturação cognitiva de famílias estressadas é aumentar a atenção destes para as suas próprias cognições. Pode-se ensinar como as cognições podem influenciar as emoções e condutas de uma pessoa. O terapeuta pode descrever um exemplo de mediação cognitiva e modelos reais de como as interpretações dos acontecimentos podem influenciar as respostas dos indivíduos aos fatos da vida. O conceito de “distorção cognitiva” deve ser inserido de maneira gradativa, a fim de diminuir a defensividade por parte dos membros da família. Pessoas de relacionamentos distorcidos costumam apontar exclusivamente seus parceiros como causadores da relação-problema e caso o terapeuta sugira que o problema está em parte nos seus próprios processos de pensamento podem se tornar defensivos. Em alguns casos, uma boa maneira para que o terapeuta consiga demonstrar a subjetividade e a pessoalidade das cognições é demonstrando sua operação com exemplos concretos da experiência diária dos pacientes (Epstein & Schlesinger, 1999, 2006; Dattilio 2006a, 2010).

Essa socialização com os outros membros da família é também empregada na terapia cognitiva com pacientes individuais. O comparecimento de outras pessoas da família em sessões conjuntas possibilita tanto o benefício de fontes externas de dados referentes à cognição de um sujeito, quanto o risco de que as respostas de outros membros possam oferecer defesa ao indivíduo que está sendo avaliado (Epstein & Schlesinger, 1999, 2006; Dattilio 2006a, 2010).

Assim, os terapeutas familiares cognitivo-comportamentais ensinam aos membros da família que não é suficiente apenas considerar a sua conduta como sendo um resultado direto da conduta de outros membros da família, ao contrário, é mais eficaz observar como seu próprio comportamento gera determinado retorno de outros membros, explicando também que as interações entre os membros da família quando negativas tornam-se circulares. Sendo assim, os membros de famílias em conflito geralmente acusam uns aos outros pelos problemas, cabendo ao terapeuta enfocar a causalidade circular para enfraquecer as possibilidades de defesa (Epstein & Schlesinger, 1999, 2006; Dattilio 2006a, 2010).

5.5.2. Alterando as Percepções Seletivas

Comumente, nas sessões de terapia, percebe-se que alguns membros da família apresentam percepções distintas sobre acontecimentos passados e sobre fatos recentes. O terapeuta pode enfatizar que é natural ocorrer percepções diversas sobre o mesmo fato, pois as pessoas podem observar aspectos diferentes de uma interação complexa, contudo, deve ressaltar a importância de que cada membro da família evite pressupor que observou a totalidade. Epstein e Schlesinger (1999, 2006) ressaltam que quando um terapeuta consegue filmar uma sessão de terapia, é possível primeiro perguntar a cada membro da família sobre suas lembranças de uma interação recente, e então colocar o filme novamente para examinarem a precisão e amplitude das percepções.

Desta forma, os membros da família podem ser sensibilizados para a percepção seletiva por meio de comparações das percepções que os demais integrantes registraram dos mesmos fatos. Por exemplo, é comum que os membros da família registrem diferentes percepções de quem iniciou a discussão, sendo que cada pessoa comumente percebe um

processo linear causal no qual suas condutas negativas foram eliciadas pela conduta negativa de outra pessoa (Epstein & Schlesinger, 1999, 2006).

5.5.3. Modificando Atribuições Inadequadas

Além da automonitoração e da alteração de percepções seletivas, outras habilidades podem ser aprendidas pelos membros da família com o intuito de testarem a adequação das conclusões causais que elaboram sobre fatos familiares.

Por meio do questionamento socrático, um terapeuta conduz os indivíduos da família por uma análise lógica das atribuições que fazem, questionando-os sobre a lógica de se pensar que um evento ocorreu realmente devido àquelas inferências. Essa tarefa envolve ensinar aos membros da família a buscar explicações alternativas ou atribuições mais plausíveis para um acontecimento. Isso é importante, pois embora a atribuição de um indivíduo possa ser precisa, é necessário avaliar outras probabilidades a fim de se evitarem inferências falsas, que provoquem conflitos e interações comportamentais negativas (Epstein & Schlesinger, 1999, 2006; Dattilio, 2006a, 2010).

Numa sessão, se um componente da família atribui o comportamento negativo de outro a causas negativas, este último indivíduo emite sua opinião sobre a causa real do comportamento, de modo que o feedback entre os familiares, ao fornecer explicações alternativas para as condutas observadas, aumenta a perspectiva de cada um e resulta em atribuições e trocas mais positivas (Epstein & Schlesinger, 1999, 2006; Dattilio, 2006a, 2010).

Desse modo, na sessão de terapia, ao se questionar as atribuições, na busca por uma avaliação ampliada e mais objetiva, pode-se chegar a conclusões mais precisas sobre a influência de cada aspecto envolvido na situação. Os integrantes da família podem vir a

perceber que a culpa ou a responsabilidade pelas adversidades não estão necessariamente conectadas a deficiências pessoais das pessoas envolvidas. O objetivo, ao se questionar atribuições não é absolver o responsável, mas definir a multiplicidade de fatores que contribuem para o evento perturbador (Shinohara, 2004).

5.5.4. Modificando Expectativas Inadequadas

Para a modificação de expectativas negativas ou inadequadas, a reestruturação cognitiva é similar àquela realizada em relação às atribuições negativas. Nesse sentido, para se fazer uma análise lógica de uma expectativa é preciso levar os membros da família a avaliar se faz sentido, ou mesmo se é realmente provável, que os demais membros reajam como se espera quando o algum deles se comporta de certa maneira, procurando identificar outros resultados prováveis. Além disso, pode-se avaliar a legitimidade de uma expectativa a partir da lembrança que os membros da família têm de decorrências passadas e atuais em situações semelhantes. Em outras palavras, muitas vezes é pertinente questionar os indivíduos envolvidos com relação a se a expectativa que têm já se concretizou alguma vez, ou mesmo se a sua freqüência é suficientemente alta a ponto de poder considerá-la como uma certeza (Epstein & Schlesinger, 1999, 2006; Dattilio, 2006a, 2010).

5.5.5. Modificando Suposições e Padrões Irreais ou Inadequados

Na reestruturação cognitiva, muitos métodos utilizados para examinar e modificar percepções, atribuições e expectativas também podem ser aplicados a suposições e padrões. Desta maneira, pode-se incluir a análise lógica, o exame de suposições e padrões alternativos que sejam mais adaptativos, levando em consideração a situação presente da família, e a

verificação de experiências que são ou não coerentes com as suposições e padrões (Epstein & Schlesinger, 1999, 2006; Dattilio, 2006a, 2010).